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Clínica e Nutrição

Relação entre câncer e anemia em pets vai além da simples consequência da doença

Colaboração entre profissionais das áreas de Oncologia e Nutrição é essencial no manejo dessa condição
Por Equipe Cães&Gatos
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Por Equipe Cães&Gatos

Qual seria a relação entre anemia e câncer em animais de companhia? Quais são os tipos mais comuns da doença associados à anemia? A médica-veterinária docente do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ-SP) e membro da Comissão Científica da Associação Brasileira de Oncologia Veterinária (ABROVET), Sílvia Regina Ricci Lucas, conta que existem diversos mecanismos envolvidos no desenvolvimento de anemia nos animais com câncer e eles podem ser diretos ou indiretos. 

“Quando indiretos, ou seja, que não representam ação direta da neoplasia maligna ou das metástases, sendo consequência da ação de substâncias liberadas pelas células tumorais, a anemia representa uma síndrome paraneoplásica. As anemias podem ser arregenerativas (quando não são identificados sinais de que a medula óssea esteja aumentando a produção de células) como a anemia da inflamação, a anemia por mieloftise (medula óssea infiltrada por células anormais, como nos linfomas em estágio V, mieloma múltiplo), por deficiência de vitamina B12 e perda de proteínas (em neoplasias gastrointestinais), secundária aos efeitos da quimioterapia/radioterapia (efeitos colaterais do tratamento do câncer), ou regenerativas (quando a medula óssea está produzindo mais células) como as anemias hemolíticas imunomediadas (hemácias destruídas por ação de anticorpos), anemias por perdas sanguíneas ou anemia hemolítica secundária a sarcoma histiocítico hemofágico, por exemplo”, detalha.

Ela explica também que a anemia pode ser identificada em qualquer estágio do câncer, antes mesmo do diagnóstico, uma vez que os mediadores liberados pelas células cancerosas já estão presentes desde o início do processo, quando ainda não é possível detectar a doença.

A anemia pode ser identificada em qualquer estágio do câncer, antes mesmo do diagnóstico (Foto: Reprodução)

A Professora Sílvia comenta que a anemia da doença inflamatória, também denominada anemia da doença crônica, classificada como normocítica e normocrômica, é um processo de evolução insidiosa. “Em muitos casos os animais podem ser assintomáticos, pois há tempo para adaptação do organismo. O mecanismo associado a essa anemia, tanto no câncer quanto em outras doenças, está relacionado a mediadores liberados no processo inflamatório”, discorre.

A profissional menciona como exemplo, o ferro, que é retido pelas células do sistema mononuclear fagocitário, o que o torna indisponível para a eritropoiese. “Esse mecanismo é mediado pela hepcidina, que é produzida pelo fígado na presença de processos que induzem a produção de IL-6, e que regula a absorção de ferro pelos enterócitos, além de impedir a liberação de ferro de macrófagos e hepatócitos. Com isso, menos ferro estará presente no sangue periférico e disponível para a eritropoiese. A produção de hepcidina deveria diminuir com a anemia, mas com a presença das células cancerosas, a produção de IL-6 é mantida e, consequentemente, a de hepcidina”.

Ainda segundo ela, outro mediador inflamatório, o TNF-α liberado pelas células neoplásicas, diminui a expressão de receptores de eritropoietina, inibe o GATA-1, um fator de transcrição eritróide, reduz o tempo de vida dos precursores eritróides, além de levar ao estímulo do GATA-2, que contribui para a diminuição da diferenciação de eritrócitos na medula óssea. Essa anemia é caracterizada por diminuições leves a moderadas do hematócrito, não sendo comuns quadros de anemia graves.

“Outra causa de anemia arregenerativa em animais com câncer é a infiltração de células neoplásicas na medula óssea, a mieloftise, que também leva à redução da eritropoiese. Nas leucemias, nos linfomas em estágio V e no mieloma múltiplo pode-se encontrar infiltração de células malignas na medula óssea e, consequentemente, a anemia. Nesses casos, dois mecanismos podem estar envolvidos, sendo um relacionado diretamente à infiltração da medula óssea e outro, paraneoplásico, com citopenias decorrentes da ação de substâncias liberadas pelas células neoplásicas”, explica.

Além disso, ela cita que animais com linfomas gastrointestinais localizados em íleo podem desenvolver anemia por deficiência de cobalamina, uma vez que a vitamina B12 é absorvida nessa porção do intestino. “Sabe-se que a cobalamina é importante para a maturação das hemácias na medula óssea e que humanos com deficiência de vitamina B12 apresentam anemias macrocíticas arregenerativas, entretanto, na Medicina Veterinária, a macrocitose parece ser um evento incomum na deficiência de cobalamina, sendo essa anemia arregenerativa, porém normocítica e normocrômica, embora alterações megaloblásticas, eventualmente, possam ser encontradas. No caso dos gatos, é importante interpretar esses achados frente à pesquisa do vírus da leucemia felina”.

Leia a reportagem na íntegra, gratuitamente, na edição de outubro/2024 da Revista Cães e Gatos. Clique aqui.

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