Cláudia Guimarães, em casa
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Grandes personalidades sempre despertam nossa curiosidade para saber o caminho percorrido até chegarem onde estão, sejam elas pessoas da música, do cinema, da televisão e, aqui, da Medicina Veterinária. Pensando nisso e com o intuito de apresentar um evento em formato diferenciado, a PremieRpet realizou, na noite de 14 de dezembro, o Vet Show, um evento transmitido em tempo real e em formado de talk show.
A apresentadora do programa foi nada mais nada menos que uma das jornalistas mais conhecidas da atualidade, Mari Palma. Com maestria, a profissional conduziu o encontro esbanjando simpatia e mostrando que fez a lição de casa antes de comandar um evento voltado a médicos-veterinários.
Falando neles, esses profissionais tão importantes para a saúde animal e, também, humana, os convidados da noite foram o Prof. Dr. Archivaldo Reche Jr. (Valdo) e a Profa. MSc. Maria Alessandra Del Barrio (Mallet), ambos especializados em Medicina Felina. Eles participaram de alguns jogos propostos por Mari Palma e a organização do evento, como o tradicional jogo da memória, onde deveriam encontrar os pares de imagens de pets e de embalagens de produtos da PremieRpet. Também responderam a um quiz com perguntas sobre a Medicina Veterinária, quando puderam chamar colegas de profissão da plateia para os ajudar nessa atividade.
Me conte sua história
Esse foi um quadro apresentado pela jornalista para que os veterinários narrassem, resumidamente, suas vidas profissionais. A primeira pergunta que fez à Mallet foi o motivo da médica ter trazido esse apelido pessoal para sua carreira na Veterinária. “Tenho esse apelido desde os meus 9 anos de idade, quando minha amiga de internato, chamada Malu, resolveu facilitar meu nome, me chamando de Mallet. Gosto de sentir as pessoas muito próximas de mim, por isso, estilizei um pouco a grafia e todos, na Veterinária, me conhecem assim. Essa relação de amizade, carinho e confiança é a mágica da profissão”, declara.
Ao Valdo, Mari relembra que quem o incentivou a seguir o caminho da Medicina Felina foi a médica-veterinária Mitika Kuribayashi Hagiwara, sua professora durante a graduação e que estava presente na plateia presencial do evento. “E eu comprei essa ideia. Meus pais trabalhavam com aves, por isso me entusiasmei em trabalhar com avicultura, mas não consegui estágio nenhum na área. No terceiro ano da graduação, procurei a Mitika por achar que ela poderia conhecer algum proprietário de granja e me ajudar. Ela, então, me disse que esse campo era muito fechado e me orientou a mudar de área, me indicando o caminho para gatos. Estou aqui, hoje, depois de 35 anos, cuidando dos felinos”, revela.
Já Mallet conta que foi aos 13 anos que ela descobriu que queria ser médica-veterinária: “Foi quando fiz meu primeiro parto: duas cachorras da minha mãe entraram em trabalho de parto juntas e não tinha ninguém para ajudar. Então, quem fez esse trabalho, fui eu. Ajudei e descobri que era isso que eu queria. Foi paixão e não consigo, até hoje, me ver fazendo mais nada além disso”, compartilha.
Motivações e desafios
Outra pauta levantada por Mari Palma foi o que motiva os veterinários a continuarem na profissão, apesar de tantos anos na área. Valdo responde que o resultado que vê no dia a dia de seu trabalho é sua maior motivação. “Gosto de dar aula, participar de congressos, confraternizar com meus amigos e atender. Tutor de gato é difícil, sabemos! Mais difícil que tutor de cão. Costumo dizer que o proprietário de gato não é muito normal da cabeça, mas um veterinário que quer atender só gato é muito pior”, brinca.
Valdo também lembra que, quando ele começou na profissão, não existia ultrassom, por exemplo, por isso, não era possível fazer um diagnóstico adequado por falta de infraestrutura. “Praticávamos a verdadeira clínica, onde você faz uma investigação e conta com a sua experiência para definir um diagnóstico. Hoje, contamos com isso também, é essencial, mas temos muitos recursos que facilitam nossa rotina de atendimento”, compara.
Outra dificuldade enfrentada pelos veterinários, que, aliás, persiste até hoje e, na visão de Mallet, deve persistir por mais algum tempo é a não compreensão da humanidade: “Nós perdemos aquele entendimento de que existe um limite que não conseguimos ultrapassar. Não só o limite entre a vida e a morte do paciente, mas o limite do emocional do tutor e, ao mesmo tempo, você lida com seu emocional. Isso torna o fardo pesado, principalmente, quando você é muito empático, que é o meu caso. Isso me gera muito sofrimento”, desabafa e Valdo adiciona: “Quantas vezes me pego chorando junto com o tutor! Nós nos envolvemos emocionalmente”.
Histórias, muitas histórias
Quando questionada se há algum caso de atendimento de pet que a marcou em sua profissão, Mallet cita um cão que atendeu em Poços de Caldas, quando era doente na Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Minas Gerais. “Ele era muito querido, a gente se envolveu com seu problema crônico e, no dia da tomada da decisão de eutanasiar esse animal, foi um dos momentos mais difíceis da minha vida. Não consegui pedir para ninguém fazer, fui eu mesma, mas foi complicado. Até hoje, sou amiga da tutora”, menciona.
A eutanásia também é a protagonista da história lembrada por Valdo: “Fiz uma eutanásia de uma gata de uma senhora com Alzheimer. A filha me pediu para não contar que a gente foi fazer eutanásia. Era, então, para eu falar para a senhora que fomos realizar um procedimento no animal e ele morreu. Depois da eutanásia, a senhora me perguntou, chorando: ‘O que ela falou antes de morrer? Ela chorou antes de partir?’. E eu chorei junto”.
Valdo também cita outro caso atendido: “Outro paciente que me marcou foi de uma senhora que tinha 320 gatos e tinha um em especial que ela gostava muito, o Chiquinho. Ele tinha nascido com defeito congênito, sem as duas patas e trás, e teve um tumor em uma das patas da frente, que tivemos que amputar. Conversei com ela e falei que ele não teria qualidade de vida apenas com uma pata, mas ela disse que não interessava quantas patas ele teria, que queria ficar com ele até seu último dia. O gato viveu mais seis anos depois da amputação e ela cuidava dele como se fosse o único, apesar de ter vários”, narra.
Desafios futuros da Veterinária
Perguntando se os veterinários convidados teriam uma previsão em relação aos próximos anos da Medicina Veterinária, Mari Palma arranca uma resposta de Valdo em relação às especialidades. “Acredito que o que vai acontecer com a Veterinária é o que já é uma tendência na Medicina Humana: a especialidade da especialidade, por exemplo, tem o ortopedista que é especialista em mão e o outro que é especialista em pé. A especialidade na Veterinária ainda não é reconhecida em muitas áreas. Mas eu vi muita coisa acontecer, ao longo de minha carreira, que eu não achava que iria vivenciar. Talvez, eu não esteja mais clinicando quando esse momento chegar, mas temos que focar em se especializar, porque temos campo para isso”, recomenda.
Mallet, por sua vez, salienta os tempos sombrios que vivemos e não só por conta da pandemia. “Precisamos pensar no básico primeiro e acredito que estamos em um momento em que o investimento na educação de qualidade deve ser priorizado. Precisamos lutar por melhores formações nas universidades e não focar na quantidade. Já vínhamos com um problema muito sério, mas, com tudo o que aconteceu no ensino com a pandemia, tivemos uma perda de qualidade muito grande. Precisamos resgatar a paixão pela profissão para que as pessoas a executem da melhor maneira possível”, pondera.
A pandemia, impossível de não ser mencionada pelos entrevistados de Mari, prejudicou – e muito – as atividades nas universidades, como comentado por Valdo, por não ter como aplicar as atividades práticas pelo ensino virtual. Mas, por outro lado, na clínica, houve aumento de atendimentos. “A necessidade de sair de casa por um motivo justificável, que seria levar o animal até o veterinário, fez com que o número de atendimentos aumentasse. Isso é um reflexo do momento, não sei se os tutores irão continuar tendo essa preocupação pós pandemia, mas acredito que sim, porque é uma tendência”, argumenta.
“Para o bem ou para o mal, nós todos mudamos com a pandemia”, garante Mallet e declara que percebe que o poder de observação dentro de casa, para qualquer alteração do animal, ficou mais expressiva. “Acho que vieram mais às consultas pela carência de ficar isolado por muito tempo e o veterinário ouve o que ele tem a dizer. Viram, em nós, veterinários, um indivíduo que passou a fazer parte da vida deles mais do que a própria a família”, adiciona.
Novos médicos-veterinários
Como último tópico abordado pela jornalista aos profissionais, Mari questiona quem será esse novo veterinário que está saindo, agora, das faculdades. Valdo já adianta que esse recém-formado irá encontrar muita concorrência pela frente. “Todo ano, muitos se formam, então, ele tem que batalhar e estar muito preparado, porque será uma batalha difícil”, destaca.
Como dica, Valdo orienta aos novos veterinários nunca deixarem de estudar. “Tudo muda na nossa profissão, a cada hora, são novos diagnóstico, novas opções de tratamentos, entre outras coisas. A dica que dou é não se acomodar, o que é muito fácil na Veterinária. Se eu consigo pagar minhas contas com o número de pacientes, eu me acomodo. Mas tenho que me aperfeiçoar e, hoje, os tutores percebem a diferença entre os profissionais. Com a internet, todos consultam o currículo e leem comentários on-line sobre os veterinários”, indica.
Para Mallet, a paixão nunca pode morrer. “Precisamos alimentá-la todos os dias. Temos que ter dedicação, amor, esforço e tudo isso acaba sendo recompensado. No mercado competitivo, temos que nos preparar sempre para ser o melhor. Teve um momento na minha vida em que as pessoas acharam estranho eu ter passado por segmentos diferentes, mas, para mim, seria melhor saber um pouco de tudo. Sem esforço, nós não nos sustentamos no mercado”, avalia.
Por fim, Mari pergunta como os profissionais gostariam de ser lembrados em sua profissão. “Eu gosto de ser lembrada como uma pessoa disponível, pela generosidade, pelo meu esforço e pelo meu compartilhar de conhecimento, de lições de amor e de amizade. Isso, para mim, é a principal semente que quero deixar”, diz Mallet. “Já eu, quero que pensem em mim como alguém que ensina, que passa conhecimento e que pensa no melhor da sua profissão. Foi sempre esse meu foco: engrandecer nossa profissão”, encerra Valdo.
Vale lembrar que a PremieRpet tinha como meta entreter as plateias presencial e virtual durante o evento, mas também, promover uma ação solidária. Até a noite do Vet Show, cada uso compartilhado do filtro do evento no Instagram correspondeu à doação de uma refeição para cada uma das seis ONGs parceiras do Instituto PremieRpet – Amigo Animal, APATA, Catland, DNA Animal, MaxMello e Segunda Chance. Ainda, durante a transmissão do evento, os participantes que enviarem uma foto em tempo real também contribuíram para as doações.
#ficaadica. Quem não pôde conferir o evento ao vivo, pode assistir a gravação do Vet Show neste link.