Cláudia Guimarães, da redação
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Estamos no início do ano letivo, quando muitos estudantes de Medicina Veterinária pensam no que virá nos próximos semestres e, inclusive, quando outros estão iniciando a graduação, com toda sua curiosidade, idealização e dúvidas. Uma coisa que deve ser levada em consideração por todo o curso é a publicação de artigos científicos, que pode fazer a diferença – se publicados ainda durante a formação – nas oportunidades quando chegar ao mercado de trabalho.
A coordenadora de área dos cursos de Medicina Veterinária e Ciências Biológicas, da Universidade São Judas, Milena Rodrigues Soares, declara que esse caminho é chamado de Iniciação Científica. “Para esses projetos, o aluno precisa ter perfil para o desenvolvimento e, quando há interesse, curiosidade, disciplina e facilidade em aprofundar os conhecimentos, por meio de pesquisas de estudos já publicados, ele será capaz de executar, na prática, um estudo inédito e com possibilidades de publicação”, avalia.
O que a docente recomenda aos graduandos é, caso tenham interesse após formados, fazer residência ou pós-graduação (stricto sensu), a fim de se desenvolver em pesquisa durante a graduação e, ao menos, participar de eventos científicos. “Assim, eles garantem a experiência de vivenciar uma exposição de trabalhos para outros pesquisadores durante o evento e, até, produzindo essa publicação em produtos formatados desses eventos. Outro programa que pode gerar publicação são os Projetos de Extensão, que atendem a comunidade do entorno da Universidade”, menciona.
No entanto, Milena destaca que, além do querer um trabalho científico, a dedicação do aluno de, pelo menos, 12 meses para desenvolver os projetos, é essencial, além de ter perseverança para submeter trabalhos em eventos ou revistas científicas. “Na qualidade de revisora em revistas científicas, posso recomendar normas e métodos que estruturam a elaboração de trabalhos científicos. É uma habilitação necessária nessa construção”, pontua.
Por outro lado, o publicitário e médico-veterinário, Diego Silva Mendes, nota que, de maneira geral, a publicação de artigos científicos durante a graduação, ainda é uma prática pouco estimulada em grande parte das universidades no Brasil. “Especialmente, as do setor privado, que têm como foco principal apenas o ensino. Esse é um erro gravíssimo, já que a principal porta de entrada dos alunos de graduação na pesquisa científica é por meio dos projetos de Iniciação Científica, que, muitas vezes, acabam culminando na publicação de um texto científico, onde são apresentadas e discutidas ideias, métodos, técnicas, processos e resultados obtidos ao longo do processo”, argumenta.
Ele também considera válido ressaltar o desenvolvimento do pensar cientificamente e da criatividade, decorrentes das condições criadas pelo confronto direto com os problemas da pesquisa, o que os torna muito mais capacitados e preparados para a vida acadêmica na pós-graduação, seja no mestrado ou doutorado. “Além disso, para os que pretendem aplicar para os processos seletivos de residência multiprofissional ou uniprofissional em Medicina Veterinária, a publicação de artigos científicos em periódicos indexados e/ou classificados no Qualis Capes, é um dos critérios de maior pontuação na etapa de avaliação de currículo, que é classificatória, nos editais das principais universidades públicas do País”, aponta.
Portanto, ter um artigo publicado significa, na visão de Mendes, a materialização de muitos meses ou anos de dedicação a um projeto científico, alternando noites em claro pesquisando referências bibliográficas e tabulando dados, com o estudo diário das disciplinas da graduação. “Sendo assim, eu penso que as publicações têm um papel importantíssimo na manutenção dos graduandos na área da pesquisa”, defende.
Ele fala por experiência própria, já que, enquanto estava na graduação, publicou alguns artigos científicos. “Sou publicitário há 17 anos, mas ser médico-veterinário sempre foi seu maior sonho profissional. “Na Publicidade, a quantidade de artigos publicados anualmente é menor se comparada à quantidade de publicações que temos na Veterinária. Por essa razão, o mundo da pesquisa científica só me foi apresentado, de fato, no 2º semestre da graduação em Medicina Veterinária, quando iniciei meu primeiro projeto de Iniciação Científica já na área de Oncologia Veterinária”, relembra.
As primeiras publicações de Mendes começaram quando ele assumiu a presidência do Grupo de Estudos de Oncologia Veterinária, da Universidade Cruzeiro do Sul, no primeiro semestre de 2018, sendo possíveis graças ao trabalho em equipe de todos os membros do grupo na época, sob a orientação da Professora Doutora Claudia Ronca Felizzola, destacando a importância das atividades de extensão universitária no ambiente acadêmico. “Hoje, são oito textos científicos publicados no total e cada um deles foi essencial na minha formação acadêmica e profissional, viabilizando o meu ingresso na pós-graduação, por meio de convites para cursar o mestrado em alguns dos principais grupos de pesquisa do Brasil”, comemora.
Apoio às publicações
Milena conta que, na Universidade São Judas, todos os anos, há editais do programa de Iniciação Científica. “Nós, pesquisadores docentes, temos um projeto que chamamos de guarda-chuva, que norteia as propostas vinculando os alunos durante o programa de Iniciação Científica ou projetos de extensão. Essa oportunidade é divulgada ao aluno e incentivada a participação. Os estudantes, muitas das vezes, possuem curiosidades em alguns temas, mas para um bom desenvolvimento e continuidade, se faz necessário procurar pesquisadores docentes que atuam em projetos semelhantes ao seu interesse em aprofundar os conhecimentos, o que facilita o desenvolvimento devido o interesse e se torna motivadora a busca por resultados e conclusão de um projeto”, observa.
Ainda com essas dicas e estímulos dos professores e pesquisadores, Milena conta que ainda é possível observar alunos que deixam esse momento para o final da graduação, não tendo mais tempo suficiente para a produção. “Lembrando que não é apenas a produção que sempre será mentorada e estruturada pelo pesquisador docente. É, também, momento para desenvolver essas habilidades de responsabilidade, disciplina, pesquisa e habilidades técnicas da área. Para isso, é necessário tempo e dedicação. Aos alunos do curso de Medicina Veterinária, recomendo o ingresso em programas como esse até, no máximo, a metade do 4º ano do curso, lembrando que o curso é de 5 anos”, sublinha.
Na visão da docente, o aluno não sai pesquisador após fazer a Iniciação Científica ou uma publicação de projetos de extensão: “Mas sai com habilidade suficientes e identificáveis do desenvolvimento de um futuro pesquisador, com responsabilidade, disciplina e escuta ativa para ser mentorado e, possivelmente, um ótimo candidato para o mercado de trabalho”, adiciona.
Para Mendes, a contribuição do fazer científico para o desenvolvimento das sociedades é inquestionável, possibilitando a busca por soluções para os mais diversos problemas. “A pandemia, ocasionada pela Covid-19, escancarou a importância da pesquisa, por meio do trabalho árduo de milhares de pesquisadores no desenvolvimento de vacinas eficazes contra o SARS-Cov-2. O mundo acompanhou, de perto, a publicação de cada artigo que era publicado trazendo novas informações de um vírus que nunca havia sido descrito. A publicação dos resultados de todos os experimentos que resultaram na produção das vacinas, que têm salvado tantas vidas ao redor do planeta, foi fundamental no compartilhamento de informações que direcionaram as pesquisas. O mesmo acontece conosco, quando tornamos público o resultado dos nossos trabalhos de pesquisas: estamos contribuindo não apenas com a comunidade científica, mas, também, com as vidas dos pacientes que serão impactadas diretamente por meio deles”, compara.
Em sua opinião, estamos diante de um momento muito delicado quando falamos em pesquisa científica no Brasil. “Juntos, a Capes e o CNPq, duas das principais agências de fomento à pesquisa do País, tiveram uma redução real de R$ 9,8 bilhões em seus orçamentos, nos últimos cinco anos, de acordo com dados divulgados pelo próprio Ministério da Economia, em 2021, e os valores pagos aos pesquisadores são vergonhosos. Precisamos unir forças, mais do que nunca, para impedir que haja mais retrocesso e exigir mais investimentos por parte do setor privado e do Governo Federal”, finaliza.