Antigamente, os gatos eram considerados carnívoros associais, indivíduos que preferiam estar sozinhos e não tinham necessidade de companhia. No entanto, hoje, sabemos que é uma espécie social, que interage regularmente com outros animais e convive em harmonia com humanos.
Mas nem sempre essa interação é tão fácil, já que a socialização dos gatos é influenciada por diversos fatores, tais como falhas na socialização precoce, como exposição a outros gatos e a seres humanos, além da influência genética.
O médico-veterinário Gonçalo Pereira indica que os resultados, apresentados por McCune (1995), claramente demonstram que a manipulação precoce produz diferenças significativas na afabilidade dos gatos em relação às pessoas e que este manejo dos filhotes torna-os adultos mais amigáveis. “Também, os descendentes de pais que toleravam bem os humanos eram mais afáveis e ficavam menos ansiosos quando tocados por pessoas. No entanto, crias cujos progenitores eram menos afáveis e não socializados, apresentaram mais posturas de agachamento, de sibilos e de se esconder, bem como expressões de agressividade, quando próximas de uma pessoa”, menciona.
Os benefícios, quando se aumenta a socialização em idade precoce dos felinos domésticos, são salientados também por Casey e Bradshaw (2008) em um estudo realizado em abrigos, cujos resultados demonstraram o seguinte: os que receberam socialização adicional eram menos medrosos do que os que passaram por uma interação normal com os tratadores. Além disso, concluíram que os gatos socializados mais cedo criavam vínculos mais fortes com os seus tutores.
Apesar de serem criticadas por alguns comportamentalistas, devido ao possível estresse causado pela aceitação de outros gatos ou indivíduos de espécies diferentes, as “aulas de socialização para gatos”, na visão de Pereira, podem ser um processo de aprendizagem especial a ser levado em consideração. “Nessas aulas, descritas por Seksel (2008), permite-se que os animais brinquem entre eles e sejam expostos a pessoas de diferentes idades e gêneros. Essa exposição, em conjunto com o reforço positivo, ajuda os felinos a adaptarem-se melhor a possíveis mudanças que possam ocorrer, tornando o gato mais preparado para aceitar, sem medo, novos ambientes e experiências”, declara.
Ainda nessas aulas, segundo Gonçalo Pereira, os tutores podem não somente aprender o significado do comportamento dos gatos, mas, também, fazer exercícios com eles, como treino e brincadeiras. “Tendo em vista que costumam encontrar gatos adultos com agressividade predatória dirigida a pessoas, este é o melhor momento para prevenir e ensinar os tutores a brincarem adequadamente com o seu pet, que crescerá e saberá que mãos ou pés dos tutores não são presas”, destaca.
Há, entretanto, uma variedade de vínculos e estilos de interações entre pessoas e gatos, conforme explicado pelo profissional. “Para alguns gatos, os tutores são apenas a origem da comida; outros ficam felizes quando os tutores retornam à casa; e alguns compartilham um passeio. Essa variedade de comportamentos depende da robustez do vínculo entre os tutores e os seus animais, por exemplo, a necessidade de estar ao lado um do outro; da qualidade da ligação que têm, relacionada à sensação de segurança e proteção que cada um oferece ao outro em casos de situações estressantes; e das atividades que fazem juntos, como interações e rituais comportamentais que desenvolvem.
“Um estudo, realizado pela equipe liderada por Edwards (2007), demonstrou que os gatos passam mais tempo em locomoção e exploração quando o tutor está presente do que quando ficam sozinhos ou com um desconhecido. Apesar de que, nos gatos, a locomoção é um indicador de vinculação e quietude, bem como de estresse, estes resultados mostram que há um vínculo entre o gato e os seus tutores e que, embora apresentem níveis de destruição menores que os cães, também podem sofrer de problemas, relacionados à separação”, aponta.
Apesar da existência desse vínculo com os tutores, as interações são poucas em número e duram menos de um minuto quanto se trata de gatos. “São as pessoas que se aproximam mais frequentemente dos gatos, do que o contrário, e, quando é o gato que aborda o humano, a interação é mais longa”, pontua Pereira.
FAQ
Como a socialização precoce influencia o comportamento dos gatos em relação aos humanos e outros animais?
Ela torna os gatos mais amigáveis e menos ansiosos, enquanto falhas nesse período podem levar a comportamentos defensivos ou agressivos, influenciando negativamente suas interações.
Quais são os benefícios das “aulas de socialização” para gatos?
Estas aulas permitem que os gatos se adaptem melhor a novos ambientes, pessoas e animais, além de ajudar tutores a compreenderem e a lidarem com o comportamento felino de forma positiva.
De que forma o vínculo entre gatos e tutores se manifesta?
O vínculo se manifesta por meio de comportamentos como locomoção e exploração na presença do tutor. Pode ser fortalecido por interações positivas, segurança emocional e atividades compartilhadas, como brincadeiras e rituais diários.
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