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Clínica e Nutrição

OFTALMOLOGIA VETERINÁRIA AJUDA A DESVENDAR DIVERSAS DOENÇAS EM CÃES E GATOS

OFTALMOLOGIA VETERINÁRIA AJUDA A DESVENDAR DIVERSAS DOENÇAS EM CÃES E GATOS Olhos vermelhos podem ser o primeiro sinal de doença sistêmica grave
Por Equipe Cães&Gatos
Por Equipe Cães&Gatos

Olhos vermelhos podem ser o primeiro sinal de doença sistêmica grave

Cláudia Guimarães, da redação

claudia@ciasullieditores.com.br

Já se sabe que algumas enfermidades se apresentam de maneiras diferentes nos animais de companhia. Alguns sintomas manifestados por alguns pacientes não são expostos por outros. Mas, existe uma condição que merece atenção do tutor e do veterinário e que, muitas vezes, indicam problemas oculares: olhos vermelhos.

Este tipo de problema pode englobar doenças na órbita, na superfície ocular e/ou intraoculares e, de acordo com a médica-veterinária Verena Voget, que atua no Serviço de Oftalmologia do Provet e Patologia Ocular, do Centro Veterinário de Anatomia Patológica, (CVAP, São Paulo/SP), há duas formas práticas de classificar as causas das doenças oculares: de acordo ou com sua abrangência, ou com sua etiologia (origem).

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As causas das doenças oculares podem ser locaisou sistêmicas e um dos principais sintomasé o olho vermelho (Foto: reprodução)

Ela explica que, de acordo com a abrangência, as causas das doenças oculares podem ser locais ou sistêmicas. “Por exemplo, um cão tem uma uveíte, uma inflamação intraocular. Essa uveíte poderia ser causada por uma catarata, que é uma doença com abrangência restrita ao olho e, portanto, uma causa local. Outra possibilidade seria uma uveíte secundária a um linfoma multicêntrico. Neste caso, a causa da uveíte seria uma neoplasia com repercussões em diferentes órgãos e, portanto, uma causa sistêmica”, discorre.

Ainda segundo a médica-veterinária, a etiologia da doença está relacionada à sua origem: “No processo de identificação da etiologia de doenças é comum partir do famoso acrônimo na língua inglesa, “Damn it”, ou da sua versão em português, “Vitamin D”. Ambos facilitam a formulação de uma lista de possíveis origens de qualquer doença, sendo (V) vascular; (I) infecciosa, inflamatória ou imunomediada; (T) tóxica ou traumática; (A) alérgica; (M) metabólica; (I) iatrogênica ou idiopática; (N) neoplásica ou nutricional; (D) degenerativa ou do desenvolvimento.

“Uma conjuntivite em um gato, por exemplo, poderia ter várias etiologias. A causa da conjuntivite poderia, eventualmente, ter origem em uma clamidiose, ou seja, em uma causa infecciosa. Outra possível etiologia para essa conjuntivite poderia ser neoplásica, como um carcinoma de células escamosas conjuntival”, exemplifica.

Terapêutica. O tratamento de cada doença ocular varia conforme sua abrangência e sua etiologia. “Um cão pode ter uveíte por várias causas. Dois exemplos possíveis seriam: devido à catarata ou como consequência de um linfoma multicêntrico. Assim, no primeiro caso, o tratamento da uveíte seria anti-inflamatório tópico e/ou sistêmico e, dependendo do prognóstico visual, cirurgia para remoção da catarata. Já no segundo quadro, o tratamento deveria ser a quimioterapia associada a anti-inflamatórios, tanto tópico, quanto sistêmico”, indica.

Já a conjuntivite em gatos também pode ter diversos motivos e, conforme explicado pela veterinária, considerando duas causas possíveis, a doença poderia ocorrer devido à clamidiose ou a um carcinoma de células escamosas conjuntival: “O tratamento da conjuntivite por clamidiose seria doxiciclina via oral, com associação ou não do tratamento tópico; e o tratamento da doença associada à neoplasia poderia ser eletroquimioterapia, quimioterapia ou cirurgia”, cita.

Há prevenção? É muito difícil evitar completamente que cães e gatos desenvolvam doenças oculares, como mencionado por Verena, mas é possível, sim, prevenir que problemas oftálmicos se tornem uma ameaça grave à visão e à saúde do paciente se forem reconhecidos e tratados rapidamente. “Por isso, é importante que o veterinário generalista inclua a inspeção dos olhos dos seus pacientes nos check-ups. A maioria das doenças da órbita, superfície ocular e intraoculares se manifesta como ‘olho vermelho’”, destaca.

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Dra. Verena Voget examina um paciente, com alâmpada de fenda, no Serviço de OftalmologiaVeterinária do Provet (Foto: divulgação)

Sendo assim, caso o paciente apresente esse sintoma, deve ser prontamente encaminhado para um exame oftálmico minucioso com equipamentos específicos, como reforça a especialista: “O profissional que atua na área de Oftalmologia é capaz de diagnosticar a doença ocular. Caso a doença tenha causa sistêmica, a doença base deve ser tratada em uma parceria envolvendo o oftalmologista, o generalista e, potencialmente, outros especialistas”, inclui.

Predisposição. Quando questionada se há raças de cães e gatos mais susceptíveis às doenças oculares, Verena diz que, no caso de doenças da superfície ocular, os braquicefálicos, por apresentarem maior exposição da superfície ocular, têm maior predisposição ao olho seco. “Para doenças intraoculares, como o glaucoma, há raças de cães, como Basset Hound e Cocker Spaniel Americano, que são mais predispostas. Nessas raças, há maior chance de ocorrer má formação das estruturas responsáveis pela drenagem do humor aquoso”, aponta.

A veterinária ainda revela que, dependendo do caso, tanto enfermidades intraoculares, quanto na órbita e, também, na superfície ocular podem causar cegueira. “Por exemplo, se um cão tivesse doença orbitária com acometimento do nervo óptico, ou se apresentasse doença na superfície ocular com perda da transparência da córnea, ou, ainda, se houvesse uma doença intraocular com descolamento de retina, perderia a visão em qualquer uma dessas três situações”.

Relato de caso. Certo dia, a profissional atendeu um labrador macho castrado de 14 anos de idade e olho vermelho, encaminhado por um clínico geral após suspeita de úlcera de córnea. “De fato, havia uma pequena úlcera corneana, mas, além disso, o exame de fundo de olho revelou hemorragia de retina. O tratamento da úlcera foi iniciado e, no mesmo dia, o paciente foi submetido a exames complementares para a investigação da causa da hemorragia retiniana”, lembra.

O hemograma revelou uma marcante leucocitose sem desvio à esquerda e uma anemia, como narra Verena: “Posteriormente, o cão foi submetido a um mielograma e recebeu o diagnóstico de leucemia linfocítica crônica e, depois disso, passou a receber tratamento quimioterápico. Esse caso ilustra bem como oftalmologista e clínico geral podem trabalhar juntos em prol da saúde e bem-estar dos pacientes”, atesta.

Presença de sangue. As hemorragias oculares, segundo Verena, podem ser decorrentes de doenças intraoculares, como a catarata; enfermidades infecciosas, como a erlichiose; hipertensão arterial sistêmica; coagulopatias; neoplasias; má formações congênitas oculares; trauma; imunomediada; idiopática. “O tratamento da hemorragia consiste no controle da doença base, associado ao uso de corticoides sistêmicos ou tópicos, dependendo da sua causa e localização e, obviamente, respeitando as situações em que é contraindicado”, aconselha.

Como dito pela profissional, as hemorragias se manifestam principalmente como: sufusão (hemorragia subconjuntival), hifema (hemorragia na câmara anterior) ou hemorragia na retina. “Todas essas manifestações podem ser facilmente identificadas por um veterinário que atua na área de Oftalmologia Veterinária por meio de exames específicos”, pontua.

Para a especialista, um passo importante para que a Medicina Veterinária possa ajudar mais os pacientes é melhorar a capacidade dos veterinários em fechar mais diagnósticos: “Para isso, creio que duas iniciativas são chave: abordagem do paciente por profissionais de diferentes formações e especialidades quando a doença envolve múltiplos sistemas (ex. oncologistas, oftalmologistas, generalistas); e exames específicos (ex. histopatológicos, imagem) realizados por equipes também multidisciplinares”, conclui.