Cláudia Guimarães, da redação
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Animais fofos e peludos, que miam, ronronam e latem deixaram de ser os únicos queridinhos das pessoas. Nos últimos anos, houve um grande aumento na criação de répteis como animais de estimação no Brasil, que é considerado, atualmente, o 9º País com maior número de répteis criados como pets.
Apesar da crescente domesticação desses bichos, ainda há uma escassez de pesquisas que avaliem possíveis riscos sanitários associados ao contato entre os répteis e os seres humanos. Essa realidade motivou a realização de um estudo, destinado à uma dissertação de mestrado, que avalia a eliminação de bactérias destes animais causadores de doenças em pessoas.
Além de Salmonella, estudo indica a eliminação deE. coli e C. difficile (Foto: reprodução)
A médica-veterinária doutoranda em Ciência Animal, pela Escola de Veterinária, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG, Belo Horizonte/MG), Carolina Pantuzza Ramos, que realizou a pesquisa com orientação de seu professor Dr. Rodrigo Otávio Silveira Silva, narra que a investigação incluiu diversas espécies de lagartos, tartarugas e cobras, como jiboias, além de iguanas, cágados e calangos. “Todas essas espécies citadas foram positivas para, pelo menos, uma bactéria causadora de doenças em pessoas”, revela.
Entretanto, Carolina destaca que ainda não é possível afirmar, com os resultados obtidos, se essas espécies possuem maior chance de eliminarem esses germes em comparação com os outros répteis estudados. “Por esse motivo, recomendamos o cuidado na manipulação de todos os répteis, independentemente da espécie, justamente por ainda não sabermos se algumas podem oferecer mais riscos que outras”, frisa.
Conforme contado pela veterinária, o estudo indicou uma grande eliminação de bactérias do gênero Salmonella por répteis, o que já foi apontado por outros trabalhos realizados anteriormente em diversos países. “Em adição, nosso estudo identificou e caracterizou outras bactérias patogênicas, como E. coli e C. difficile, duas importantes causadoras de diarreia nos humanos”, aponta.
Como evitar problemas? É muito importante, de acordo com Carolina, que as pessoas que criam ou, eventualmente, entram em contato com répteis tenham bons hábitos de higiene, sobretudo após a manipulação desses animais ou de seus criatórios. “Lavar as mãos após o contato com o animal, com o alimento do réptil ou com objetos do criatório é de extrema importância para minimizar a chance de infecção pelas bactérias”, orienta.
Ainda é essencial salientar que pessoas com o sistema imune imaturo ou comprometido, como crianças com menos de 5 anos, grávidas, portadores de HIV, pessoas que utilizam medicações imunossupressoras e idosos, possuem maior chance de serem infectadas e de desenvolverem doenças. “Assim, os cuidados na aquisição dos répteis e na manipulação desses animais devem ser tomados, sobretudo, por essas pessoas”, recomenda.
Esses pets não devem ficar na cozinha ou em locaisonde as pessoas se alimentam (Foto: reprodução)
Manejo. Como já mencionado pela profissional, além das pessoas que criam répteis deverem adquirir o hábito de lavar as mãos após a manipulação desses animais ou de qualquer outro utensílio ou alimento que entre em contato eles, não é recomendado que esses animais sejam mantidos soltos pela casa. “Principalmente na cozinha ou locais onde as pessoas se alimentam, já que pode haver uma eliminação das bactérias para o ambiente, levando ao risco de contaminação indireta”, adverte.
Também é importante, segundo Carolina, evitar deixar os animais próximo ao rosto, principalmente boca, dica muito importante para pessoas que possuem o costume de beijar seus animais. “Por fim, não é recomendado que deixem os répteis junto às pessoas durante o banho, o que é comum em residências que possuem tartarugas, ou mesmo em cima da cama, prática que pode aumentar o contato com os microrganismos patogênicos”, adiciona.
Sendo assim, não podemos ignorar o fato de que os répteis sejam animais de estimação exóticos e fascinantes de se ter em casa, mas a veterinária destaca, por meio de seu trabalho, que é necessário tomar os devidos cuidados na criação destes pets não convencionais. “Não achamos que as pessoas devam deixar de criá-los. Gostaríamos apenas de alertar para os riscos que esses bichos, se cuidados de forma indevida, podem oferecer à saúde dos tutores. Assim, bons hábitos são fundamentais para todos ficarmos felizes e saudáveis, criando os nossos queridos pets”, finaliza.
Veterinária Carolina Pantuzza Ramos