Há 15 anos a médica-veterinária Julia Maria Matera, professora do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de São Paulo (FMVZ-USP, São Paulo/SP), começou a trabalhar com cadáveres em sala de aula. Na época, a prática ainda era incomum e pouco abordada.
Hoje, o Brasil já possui várias iniciativas que usam métodos substitutivos e Maria Julia, uma das pioneiras no uso de cadáveres em técnicas cirúrgicas, pode afirmar que sua atuação inspirou outras universidades a adotarem práticas similares.
Em setembro de 2015, a médica-veterinária recebeu um informativo do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV, Brasília/DF) e viu uma oportunidade de divulgar seu trabalho por meio do concurso da World Animal Protection, que contou com o apoio do CFMV. O objetivo da competição era selecionar as três propostas mais inovadoras enviadas por professores da América Latina que utilizam métodos substitutivos ao uso prejudicial de animais.
Foram recebidos mais de 40 projetos de diferentes países da América Latina e Julia Matera foi a vencedora do concurso, que teve seu resultado divulgado no dia 17 de dezembro. Em seu projeto, ela descreve o ensino e treinamento de diferentes técnicas cirúrgicas e seus respectivos tempos sem o uso de animais vivos. “Um dos tópicos que destaco é o uso de uma bomba que aumenta a pressão nos vasos do cadáver e ele sangra como um animal vivo”, afirmou Julia.
Segundo ela, o aprendizado dos alunos é ainda maior que com o uso de cadáveres. “É possível repetir o procedimento várias vezes, além de todos os alunos poderem praticar. É uma área em que é preciso desenvolver habilidades e isso só acontece com a execução”, acredita.
O terceiro lugar do concurso também foi para uma brasileira, a médica-veterinária Simone Tostes, professora de Semiologia Veterinária na Universidade Federal do Paraná (UFPR, Curitiba/PR). O projeto de Simone demonstra as técnicas usadas em suas aulas de Semiologia para ensinar e treinar a sondagem uretral em cadelas por meio de modelos artificiais.
Já o segundo lugar trouxe a experiência do médico-veterinário argentino Pablo Otero, professor de anestesiologia na Faculdade de Ciências Veterinárias da Universidade de Buenos Aires. Seu projeto mostra o desenvolvimento e a aplicação de um modelo que reproduz as vias aéreas para treinar a intubação endotraqueal e manobras de ventilação em cães.
As três propostas foram escolhidas seguindo critérios pré-estabelecidos, que levaram em conta a originalidade do método, a eficácia pedagógica, a possiblidade de replicação em outras escolas, o impacto na redução e/ou eliminação do uso prejudicial de animais no ensino da Medicina Veterinária, entre outros. O prêmio entregue aos vencedores foi um kit de materiais composto por manequins, modelos e simuladores, que visam colaborar para a continuidade do ensino e treinamento humanitário na instituição.
Segundo a gerente de programas veterinários da World Animal Protection, Rosângela Gebara, “o concurso foi importante para compilar as principais iniciativas de um ensino ético na América Latina, fazendo com que métodos criativos e inovadores sejam divulgados para outras escolas e professores que queiram ensinar de maneira humanitária e sem prejudicar nenhum animal”.
Fonte: CFMV, adaptado pela equipe Cães&Gatos VET FOOD.