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Clínica e Nutrição

Síndrome de Pandora afeta 65% da população de felinos 

Veterinários explicam o que é a Síndrome, quais são suas implicações comportamentais e clínicas e como é possível evitar o quadro
Por Equipe Cães&Gatos
Pandora
Por Equipe Cães&Gatos

Os felinos têm sido cada vez mais escolhidos como animais de estimação dos brasileiros. No País, a população de gatos é de 33,6 milhões e cresce quase 2 vezes mais que a população de cães: 6% entre 2021 e 2022, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet).

Para dar luz à importância deste tema, a Biofresh, da BRF Pet, convidou médicos-veterinários para responder às dúvidas mais frequentes referentes à Síndrome de Pandora, uma patologia tão comum em felinos que afeta 65% dos gatos.

Carlos Gabriel Dias, médico-veterinário especializado em comportamento felino:

A síndrome está relacionada ao quadro clínico relacionado ao desconforto emocional após a percepção de ameaça e medo (Foto: reprodução)

O que é a Síndrome de Pandora?

Segundo o Dr. Carlos Gabriel Dias, médico-veterinário especializado em comportamento felino, o termo médico ‘Síndrome de Pandora’ em gatos domésticos vêm de ‘Caixa de Pandora’ (objeto da mitologia grega, peça central do mito de Pandora). São sintomas em vários sistemas orgânicos: cardiovascular, trato urinário, trato gastrointestinal e a pele. Outros sintomas inespecíficos poderão ser observados, mas as alterações do trato urinário são as queixas mais frequentes. A síndrome está relacionada ao quadro clínico relacionado ao desconforto emocional após a percepção de ameaça e medo.

“Para os tutores, a gente tenta explicar que é a materialização do desconforto emocional. O medo, ansiedade, frustração e insegurança, por exemplo, estimulam liberação de substâncias e mudanças orgânicas que modificam o corpo para se adaptarem às circunstâncias. O excesso dessas experiências ou a cronicidade delas se transformam em modificações potencialmente deletérias para o corpo físico. Temos algumas que são mais comuns, outras menos comuns, e tem aquelas que não participam de nenhuma síndrome”, explica. Nos humanos, nós chamamos isso de psicossomático, mas como a gente ainda não conversa com os gatos verbalmente, no caso deles, a gente chama de etossomáticos, que vem de etologia, que é o estudo dos hábitos, da observação do que a gente vê. Portanto, a gente chama de manifestações etossomáticas por estarem relacionadas ao que observamos na ausência de um relato verbal.

O Professor CA Tony Buffington, que foi quem criou a nomenclatura, diz: ‘abra a caixa de pandora’, ou seja, abra a mente para investigar a mente do gatinho e entender que muitas vezes é uma percepção a partir de alguma experiência ruim que ele viveu e está achando que vai viver de novo. Outras vezes, ele se assusta com algo que ele não conhece. Pandora é a gente ter um animal tão sofrido mentalmente, com tanta dificuldade de se adaptar às situações, que ele acaba ficando igual a gente.

No ambulatório costumamos começar a conversa com os tutores dizendo assim: sabe aquele tremilique que a gente tem no olho quando a gente está muito agitado, muito nervoso? No caso dos gatos, eles não têm esse tremelique, nós não vemos isso com frequência, mas nós vemos os sinais. Como eles não falam, a gente não identifica facilmente, por isso a importância desse estudo. Quando eles ‘falam’, é porque já estão adoecidos fisicamente com os sintomas. Então identificar os sinais precocemente é muito importante. Mas o ideal é que a gente nem tenha isso, o ideal é que a gente consiga ‘gatificar’ mais a nossa casa para a melhor adaptação dos animais”. 

Qual é o papel do tutor nesse processo?

Ainda segundo o especialista, “é com muito cuidado que é necessário direcionar a conversa com os tutores, porque tem a ver com eles, mas não é culpa deles. Então isso precisa ficar bem esclarecido para evitar sentimentos ruins. Assim, juntos, vamos transformando a vida dos gatos, transformando as coisas em volta e aí eles entendem que está tudo bem. Isso depende da parceria e da contribuição do tutor”.

Existe uma forma de o tutor evitar a Síndrome de Pandora?

“A primeira dica para os tutores é se envolverem numa intenção de permitir que a casa se transforme em locais espécie-específico, ou seja, um local que o animal tenha oportunidade de exibir as características de gato. O que pedimos para o tutor é que ele faça com que o seu gato tenha experiências de gato dentro da sua casa”. 

Maria Alessandra Del Barrio (Male), médica-veterinária especializada em clínica médica felina

A alimentação pode apoiar na prevenção da síndrome e apoiar, também, no tratamento do problema
(Foto: reprodução)

Qual a importância de abordar esse tema?

Segundo Dra. Maria Alessandra Del Barrio (Male), médica-veterinária especializada em clínica médica felina, “um dos problemas é que olhamos os animais de forma fragmentada. Por exemplo, o tutor trata a cistite, trata a hipertensão, trata o quadro cutâneo. Mas, quando isso começa a aparecer, principalmente, de forma recorrente, de forma conjunta, é preciso ‘olhar o gato de cima’, olhar todo o organismo e verificar se não tem alguma coisa confluindo para que isso aconteça. E normalmente são problemas do manejo, são infelicidades na vida desse gato, é o estresse crônico. Os veterinários precisam ter cuidado ao conduzir esse tema, porque não adianta só tratar com remédio. Será necessário mexer na vida desse gato para que ele seja mais feliz e fique saudável”. 

De que forma o tutor consegue identificar essa síndrome? Existe alguma forma dele ajudar a não piorar o quadro?

A profissional especialista em felinos aponta ainda que é importante perceber quando os gatos começam a ter problemas conjuntamente, que é o que se chama de comorbidades. “Quando isso acontece, geralmente alguma coisa não vai bem. Ou você tem um paciente que tem algum quadro imunossupressivo ou você tem um paciente que eventualmente tem estresse em andamento. Então, a gente precisa identificar o que está acontecendo. A primeira coisa, que é o mais difícil, é o indivíduo entender que o gato não é um ser social, que não foi feito pra caminhar com vários outros indivíduos ao mesmo tempo. Ele é um indivíduo mais sistemático, mais sensível ao estresse, que dispara mais mecanismos de defesa, de fuga, de luta, e que se ele tiver alguma alteração no sistema de programação dele, e isso é genético, e epigenético, ele vai ter uma resposta mais exacerbada e, talvez, as coisas não funcionem muito bem. Então, quando vemos um quadro de repetição, indivíduos que sempre frequentam clínicas veterinárias, que não conseguem ficar um intervalo entre vacinas sem levar o animal a clínica veterinária, é necessário avaliar se não tem nenhuma outra coisa acontecendo. E a prioridade é verificar se o problema não é estresse ambiental, o estresse emocional de conflito com outros gatos, com outras pessoas. Isso é a primeira coisa que precisará ser ajustada”. 

Mayara Andrade, médica-veterinária nutróloga da Biofresh (BRF Pet)

Como a alimentação pode ser uma aliada na prevenção da Síndrome?

Segundo Mayara Andrade, médica-veterinária nutróloga da Biofresh (BRF Pet), a Síndrome de Pandora é um termo usado para denominar um conjunto de alterações que resultam na cistite Intersticial Felina e atinge grande parte da população. Ela está ligada não só a distúrbios do trato urinário, como endócrinos e psicológicos, apresentando alta taxa de reincidência. “A alimentação, sem dúvidas, pode apoiar na prevenção da síndrome e apoiar, também, no tratamento. Há inúmeros motivos que fazem com que o alimento úmido seja uma parte importante na alimentação dos gatos e um dos principais é devido à alta quantidade de água na sua composição. Cerca de 60 a 90% dos alimentos úmidos são compostos por água, o que ajuda a prevenir problemas urinários, já que contribui tanto para o consumo de água diário quanto para deixar o ambiente mais “friendly”, reduzindo o estresse. Por isso, o sachê deve ser inserido na rotina alimentar dos animais, principalmente para os gatos logo após o desmame”.

Fonte: AI, adaptado pela equipe Cães e Gatos VET FOOD.

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