Cláudia Guimarães, da redação
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Quem tem gato, com certeza já ouviu de alguém – que não tem gato – que esses pets não se apegam ao tutor, que só se apegam às casas ou, ainda, que são muito traiçoeiros. Mas, claro, essas frases só podem vir de pessoas que nunca conviveram com a espécie para entender como eles, realmente, se comportam.
Hoje (08), é o Dia Internacional do Gato e, por isso, falamos com a médica-veterinária referência nacional em Medicina Interna e Medicina Felina e que realiza atendimento exclusivo de felinos na rede Pet Care, Maria Alessandra Martins Del Barrio, mais conhecida como Malê. A veterinária desvenda, com propriedade, todos esses mitos, que devem ser compartilhados com quem – ainda – não entende nada sobre gatos.
Ela indica que toda essa mitologia acerca da espécie vem da Idade Média. “O gato não é um animal citado na Bíblia pelo fato dele ter sido um Deus pagão no Egito e, por conta disso, é considerado como anticristão na Idade Média e sendo associado à bruxaria, ao satanismo. Várias outras coisas que acontecem dentro dessa mitologia medieval colocam o gato como uma criatura desprovida de sentimentos ou apegado às coisas materiais, que não gosta do tutor. Isso, na verdade, não passa de boataria”, garante.
O que acontece, segundo Malê, é que a maior parte dos gatos demonstra o amor de uma forma diferente de como cão expressa. “O cão é um indivíduo muito dependente, que te segue o dia inteiro, um indivíduo que passa 24 horas por dia te olhando, dizendo que é apaixonado por você. Já o gato, dá sinais de carinha do tipo ‘se eu me permito estar na sua presença’, ou seja, ‘se estou ao seu lado, se estou te fazendo companhia, mesmo que eu não esteja te tocando o tempo todo, mesmo que eu não esteja fazendo festa o tempo inteiro, mas se eu te acompanho ao longo dia, já é uma prova de amor bastante importante’”, interpreta.
Malê afirma que compara muito o carinho do gato com o amor masculino. “Tem casais que você percebe que a mulher é muito mais dependente emocionalmente, dá provas de amor e de carinho 24 horas por dia, enquanto a manifestação de carinho do homem acaba sendo um pouco diferente; não precisa ficar o tempo todo dando aquele reforço positivo. Por isso, eu comparo o gato com o amor masculino e eu comparo o amor do cão com o amor feminino. Mas são formas de amar, as duas são puras, as duas são verdadeiras”, destaca.
No entanto, a veterinária reitera que também existem gatos completamente dependentes do tutor, que fazem manifestações de amor 24 horas por dia e que exigem carinho e dão carinho o tempo todo. “Isso também tem uma variação individual”, adiciona.
Comportamento refletido
A profissional expõe que, na natureza, existe a lei da ação e reação e os animais, incluindo os gatos, colocam isso em prática durante toda a vida. Por isso, a forma como o animal é tratado reflete muito em seu comportamento. “Teoricamente, quando você trata alguém com amor e carinho, você recebe na mesma moeda e, se você trata o indivíduo de forma agressiva, hipoteticamente também está trazendo para você uma reação mais negativa. Os gatos, como são indivíduos adrenérgicos, que, na natureza, atuam como presas e predadores, têm um sistema nervoso simpático, aquele que vai secretar substâncias de estresse, como adrenalina e noradrenalina. Ele faz secreções um pouco mais impulsivas, mais intensas e duradouras. Por isso, é claro que se o indivíduo começa a ser sensibilizado de forma negativa ou ele sempre é agredido, a tendência é se tornar um indivíduo agressivo ou um indivíduo fóbico”, informa.
Mas, segundo Malê, o fóbico também fica agressivo, por conta de algo chamado agressividade defensiva. “É aquele indivíduo que está sempre com o pelo eriçado, que coloca as orelhas para trás, aquele que quer se mostrar maior para fazer com que o opositor se sinta amedrontado e não o coloque em risco. Então, é claro que tudo que eu dou pode ser que eu receba na mesma moeda de volta. Agora, não necessariamente indivíduos que são tratados com muito carinho são completamente dessensibilizados. Precisamos lembrar que também existe a natureza inata de cada indivíduo. Existem coisas que podem ter marcado esse animal no momento antes da socialização. Não só o carinho que ele recebe em casa de um adotante, mas temos que lembrar que, se na fase de socialização, nos primeiros meses de idade, esse indivíduo não aprendeu a se socializar com humanos ou talvez tenha convivido com uma mãe mais estressada, liberando substâncias que sinalizassem o perigo constante, pode ser que esse gato também tenha dificuldade de estabelecer um relacionamento afetivo, amoroso e plácido com quem o adota”, explica.
Por isso essa fase de socialização é de extrema importância para toda a vida do gato. “Nos primeiros dias de vida, eles já devem ter contato com humanos e se acostumarem com o toque humano. Isso também vai moldar um comportamento mais agressivo ou menos agressivo, mais amoroso ou menos amoroso”, garante.
Demonstração de afeto
A veterinária compartilha que existem várias formas do gato manifestar carinho e amor pelos tutores. “Acredito que a mais importante delas é o fato dele estar ao nosso lado o tempo inteiro. Você está no sofá, ele está deitadinho no braço do sofá; você está no computador, ele está deitado em cima do scanner ou em cima da sua escrivaninha. Você quer escrever e ele deita em cima do seu bloco de notas ou do seu caderno. Você vai para a cozinha, ele te acompanha. Você está no banheiro e ele está no seu pé; você está tomando banho, ele está no tapetinho; você está na pia se maquiando, ele está em cima da pia. Essa presença constante dele nos ambientes em que o tutor frequenta já significa uma manifestação de amor absurda, porque significa que ele quer ficar ao lado do tutor 100% do tempo”, narra.
Outra manifestação importante, de acordo com a profissional, é o fato do gato se esfregar nas pessoas. “Quando ele fica se esfregando com o rabinho em bandeira, com a cauda levantada e eriçada, fica roçando nas pernas do tutor, até em formato de oito, muitas vezes, o que significa que ele está marcando o território, passando o seu feromônio facial em nós. Nessas situações, ele está nos acariciando e, muitas vezes, ele ronrona ao mesmo tempo, demonstrando que tem prazer. Tem gatos que querem ficar mais grudados ainda: querem ficar no colo, ficar deitado grudado, alguns dão beijinho, outros ficam batendo a cabeça no rosto da gente. É o momento em que eles pedem carinho. São manifestações de amor estupidamente importantes”, atesta.
Mas, mais importante que tudo isso é o tutor saber que o gato tem sua individualidade e suas particularidades. “Ele, como indivíduo e como espécie, deve ser respeitado como tal. Essa é a grande chave do sucesso para uma boa interação homem-gato, para uma boa interação com os filhos de bigodes. Entendendo isso, teremos gatos mais felizes, em um ambiente harmonioso e para que o tutor consiga proporcionar para ele uma boa qualidade de vida. Lembrar que é o respeito à individualidade, realmente, é fundamental, principalmente, em uma espécie tão exigente e tão ancestral como é o gato”, finaliza.