Cláudia Guimarães, da redação
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Já é comum o surgimento de cães geneticamente misturados para a formação de uma nova raça. O motivo pode ser desde a formação de uma população de cães para determinado trabalho a, até mesmo, questões recreativas. Mas, após a criação e nascimento destes novos filhotes há, ainda, um processo de validação para que ele seja reconhecido em todo o território mundial.
O médico-veterinário Mestre e Doutor em Zootecnia com ênfase em Melhoramento Genético, Eduardo Maldonado Turra, explica que, no momento do reconhecimento de uma raça por uma Organização, alguns requisitos são usados para tentar garantir que esta base genética tenha um tamanho que reduza as chances do surgimento de algum problema de grande incidência na raça.
O profissional completa que os requisitos para o registro de uma raça variam com as organizações existentes. A Federação Cinológica Internacional (Fédération Cynologique Internationale – FCI, Thuin, Bélgica), a qual a Confederação Brasileira de Cinofilia (CBKC, Rio de Janeiro/RJ) é membro federado, define como um dos pré-requisitos para o registro a comprovação de oito grupos de indivíduos da raça que não tenham animais em comum por três gerações anteriores. “As diferenças nas exigências entre as organizações fazem com que algumas raças possam já ser reconhecidas por uma instituição e não ser por outra. A FCI, por exemplo, reconhece mais de 300 raças. Já o American Kennel Club (AKC, Nova York, Estados Unidos) reconhece pouco mais de 180”, diz Turra.
A raça recentemente reconhecida pelo AKC, o galgo árabe Sloughi, já o era pela FCI, conforme relata Turra. “Como não havia uma quantidade suficiente de animais da raça em solo americano, importante para tentar manter maior variabilidade genética na raça no País, ela não podia ser aceita”, esclarece.
O presidente do Kenel Club São Paulo (São Paulo/SP), Mauro Atalla, descreve que, basicamente, criadores interessados na formação de novas raças iniciam seus trabalhos de criação selecionando exemplares de acordo com a descrição racial pretendida pelos clubes de reconhecimento. “Obviamente também é levado em consideração a função de se criar uma nova raça”, salienta o presidente que julga este trabalho como árduo e longo, pois é necessário reunir um plantel numeroso e com mais de dez gerações de cães selecionados. “A partir disso a Comissão da Federação Internacional de Cinofilia dará, ou não, o aval para a nova raça”, complementa.
Atalla conta que o número de países filiados à FCI é grande, na verdade quase todos, em todos os continentes. Qualquer nova raça que passe pelo crivo da Federação será reconhecida no Brasil como em todos os Países ao redor do mundo. “Essas raças são identificadas e validadas pelas suas funções. Por exemplo: cães de caça e aponte, cães de guarda e utilidade, cães de pastoreio, cães de companhia, entre outras funções”, expõe.
Sobre o assunto, a médica-veterinária Katia Mitsube Tárraga destaca a importância de todos, antes de adquirir uma nova raça de cão ou mesmo antes de adotar algum, procurar um médico-veterinário e acontece justamente o contrário: adquire-se e depois procura-se o profissional. “Isso atualmente é bastante compreensível, pois são poucos os médicos-veterinários que conhecem raças caninas e podem orientar seus clientes. Lembrando que a indústria relacionada aos cães e gatos hoje é altamente produtiva e lucrativa e o profissional que se diferencia com certeza será um sucesso”, salienta Kátia que considera importante o especialista conhecer as raças para que os cães puros, sem raça definida e misturados sejam bem tratados e acolhidos por seus tutores.
Eduardo Maldonado Turra também frisa que o constante estudo do médico-veterinário o manterá atualizado quanto a informações de problemas genéticos encontrados com maior frequência em determinada raça ou grupo de indivíduos. “Isto, inclusive, é muito importante. Um menor controle dos criadores de algum país pode levar a um aumento da frequência de uma doença genética, que não seja tão comum nos cães de mesma raça de outros locais”, completa.