Cláudia Guimarães, da redação
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Que cães e gatos são os pets mais procurados e queridinhos aqui no Brasil não é segredo. Mas, segundo o Censo Pet realizado pelo Instituto Pet Brasil (IPB), por aqui, há 2,5 milhões de pets exóticos, entre pequenos répteis e mamíferos. Não é um número exorbitante se comparado à quantidade total de animais de estimação no País, que é de 149,6 milhões, mas é um total considerável.
O médico-veterinário e professor Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio (Ceunsp, Salto-SP), que atende animais silvestres e exóticos, Enore Augusto Massoni, lembra que, quando pensamos em pets exóticos, temos que lembrar que são aqueles que não são pertencentes ao nosso território nacional. “Então, temos muitas espécies mantidas como pet: calopsitas, coelhos e porquinhos da índia são as mais comuns, não deixando de lado algumas espécies de répteis, como as lagartixas leopardo (leopard gecko) e dragões barbados (pogonas), além de outros mamíferos como os hamsters e esquilos da mongólia. Mas a lista pode ser muito maior com a criação de criadouros legalizados, como várias espécies de aves exóticas e até alguns tipos de anfíbios”, menciona.
De acordo com o profissional, na Medicina Veterinária, é muito comum tentar generalizar as espécies para simplificar, o que, em sua visão, não é nada certo. “Os gatos já passaram por isso. Por muito tempo, foram tratados como um tipo de ‘cachorro pequeno’, mas, com o avanço da Medicina Felina, sabemos que são espécies peculiares. Com os exóticos não é diferente e digo mais: cada espécie é única e deve receber atenção e dedicação por parte do veterinário para ser atendida com o respeito que merece”, defende.
Manejo em casa
Mas, como todos sabemos, não apenas o atendimento dos veterinários é importante para a saúde e bem-estar dos pets, como, também, o cuidado dos tutores em casa. Enore revela que, entre os principais erros de manejo dos cuidadores com seus animais estão relacionados, especialmente, com a alimentação.
“Grande parte dos problemas de animais exóticos é secundária à alimentação errada ou insuficiente. Distúrbios metabólicos, de desenvolvimento e até comportamentais estão relacionados ao manejo nutricional incorreto”, comenta. Mas, o profissional também afirma que muitos animais são alocados em recintos/terrários que não respeitam suas características biológicas. “Fator que pode desencadear inúmeros problemas de saúde”, adiciona.
Assim, o veterinário observa que 90% dos problemas de saúde de animais exóticos são relacionados a erros de manejo. “Consultando um veterinário especializado na área antes de adquirir um animal exótico, vai muito além da prevenção de problemas de saúde. Com informações adequadas, a família pode se preparar para a chegada do seu novo bichinho, tendo um local adequado para mantê-lo e o alimento ideal à disposição para alimentá-lo. Além de alinhar as expectativas dos tutores que, muitas vezes, podem estar esperando algo do pet que ele, infelizmente, não poderá atender. Posso citar como exemplo a interação tutor-animal dos répteis, que é restrita”, destaca.
Assim como com cães e gatos, os tutores de pets exóticos devem oferecer alimento de qualidade e procedência e água sempre fresca, além de manter o recinto sempre limpo e organizado. “As visitas ao veterinário também devem ser frequentes para check-ups. A principal diferença que os tutores irão encontrar entre um pet convencional e um exótico é com relação à interação e enriquecimento ambiental. Com animais exóticos, isso está mais relacionado com mudanças no ambiente e no manejo que simulem as condições de seu ambiente natural, para mantê-los sempre entretidos e evitar situações de estresse”, indica.
Como saber se há algo errado com o pet?
Mesmo que os tutores tomem todos os cuidados recomendados pelos veterinários, alguns problemas de saúde podem aparecer. Neste caso, Enore explica os sinais de quando há algo errado com a saúde e o bem-estar do animal. “As aves ficam mais quietas, diminuem a alimentação e tendem a parar de arrumar as penas, ficam com aspecto sujo e desarrumado. Os pequenos mamíferos também ficam mais prostrados, diminuem a alimentação, além de ficarem mais agressivos (relutantes ao toque do tutor). Também podemos observar os pelos mais eriçados e bagunçados”, descreve.
Ainda segundo o profissional, os répteis são os que menos demonstram. “Por serem mais introspectivos, o primeiro sinal que deve aparecer é a alteração no apetite e dificuldade para a troca de pele. Em todas as espécies, as fezes são um importante indicativo de saúde. É importante acompanhar sempre qualquer alteração demonstrada nelas: cor, aspecto, odor, quantidade etc.”, sinaliza.
Outro ponto importante de se atentar na biologia de cada espécie, segundo Enore, é que todo animal de clima quente merece uma atenção especial no inverno. “É necessário o fornecimento de uma fonte de calor para o animal se manter na faixa de conforto térmico. Posso citar os dragões barbados, por exemplo, onde o conforto térmico oscila entre 28 e 32 graus”, aponta.
Aos médicos-veterinários que atendem pets exóticos, Massoni aconselha a atualização constante. “Precisamos estar atentos às novas espécies disponíveis no mercado. Recentemente, vem crescendo a disposição de espécies legalizadas e cabe ao veterinário estudar e saber qual animal pode entrar pela porta do consultório ou, então, sobre qual animal seus clientes podem ter curiosidades. A Medicina Veterinária como um todo é uma ciência que se desenvolve constantemente, então, é responsabilidade do médico-veterinário que atua em qualquer área, principalmente a Medicina de Animais Exóticos, se manter atualizado e em constante aprendizado”, argumenta.
Como frisa Enore, não podemos deixar de falar que a maioria dos animais exóticos que chegam às clínicas diariamente é de origem ilegal. “Porém, é dever do veterinário não negar atendimento, independente de origem e espécie e, ainda, é nosso dever informar e orientar os tutores sobre esses pacientes ilegais”, considera.
Por fim, o profissional deixa um alerta aos tutores que possuem um pet convencional em casa e, também, um cão ou gato: “Por mais dóceis e condicionados que os pets estejam, o contato entre espécies deve ser evitado para não ocorrer nenhum tipo de acidente. Estamos lidando com animais e, muitas vezes, o instinto pode falar mais alto. Além de muitas bactérias e parasitas que podem ser comuns no organismo de um animal e que podem ser perigosos para outros”.