Proprietários, no entanto, devem se atentar à recorrente torção gástrica
Cláudia Guimarães, da redação
claudia@ciasullieditores.com.br
A Copa do Mundo começou, finalmente, juntamente com apostas e bolões que preveem os resultados dos jogos. Mas, que tal falar um pouco sobre as principais doenças que acometem os cães das seleções de destaque, para nós, brasileiros? A C&G VF inicia, hoje, uma série de reportagens para abordar enfermidades comumente diagnosticadas em raças dos países: Alemanha e Argentina, por fatos históricos junto ao Brasil; Rússia, por ser sede do campeonato; Suíça, Costa Rica e Sérvia, por enfrentarem o Brasil; e, claro, um cão para representar nosso País verde e amarelo.
O Brasil joga no próximo domingo (17) e escolhemos a raça Fila Brasileiro para explanar. O médico-veterinário, Victor Leão Hitzschky Madeira, revela que a problemática que mais acomete estes cães é a torção gástrica. “Ela tem como causa a excessiva ingestão de alimento e água, ocasionando uma dilatação do estômago e levando a uma torção desse órgão sobre si mesmo. Com isso, pode haver bloqueio parcial ou total da saída de alimentos do estômago, intensificando a fermentação e aprisionamento de gás e alimento em seu interior. Vale salientar que a ocorrência dessa patologia é comum em algumas linhas de sangue, o que sugere uma causa, também, genética”, destaca.
Segundo Madeira, a literatura mostra que a doença pode acometer cães de qualquer idade, mas sua ocorrência tende a crescer com o envelhecimento. “Na minha experiência, vejo, com frequência, esse problema em filhotes de dois a cinco meses e atribuo isso ao fato de que, nessa idade, os filhotes comem e bebem com muita voracidade, não mastigando os grãos adequadamente e ingerindo ar junto com o alimento”, expõe. Além disso, o veterinário menciona que os filhotes costumam correr, pular e brincar após a refeição. “Sabe-se que atividade física pós-prandial é uma das causas da torção gástrica”, adiciona.

Filhotes podem sofrer de torção gástrica, por comereme beberem com muita voracidade (Foto: reprodução)
Sintomas, prevenção e tratamento. A doença é comum em cães de grande porte como o Fila Brasileiro, mas o profissional também destaca o Dogue Alemão, Pastor Alemão, Irish Wofhound, São Bernardo e Mastin Napolitano como raças que são acometidas. “Os principais sinais são: aumento crescente do volume abdominal; ânsia de vômito não produtiva, ou seja, o animal tenta vomitar, mas não consegue expulsar o conteúdo estomacal; mucosa oral pálida; sialorreia, ou seja, produção excessiva de saliva; dispneia, que é a dificuldade de respirar; e náuseas”, elenca. Na presença desses sinais, a procura por um médico-veterinário deve ser imediata, segundo Madeira. “Isso porque se o cão que não for socorrido a tempo, pode morrer, em média, de 6 a 12 horas”, insere.
No entanto, o profissional menciona que há algumas formas de prevenção: deve-se evitar uma única refeição ao dia, já que o ideal é fracionar as refeições em duas a três vezes, de modo que o cão ingira menos alimento por refeição; evitar comedouros altos, porque isso pode favorecer a ocorrência de aerofagia; deixar água sempre disponível para que o cão não ingira grandes quantidades. “E, para aqueles que se alimentam com muita voracidade, existem, no mercado, comedouros com obstáculos, que obrigam o cão a comer mais lentamente. Também é importante evitar atividades físicas após as refeições”, frisa.
O tratamento inicial é baseado na descompressão do estômago, por meio de intubação orogástrica e, caso não seja possível realizar esse procedimento, recomenda-se a realização de descompressão com agulha e repetição da intubação orogástrica. O tratamento para o choque deve ser realizado junto à descompressão e monitoramento do paciente até sua completa estabilização.
Características da raça. Fugindo um pouco da enfermidade que atinge negativamente a raça, no padrão racial está escrito que os cães são, tipicamente, molossóide, conforme explica Madeira. “Isso significa poderosa ossatura, figura retangular e compacta, harmoniosa e proporcional. Esse cão apresenta, aliada a uma massa muscular, grande agilidade concentrada e facilmente perceptível. As fêmeas devem exibir feminilidade bem pronunciada, diferenciando-se, nitidamente, dos machos”, diz.
O Fila pesa, no mínimo, 50kg para os machos e 40kg para as fêmeas, com uma altura de cernelha variando de 65 a 75cm para os machos e 60 a 70cm para as fêmeas e ambos vivem entre nove a 11 anos. “São calmos, extremamente dóceis e carinhosos com seus donos, procurando estar sempre na companhia dos mesmos. Já com estranhos, as coisas mudam: o Fila tem aversão a pessoas desconhecidas e demonstram, para com elas, uma agressividade implacável, o que os tornam excelentes cães de guarda”, revela. Por ser um cão um pouco teimoso, Madeira aponta que é preciso ter pulso firme na sua educação e adestramento.
Médico-veterinário, Victor Leão Hitzschky Madeira, possui vasta experiência na raça Fila Brasileiro (Foto: divulgação)