Cláudia Guimarães, da redação
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O surgimento e reconhecimento de novas raças de cães estão cada vez mais presentes dentro da genética na Medicina Veterinária. Em janeiro deste ano, uma organização dos Estados Unidos, que coordena apresentações e competições entre cachorros, reconheceu duas novas raças: o Terrier Americano sem pelos e o Sloughi. Porém, antes da validação desse tipo de novidade, que pode movimentar o mercado veterinário, há procedimentos da formação propriamente dita das raças, além de critérios técnicos que devem ser levados em consideração no momento em revelá-las.
De acordo com o médico-veterinário Mestre e Doutor em Zootecnia com ênfase em Melhoramento Genético, Eduardo Maldonado Turra, todas foram formadas pelo interesse de uma pessoa ou de um grupo. “Estes acasalamentos acontecem de forma a que um grupo de cães, no fim do processo, apresente uma similaridade em termos de forma (tamanho, cor de pelo, comprimento de pelo, peso, etc), comportamento (mais reativos, menos reativos, etc) e função (habilidade para faro, guarda, pastoreio, etc)”, explica o profissional que ainda ressalta que todas as raças foram formadas assim, desde as mais antigas às mais novas.
Segundo Turra, os motivos de se formar uma raça são vários, desde atender a uma demanda de trabalho à pura e simples vaidade de se obter um tipo de cão por sua beleza e forma. “Pessoalmente, existindo a preocupação da geração de raças saudáveis, não tenho nada contra as diferentes misturas genéticas”, afirma.
E, no contexto dessa fusões, quanto à necessidade de ter uma cautela a mais na reprodução assistida entre diferentes raças, o especialista sublinha que não há diferença no controle de acasalamentos dos indivíduos destas novas categorias com as já existentes. Porém, deve-se ter atenção apenas para a inclinação para certas disfunções. “Alguns destes animais podem carregar alguma propensão para uma doença e ser somente portador, podendo facilitar o surgimento desta enfermidade com frequência em seus parentes”, salienta.
Apesar disso, Turra julga a mistura de várias raças para a formação de outra como benéfica. “Considere que uma das raças formadoras tenha alta incidência de uma doença genética. Se estes animais forem acasalados com outros de outras raças, estes alelos podem ter sua frequência reduzida nesta nova população”.
A médica-veterinária Katia Mitsube Tárraga, que já ministrou aulas de Farmacologia Geral e Aplicada, Toxicologia, Cinofilia na Universidade Anhembi Morumbi (São Paulo/SP) reconhece as alterações benéficas que este tipo de cruzamento pode trazer, mas também chama atenção para outras modificações. “Como ponto positivo temos a fixação do bom temperamento, como por exemplo os cães farejadores, acasalando aqueles que farejam melhor; acasalar cães de tamanhos similares para manter a adequação, entre outros. Por outro lado, porém, acasalando um Golden Retriever com um Teckel é possível que nasçam filhotes pequenos e de pernas curtas como os Teckeis, com sua pelagem, mas grandes e sem pelo longo, com tamanho do Golden”, exemplifica quanto a uma junção de genomas despropositada.
O caso do Bullmastiff, que surgiu do acasalamento entre o Mastiff Inglês e o antigo Bulldog, é outro caso de raças cruzadas com objetivos já predeterminados. “Havia a necessidade de um cão que fizesse guarda ostensiva, colocasse medo aos estranhos (Mastiff) e que fosse mais ágil, para correr e espantar os ladrões. Isso aconteceu na Inglaterra pela necessidade dos fazendeiros protegerem suas ovelhas que eram roubadas durante a noite. Por conta disso, a raça foi denominada como Game Keeper Night Dog”, conta a profissional que acrescenta o Dobermann, que recebeu o mesmo nome de um coletor de impostos da Alemanha, que estava sendo assaltado e precisava de um cão mais imponente para ficar junto dele durante o trabalho. “Em sua maioria as raças caninas foram desenvolvidas a partir da necessidade do homem para caçar, para ter um cão de guarda, como pastoreio e para companhia”, destaca.
Ambos os profissionais enxergam temas como este essenciais para a formação dos futuros médicos-veterinários. Turra, que comanda a disciplina de Melhoramento Genético, do Departamento de Zootecnia, da Escola de Veterinária, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG, Pampulha, Belo Horizonte/MG), conta que esta disciplina é obrigatória no currículo do estudante de Medicina Veterinária da UFMG. “Nela são abordados assuntos relacionados a raças, suas misturas, a importância de variabilidade genética em populações, não só caninas, mas também de animais de produção”.
Para Katia, a disciplina de Cinofilia também deveria ser obrigatória e não optativa como é em algumas universidades. “Essa obrigatoriedade deveria existir principalmente pelo fato dos cães atualmente representarem companhia, sendo ente familiar do ser humano”. Na disciplina, é explorado temas como manejo reprodutivo e seleção de matrizes, cuidados com neonatos, controle de doenças genéticas, entre outros assuntos da genética de cães.