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Unidades de Vigilância em Saúde protegem a Saúde Pública contra zoonoses e pandemias

Colaboração entre veterinários, médicos e outras autoridades é essencial para prevenir e controlar as doenças zoonóticas
Por Cláudia Guimarães
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Por Cláudia Guimarães

O Dia Mundial da Medicina Veterinária é celebrado todo último sábado do mês de abril e, a cada ano, é válido celebrar não apenas os profissionais dedicados ao cuidado dos animais, mas, também, devemos destacar a importância das Unidades de Vigilância de Zoonoses (UVZs) no âmbito da saúde pública.

Estas unidades, vinculadas ao Sistema Único de Saúde (SUS), desempenham um papel crucial na vigilância, prevenção e controle de zoonoses, conforme estabelecido pela Portaria nº 758 do Ministério da Saúde. Anteriormente conhecidas como Centros de Controle de Zoonoses (CCZ), a mudança de nomenclatura reflete uma abordagem proativa, onde o controle é acionado apenas quando a prevenção se mostra insuficiente. As UVZs são responsáveis por proteger a saúde pública, prevenindo e controlando zoonoses e acidentes causados por animais peçonhentos e venenosos, ou seja, visa a saúde para além dos animais de companhia, mas, também, de nós, humanos.

O controle eficaz das zoonoses envolve várias medidas, como vacinação e tratamento de animais domésticos (Foto: divulgação)

A médica-veterinária, assessoria Técnica  e diretoria da Divisão de Vigilância de Zoonoses de São Paulo, Gisele Melo Alves Moretti, comenta que a interação entre seres humanos e animais é multifacetada, sendo afetada por questões ambientais, sociais e culturais, e as zoonoses são um grupo de doenças que envolve ambos. “Comunicar efetivamente com o público pode ser um desafio, pois, muitas vezes, é preciso simplificar conceitos complexos de biologia para garantir a compreensão da população em geral. Além disso, existe a pressão do tempo, já que a maioria das zoonoses e doenças transmitidas por vetores são agudas, com ciclos curtos de infecção e manifestação de sintomas. Portanto, uma resposta rápida é fundamental para conter o avanço dessas doenças”, declara.

Outro desafio significativo, segundo ela, é o controle eficaz dessas doenças. Isso envolve várias medidas, desde ações diretas como vacinação e tratamento de animais domésticos, até a conscientização sobre posse responsável e o combate à propagação de informações falsas sobre vacinas. “Em áreas urbanas densamente povoadas, a coordenação entre os diferentes setores é crucial. A rápida identificação e notificação de casos suspeitos de zoonoses permitem uma resposta ágil por parte das autoridades de saúde, minimizando os danos à população. Esses desafios exigem não apenas expertise técnica, mas, também, uma abordagem colaborativa e integrada para enfrentar efetivamente as complexidades das doenças zoonóticas”, esclarece.

A vigilância epidemiológica das doenças zoonóticas segue as diretrizes do sistema nacional de vigilância em saúde (Foto: reprodução)

Principais doenças zoonóticas

A médica-veterinária comenta que as medidas adotadas para diversas zoonoses, dependem de cada caso, pois cada um tem seu plano ou programa próprio para evitar a propagação.

  • Para arboviroses incluem: visitas casa a casa para eliminação de criadouros e orientação à população, controle de mosquitos com aplicação de inseticidas em áreas de transmissão de doenças como dengue, chikungunya e zika, vigilância e controle de vetores em imóveis especiais, monitoramento entomológico de mosquitos e epidemiológico de pacientes suspeitos, além de ações de educação em saúde pública e controle ambiental.
  • Para doenças como a raiva, são realizadas medidas como vacinação anual de animais domésticos, vigilância epidemiológica em morcegos e animais domésticos, e educação em saúde pública.
  • Já para a leptospirose, são adotadas medidas de vigilância epidemiológica, controle de roedores e educação em saúde pública.
  • A esporotricose é enfrentada com ações de investigação, diagnóstico em animais, orientação e acompanhamento do tratamento, além da castração para reduzir o trânsito de animais fora do domicílio.
  • Outras doenças, como a febre maculosa, leishmaniose e doença de Chagas, também são alvo de vigilância e controle de vetores, pesquisa entomológica e medidas de educação em saúde pública.
  • Finalmente, os acidentes por animais peçonhentos são abordados com vigilância e controle de aracnídeos e himenópteras, juntamente com ações de educação em saúde pública.

Vigilância epidemiológica

A vigilância epidemiológica das doenças zoonóticas segue as diretrizes do sistema nacional de vigilância em saúde, que estabelece uma lista de doenças de notificação compulsória. Quem nos explica é o biólogo e diretor da Divisão de Zoonoses de São Paulo, Eduardo de Masi. “Os casos são notificados às autoridades de saúde local, como as Unidades de Vigilância em Saúde (UVIS) em São Paulo, desencadeando medidas de prevenção e controle conforme normativas do Ministério da Saúde. A Divisão de Vigilância de Zoonoses (DVZ) na capital processa amostras biológicas, emite laudos diagnósticos, e coordena ações como monitoramento de casos, investigações de surtos e vigilância de vetores, orientando as intervenções e alocação de recursos. Essas medidas são fundamentais para direcionar as ações de vigilância e garantir a comunicação efetiva de riscos à saúde pública”, expõe.

Para ele, a colaboração entre veterinários, médicos e autoridades de saúde pública é essencial para prevenir e controlar as doenças zoonóticas. “As autoridades devem garantir a estrutura para identificação e notificação rápida dos casos, enquanto médicos e veterinários devem estar alertas às doenças em suas áreas e prontos para comunicar anomalias. Trabalhando juntos, esses profissionais facilitam a identificação precoce, diagnóstico preciso e implementação de estratégias de prevenção. Essa abordagem integrada, baseada no conceito de saúde única, reconhece a interconexão entre saúde humana, animal e ambiental, enfatizando a importância da colaboração para o controle eficaz das zoonoses”, salienta.

No dia a dia desses profissionais, são implementadas diversas iniciativas inovadoras para enfrentar os desafios das doenças zoonóticas (Foto: reprodução)

Estratégias educacionais 

A veterinária Gisele informa que as autoridades de saúde têm buscado incluir o tema das doenças zoonóticas nos currículos escolares e utilizar as mídias sociais para maximizar o alcance das campanhas educativas. “Atualmente, várias estratégias estão sendo utilizadas com sucesso. Isso inclui campanhas de conscientização por meio das mídias tradicionais e digitais, visando informar o público sobre as doenças zoonóticas, seus riscos e medidas preventivas”, enumera.

Além disso, são realizadas palestras e atividades educativas em escolas, com a inserção desses temas nas programações pedagógicas. “Os profissionais de saúde também estão sendo capacitados para reconhecer, notificar, diagnosticar e tratar as doenças zoonóticas, além de orientar o público sobre medidas preventivas e cuidados essenciais. Eventos comunitários são promovidos, nos quais profissionais de saúde oferecem informações sobre doenças zoonóticas e conduzem atividades de divulgação e instrução sobre controle e prevenção. A distribuição de folhetos, cartazes e outros materiais educativos em locais estratégicos, como clínicas veterinárias, postos de saúde e parques, também faz parte dessas estratégias, assim como durante visitas casa a casa realizadas pelas equipes de saúde, para disseminar informações sobre as doenças zoonóticas, especialmente aquelas mais incidentes ou prevalentes em determinadas áreas”, diz.

Essas ações são importantes, levando em conta que o bem-estar animal é crucial para a saúde pública, pois animais saudáveis têm menos chances de transmitir doenças zoonóticas aos humanos. “A guarda responsável, baseada nos princípios da saúde única, promove ambientes saudáveis para os animais, prevenindo a disseminação de zoonoses. O calendário vacinal dos animais de estimação é fundamental para prevenir doenças como a raiva, enquanto o controle sanitário de estabelecimentos veterinários e a conformidade com as normas legais de criação de animais também desempenham um papel essencial. As Unidades de Vigilância em Saúde (UVZs) e as vigilâncias sanitárias são responsáveis por garantir o cumprimento dessas medidas por meio de inspeções, fiscalizações e educação da população”, destaca Gisele.

A guarda responsável, baseada nos princípios da saúde única, promove ambientes saudáveis para os animais, prevenindo a disseminação de zoonoses (Foto: reprodução)

Situações de emergência

Em casos de situações urgentes e de surtos de doenças zoonóticas, o biólogo Eduardo revela que há planos de contingência que delineiam ações para diferentes estágios do evento, desde atenção até emergência. “Esses planos são projetados para oferecer diretrizes claras e específicas, abrangendo desde a vacinação em massa até a aplicação de inseticidas, dependendo da natureza da doença e do nível de gravidade do surto. Além disso, para doenças endêmicas com menor potencial epidêmico, como leptospirose e leishmaniose, existem programas de controle bem estabelecidos, com responsabilidades definidas para cada componente do sistema de vigilância em saúde. Essas ações são coordenadas pela Divisão de Vigilância de Zoonoses (DVZ), garantindo uma resposta coordenada e eficaz diante de surtos de doenças zoonóticas”, indica.

Já no dia a dia do trabalho da equipe, são implementadas diversas iniciativas inovadoras para enfrentar os desafios das doenças zoonóticas, com foco especialmente no controle do Aedes aegypti, vetor de doenças como dengue, zika e chikungunya. “Drones são utilizados para aplicação de inseticidas, armadilhas para captura de mosquitos adultos e mapeamento de risco, seguindo as diretrizes do Ministério da Saúde. Além disso, novas tecnologias estão sendo exploradas para o controle de escorpiões em galerias de água pluvial e para o controle de roedores, com métodos menos agressivos ao meio ambiente. Há investimento, também, em mapeamentos de risco para prevenção de acidentes causados por escorpiões, leptospirose e esporotricose, visando estratégias mais eficazes de prevenção e controle”, aponta.

Com isso, concluímos que…

Neste Dia da Medicina Veterinária, é essencial destacar o papel vital das Unidades de Vigilância em Saúde (UVIS) na proteção da saúde pública. “Com mais de 50 anos de história no Brasil, essas entidades têm sido pilares fundamentais na prevenção e controle de doenças zoonóticas. Um exemplo notável é a Divisão de Controle de Zoonoses de São Paulo, que desde 1973 tem liderado iniciativas cruciais no combate à raiva e na vigilância da leptospirose, contribuindo significativamente para o estabelecimento de normativas técnicas pelo Ministério da Saúde”, reforça Gisele.

Os laboratórios dessas unidades desempenham um papel crucial na identificação de espécies animais e no diagnóstico de zoonoses, oferecendo serviços inestimáveis para a saúde e a ciência. “Os esforços de vigilância das doenças zoonóticas realizados por esses centros são essenciais, destacando-os como unidades de saúde pública indispensáveis ao Sistema Único de Saúde (SUS)”, reitera Eduardo.

Vale mencionar que a pandemia da Covid-19, que assolou o mundo, é um lembrete contundente da importância da vigilância das zoonoses. O vírus SARS-CoV-2, responsável pela doença, originou-se de animais, destacando a necessidade premente de monitoramento constante por parte das autoridades de saúde. Nunca se sabe qual será o próximo agente biológico nocivo a fazer o salto dos animais para os seres humanos e qual será o impacto resultante. Portanto, a vigilância das zoonoses permanece como uma tarefa fundamental para proteger a saúde pública e prevenir futuros surtos e pandemias.

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