A Medicina Veterinária já conta com as impressões tridimensionais (3D) como um recurso a seu favor. Com essa tecnologia, podem ser realizadas próteses em diferentes materiais, de acordo com individualidades e necessidades de animais que perderam bicos, dentes ou cascos, por exemplo.
Mais do que atender ao fator estético, trata-se de uma aliada para que médicos-veterinários consigam aumentar as chances de bem-estar de seus pacientes. O argumento é reforçado pelo médico-veterinário com forte atuação na área, que ministrou a palestra “Impressão 3D aplicada à Medicina Veterinária”, durante a 2ª Semana do Médico-Veterinário, promovida pelo CRMV-SP, Dr. Roberto Fecchio. “O objetivo é devolver funções importantes e, muitas vezes, inerentes ao comportamento da espécie”, enfatiza.
Bico de titânio. Exemplo disso foi o caso de uma arara que pertencia a um tutor ilegal e possuía deformações no bico que impossibilitavam independência alimentar e prejudicavam sua mobilidade. Depois de todo o estudo e digitalização da anatomia do animal, a ave recebeu uma prótese desenvolvida a partir da impressão 3D em titânio. O novo bico metálico permitiu que ela voltasse a se alimentar de forma autônoma e a se locomover utilizando o bico. “Foi a primeira ave a receber uma prótese de titânio no mundo”, frisa Fecchio.
Imagens em 3D oferecem a possibilidade de planejamentocirúrgico aos médicos-veterinários (Foto: reprodução)
Casco de fibra de milho. Uma jabuti, vítima de um incêndio, também foi beneficiada por essa tecnologia e virou notícia em emissoras de TV. O animal perdeu o casco e ficou com estruturas expostas e vulneráveis, o que acarretou diversas complicações de saúde. Depois de tratá-la, a equipe, integrada por Fecchio, viu a necessidade de encontrar uma solução para devolver o casco ao animal. Foi então que começaram um trabalho que resultou na reprodução do casco a partir da impressão 3D.
O material escolhido foi o PLA, um tipo de fibra biodegradável derivada do milho. Neste caso, para o acompanhamento e manutenção da saúde do animal, a prótese desenvolvida é composta por quatro partes que se encaixam, o que facilita a retirada para manutenção e limpeza do local.
A impressão das próteses que vêm da tecnologia 3D teve como ponto de partida um trabalho detalhado de digitalização das dimensões e formatos da parte do corpo dos animais que iria recebê-las. As imagens foram levadas ao computador para que fossem verificadas as medidas e características individuais.
Fecchio explica que essa etapa pode ser realizada com diferentes recursos. “As imagens podem ser obtidas por escaneamento em 3D, cujo aparelho tem custo elevado. Mas há opções mais baratas, como fazer fotografias em sequências 360 graus com um smartphone, ou, ainda, fotogrametria com softwares gratuitos”, menciona. Outro meio de obter as imagens é a ressonância magnética ou a tomografia computadorizada.
Segundo o veterinário, no Brasil o uso de impressão 3D na Medicina Veterinária ainda se dá no âmbito filantrópico e experimental, ou seja, ainda sem inserção comercial. “A diminuição dos custos, o uso de softwares gratuitos e a interdisciplinaridade nas equipes são fatores determinantes para que essa tecnologia seja de fato inserida na rotina clínica dos profissionais”, afirma Fecchio, que ainda cita a ausência de tecnologia aplicada no ensino da Medicina Veterinária.
Ele lembra que se trata de um recurso que pode atender diferentes campos da profissão. Além dos casos dos silvestres levados à palestra, na área de pets um exemplo apresentado foi o de um cão que recebeu uma prótese dentária impressa em 3D.
As imagens em 3D oferecem ainda a possibilidade de planejamento cirúrgico aos médicos-veterinários. “O profissional pode reproduzir em imagens e impressão tridimensionais uma lesão que ele precisará operar, por exemplo. Assim, poderá treinar essa cirurgia, o que possibilita a redução do tempo da intervenção e o aumento da taxa de sucesso”, defende.
Fonte: CRMV-SP, adaptado pela equipe Cães&Gatos VET FOOD.