Falta de informação sobre a abrangência da profissão limita recém-formados
O planejamento de carreira e a busca por oportunidades no mercado de trabalho são questões frequentes nos primeiros meses do ano, principalmente entre recém-formados. Na opinião de profissionais que já possuem carreiras consolidadas, uma barreira nesse contexto, que não se restringe apenas aos novos profissionais, é a falta de informação sobre a abrangência da Medicina Veterinária. Prova disso são postos de trabalho sendo ocupados por formados em outras áreas devido à falta de candidatos médicos-veterinários.
De acordo com o Prof. Dr. Marco Antônio Gioso, médico-veterinário que atua como coaching na área de gestão e empreendedorismo, essa tem sido uma realidade, por exemplo, no setor de inspeção de alimentos de origem animal, um dos que ele considera o mais promissor.
Outro exemplo de campo que concentra boas oportunidades é o da piscicultura, de acordo com o Prof. Dr. Fábio Manhoso, presidente da Comissão de Homeopatia Veterinária, do Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV-SP, São Paulo/SP), e coordenador do curso de Medicina Veterinária da Universidade de Marília (Unimar, Marília/SP).
Outra opção para o médico-veterinário está no Sistema Único de Saúde (SUS), onde ele atua integrando equipes multidisciplinares nos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF). A participação do profissional nesses grupos se dá a partir do atendimento à população em questões de vigilância em saúde, sanitárias e ambientais. Para o médico-veterinário membro da Comissão Técnica de Clínicos de Pequenos Animais do CRMV-SP e consultor parceiro da Comissão de Animais de Companhia (Comac), Renato Brescia Miracca, a abertura desse espaço aponta não só a capacidade do profissional de Medicina Veterinária de atender as demandas do setor, como uma mudança de mentalidade do poder público nesse sentido.

Atuar dentro do SUS é uma opção aos profissionais. Aténovembro de 2017, havia 138 veterinários atuando noNASF, em 24 Estados diferentes (Foto: reprodução)
Ainda segundo prof. Dr. Fábio Manhoso, o bioterismo também merece o olhar dos profissionais, uma vez que é uma área que sinaliza expansão. Sobre o setor pet, Miracca afirma que está entre a saturação e o crescimento. “Atualmente, há uma concentração de profissionais na área de clínica de animais de companhia, bem como o maior interesse dos alunos nas universidades por esse campo”, aponta.
O levantamento mais recente do Instituto Pet Brasil (São Paulo/SP) mostra que o setor, em 2014, cresceu 8,9%; no ano seguinte, 9,4%; já em 2016, sua expansão foi menor (4,8%), com faturamento de R$ 23 milhões. A entidade ainda não possui uma projeção para 2017, mas os primeiros números apontam para um aumento de faturamento de aproximadamente 7%. Ou seja, o número deve superar os R$ 25 bilhões. A previsão do instituto é de que em 2018 o Brasil volte a ocupar a posição de segundo maior faturamento do mundo no setor.
Outra questão é o fato de que o Brasil possui 307 faculdades de Medicina Veterinária e 179 mil profissionais, dos quais 121 mil estão ativos. No Estado de São Paulo são 57 escolas, mais de 42 mil profissionais registrados, sendo 32 mil ativos. Para se ter ideia da dimensão desses dados, basta compará-los aos de outros países. Nos Estados Unidos, por exemplo, são apenas 31 graduações em Medicina Veterinária e 107 mil profissionais. O número de faculdades por aqui supera, ainda, o de toda a Europa, atualmente com 111 escolas.
Porém, muito mais importante do que a quantidade de cursos é a qualidade que eles possuem. E nesse contexto inclui-se a missão das instituições de ensino em expandir a visão dos alunos, fomentando inovação e olhar estratégico.
De acordo com Manhoso, embora o Ministério da Educação estabeleça que a formação do veterinário seja generalista, com frequência, as faculdades falham, não fomentando o interesse dos alunos nessas áreas tão promissoras e que demandam mais profissionais. “As instituições precisam estar antenadas às necessidades do mercado, lembrando que em todas as áreas o profissional atua no sentido da saúde pública, o que é de um olhar humanístico considerável”, afirma.
Ele acredita que a amplitude de funções que o médico-veterinário está apto a exercer deve, inclusive, ser alvo de divulgação das instituições de ensino ao público, o que contribuiria não só para a valorização profissional, como para despertar o interesse pela profissão de uma forma mais consciente.
Fonte: CRMV-SP, adaptado pela equipe Cães&Gatos VET FOOD.