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Orgulho LGBTQIA+: Veterinário destaca experiências positivas dentro e fora da profissão

Por Equipe Cães&Gatos
LGBTQIA+
Por Equipe Cães&Gatos

Cláudia Guimarães, da redação

claudia@ciasullieditores.com.br

“No mês do orgulho e em celebração à comunidade LGBTQIA+, tomo a liberdade de não falar sobre as dificuldades e dores, mas sobre as delícias e amores que vivi e vivo sendo a pessoa que sou”. Essa frase é o reflexo de uma pessoa que se ama, acima de tudo, e que dá mais importância às coisas boas da vida do que às adversidades que ela nos impõe. O autor dessa citação é o médico-veterinário clínico geral e canabinologista de cães e gatos, Vitor Maia Cruz.

Cruz compartilha que, quando percebeu que tanto homens quanto mulheres o atraíam, ele ainda estava na adolescência e, apesar dessa percepção, ele apenas conseguia notar o interesse de meninas. “Então, até me tornar adulto, eu só me relacionei com garotas. Na família, minha irmã e primas sabiam sobre minha sexualidade e isso me possibilitava achar galãs de novela atraentes e ter com quem compartilhar em casa, brincar de brigar por atores de novela ou de filmes, ter quem acobertasse as saídas para dar beijos nas esquinas menos movimentadas do bairro, esse tipo de coisa”, relembra.

Essa conscientização e apoio acompanha Vitor Cruz desde então e um episódio que o veterinário cita é de um movimento anti excludente. “Fui convidado para dar uma palestra e cheguei ao local trajando saia e blusa. A amiga que me recebia abriu o evento convocando as pessoas ao vocabulário não binário. Acredito que minha vestimenta/performance tenha estimulado esse movimento e, por crer que é esse o tipo de mensagem que minha presença deve levar, tenho adorado contar essa história”, afirma.

A escolha pela Medicina Veterinária

O profissional lembrou recentemente que, quando ainda era muito criança, por volta dos cinco anos de idade, cometeu uma maldade com um gato. “Eu segurei ele pelo rabo e ele me arranhou. Era o pet do meu vizinho e ele conversou com minha mãe, que conversou comigo sobre como aquilo que eu fiz havia sido completamente errado. Acho que foi naquele momento que a semente mais importante foi plantada em mim, porque, durante muito tempo, sempre disse que eu queria ser veterinário sem saber direito o porquê”, relaciona.

No entanto, antes de entrar para a graduação de Medicina Veterinária, Cruz conta que morria de medo de não ser inteligente o suficiente para ingressar ou concluir o curso. “Eu já havia sido aprovado em uma instituição privada, mas, por falta de recurso financeiro, minha única opção passou a ser cursar a faculdade numa universidade pública. Eu tinha apenas a referência de uma amiga da família que estava se graduando por uma federal na época e ela é incrivelmente inteligente. Como eu a admiro muito, pensava que estava muito aquém do ‘nível’ de conhecimento dela, que já estava lá. Então, acho que, já por um vestígio da minha ansiedade florescendo naquela época, minha maior insegurança era não ser inteligente o suficiente, como um bom capricorniano”, brinca. 

“Passamos longas jornadas de trabalho nas diversas áreas de nossa profissão e, enquanto estamos executando nosso serviço, não deixamos de carregar quem somos” (Foto: reprodução)

A percepção da própria sexualidade

Para Vitor, o entendimento de sua sexualidade passa pelas experiências e pelo conhecimento que possui. “Bissexual ou pansexual explicam duas possibilidades de experienciar a sexualidade que já não me cabem mais. Antes, entendendo o mundo dentro de um conceito de gêneros binários trans inclusivos ou não, é possível validar a pansexualidade como uma forma de adequação política da inclusão dos corpos, que a bissexualidade não compreendia, como pessoas intersexo ou agênero. Acredito que, mesmo essa inclusão ainda seja limitante dos corpos que cabem à minha possibilidade de me relacionar, porque, hoje, compreendo que é um conjunto do outro que me atrai o suficiente para eu só querer satisfazer meus desejos ou estabelecer vínculos sejam eles quais forem. Por isso, a pansexualidade me cabe se o entendimento do outro alcança esses limites do que é gênero, mas a indefinição é, provavelmente, a minha melhor definição de sexualidade neste momento”, explica.

O médico-veterinário, que atua no atendimento domiciliar de cães e gatos, especializado de gatos e canabinologia de cães e gatos, se recorda que, certa vez, logo no início de sua carreira, fez um atendimento domiciliar e, sustentando uma postura muito profissional, mas muito masculina, realizou o atendimento de uma gata. “Fui recebido por um casal de senhoras maravilhosas que, durante o atendimento, perceberam meu empenho em sustentar aquela postura. À medida em que o atendimento acontecia, aos poucos, elas foram soltando, de forma bastante convidativa, pistas e anúncios que me diziam: ‘larga essa pinta, a gente também é do vale’. Foi maravilhoso quando a ficha caiu e mais maravilhoso ainda quando elas perceberam que a sementinha havia sido plantada ali também. Hoje, carrego comigo que o meu trabalho não depende de como me visto, mas, sim, do que sai de dentro da minha cabeça, do que executo com meu corpo”, argumenta.

Mas, como nem todas as pessoas – infelizmente –  pensam e agem dessa forma, Cruz comenta que em uma situação de preconceito contra o veterinário por parte de um cliente, é importante saber, antes de qualquer coisa, que tipo de preconceito o profissional está diante. “Hoje, é possível criminalizar o indivíduo que conduz um comportamento violento frente a pessoas LGBTQIA+. Esse veterinário LGBTQIA+ possui toda uma complexidade de recortes que irá compor o peso dessas situações como qualquer indivíduo. Então, reagir ou não depende completamente da segurança de cada um frente à situação, mas se assegurar dos seus direitos e de como acioná-los pode ajudar na tomada de decisão”, pondera.

Veterinário LGBTQIA+ deve se assegurar dos seus direitos e de como acioná-los em casos de clientes preconceituosos (Foto: reprodução)

Por outro lado, Vitor conta que o orgulho LGBTQIA+ tem sido cada vez mais presente na Veterinária. “É extremamente importante normalizarmos nossas vivências dentro do âmbito profissional, pois nós não nos dissociamos como pessoas e como profissionais. Passamos longas jornadas de trabalho nas diversas áreas de nossa profissão e, enquanto estamos executando nosso serviço, não deixamos de carregar quem somos, as conquistas que tivemos, os sonhos que realizamos e o dia a dia que vivemos. Por isso, ter essa possibilidade de se expressar e ser acolhido profissionalmente, expressando quem você é, é um avanço profissional importante. Hoje, é possível ver o orgulho na logo de diversos grupos veterinários pelo instagram e Conselhos Regionais que se importam com o assunto, além de profissionais que se sentem, talvez, um pouco mais realizados”, observa.

Aos veterinários LGBTQIA+ que enfrentam alguma dificuldade no trabalho por conta de sua sexualidade, o primeiro conselho de Vitor é buscar uma rede de apoio segura. “A dificuldade no trabalho por conta de sua sexualidade sempre poderá ser traduzida em assédio moral, sexual, verbal, enfim, buscando ajuda jurídica é possível saber quais provas você deve reunir diante dessa situação para iniciar um processo legal, quando você se sentir seguro o suficiente para deixar esse ambiente, claro. O trabalho é um produto do esforço desse profissional e sua sexualidade não deveria gerar dificuldade. O tribunal trabalhista sempre pode ser acionado quando há conflito quanto à execução de seu trabalho”, recomenda.

Por fim, o veterinário lembra que o mês do orgulho LGBTQIA+ vem tentando construir, há muito tempo, a narrativa de vitórias e celebrações. “As pesquisas recentes do mercado vêm trazendo dados de como a inclusão e diversidade geram rendimento e produção, valorizando, inclusive, o contexto capitalista da coisa toda e, mesmo assim, ainda é presente a ideia de que a exposição das dores é a melhor forma de comoção, quando não é. Expor dores sem medidas de correção é apenas exposição, além disso, o engajamento gerado é vazio, pois o apoio acontece em uma situação que já ocorreu, que pode até acontecer novamente em outros corpos – e vai -; que pode trazer visibilidade, mas é pouco provável que levará à mobilização. Isso porque essa repetitividade produz normalidade e, para nós, é mais importante normalizar os amores e afetos”, finaliza.