Cláudia Guimarães, da redação
claudia@ciasullieditores.com.br
Amor, carinho, proteção e cuidado. Essas e muitas palavras abraçam o ato de cuidar de outro ser que consideramos importante. Com o Dia das Mães chegando, acho que vale uma pausa para refletirmos: será que o vínculo que uma mãe tem com um filho (humano) pode ser o mesmo que por um pet?
A médica-veterinária, sócia e diretora Clínica do Hospital Veterinário Árbol (São Bernardo do Campo-SP), Débora Ayres Silva, lembra que, ao longo dos anos, de forma ainda mais evidente nos últimos três anos, devido à pandemia, os pets se tornaram parte das famílias. “Animais, em sua maioria, são seres que têm funções fisiológicas bem definidas, comem e têm necessidades básicas. Se treinados ou se bem recompensados, aprendem com facilidade a exercer diversas atividades e é isso o que fez com que, há muitos anos, fossem domesticados”, recorda.
Sobretudo, animais, principalmente cães e gatos, segundo a profissional, criam vínculos, demonstram afeto, protegem, cuidam, e, por isso, foram ocupando espaços nas mais diferentes famílias. “Para alguns, são filhos, como se fossem da mesma espécie; para outros, são pets, não ocupam lugar de filhos, mas têm um lugar especial dentro das famílias”, descreve.
Portanto, na visão de Débora, não importa se as mulheres se consideram mães ou simplesmente tutoras, o mais importante é oferecerem aquilo que o animal necessita, somado a afeto e carinho. “A humanização não deve estar diretamente relacionada ao animal, aliás, humanizar o pet não faz bem a ele e nem ao tutor, pois muda características importantes do próprio animal, por exemplo, os hábitos alimentares. A humanização está relacionada às relações e sobre como entender pela ótica humana o que o animal sente, o que ele precisa, o que seria feito caso ele fosse uma criança, por exemplo. Assim, elevamos os padrões de cuidado com o animal, sem desrespeitar sua natureza”, destaca.
Decisão que cabe à mulher
Hoje, é comum vermos mulheres – e casais – que decidem não ter filhos e, no lugar de crianças, adotam um ou mais pets. Sobre isso, a veterinária comenta que há aquelas que, na decisão ou, até mesmo, na incapacidade de ter filhos, decidem por dedicar-se de forma maternal a um animal. “Por outro lado, há aquelas que, em situação similar, decidem por ter um animal sem considerá-lo um filho ou, ainda, aquelas que não terão animais. O importante é sempre respeitar as decisões das mulheres, sejam elas quais forem”, salienta.
Quando questionada se essa ligação tão forte pode trazer consequências negativas aos pets, Débora afirma que o vínculo não é um problema e, em grande parte, ajuda a melhorar os cuidados ao animal, pois, como a antiga máxima já diz, “quem ama, cuida”. “Porém, alguns excessos devem ser desaconselhados e corrigidos: o excesso de humanização, a dependência emocional, o excesso de cuidado (que, em sua maioria, gera desconforto por parte do tutor em confiar em médicos-veterinários ou outros profissionais que venham a cuidar do animal), entre outros”, elenca.
A veterinária dá um exemplo de que o quanto uma humanização do animal pode causar dano: os banhos excessivos. “Seres humanos deveriam tomar banho todos os dias ou em uma frequência maior do que os pets, enquanto os cães devem tomar banho a cada 15 dias. O excesso de banhos pode trazer consequências desfavoráveis à pele, pelos e à imunidade dos animais”, indica.
Outro ponto importante mencionado pela profissional é que esse vínculo, quando excessivo, pode gerar, para o ser humano, consequências emocionais importantes, pois, um animal vive menos tempo e, por uma ordem natural da vida, partirá antes de seu tutor, o que deve ser pensado sempre que uma pessoa decide ter um pet.
Pontos positivos de ser “mãe” de pet
Por outro lado, o vínculo maternal de tutoras mães de pets gera um cuidado especial, na visão de Débora, pois aquelas que entendem que são mães de animais, ou seja, de seres de outra espécie e que respeitam suas particularidades, com certeza, trarão benefícios a esse animal, como atenção, carinho e zelo por ele. “Essas ‘mães’ fazem tudo o que for necessário para garantir saúde e bem-estar, assim como uma mãe humana faria a seu filho humano”, assegura.
Por fim, a médica-veterinária destaca que, neste Dia das Mães, é importante respeitar pontos de vista: “A eterna ‘disputa’ entre mãe de pet x mãe de humanos, não faz sentido, pois uma não anula a outra. Ser mãe de um ser humano é um momento muito especial (falo isso estando no 5° mês da gestação do meu Matheus), pois é um nascimento, uma mãe sempre nascerá junto com um filho. Porém, escolher dedicar-se a um ser e tratá-lo, realmente, como um filho, respeitando sua natureza, mas oferecendo tudo o que ele necessita para sua vida, também é uma tarefa nobre e tem seu mérito. Por isso, nessa data, que todas recebam todo amor do mundo, seja mãe de pet ou mãe de gente”, finaliza.