Gabriela Salazar, da redação
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A saúde é um dos conceitos fundamentais para se obter o bem-estar, mas, ao nos referenciarmos a esse estado, é preciso pensar para além do homem, do animal e do meio-ambiente. É assim que especialistas pontuam o ideal de Saúde Única. O avanço do número de profissionais que aderem a este conceito é grande e a explicação é simples: a cada cinco novas doenças surgidas anualmente, três são de origem animal.
A relação das doenças observadas em animais e humanos é estudada desde o século XIX, mas, somente em 1960, o conceito de medicina única foi utilizado, dando origem ao ideal que se conhece hoje. A propagação, no entanto, pode ganhar ainda mais forças na atualidade, já que o avanço populacional provoca desequilíbrios que comprometem a tríade da Saúde Única.
O presidente da Comissão Nacional de Saúde Pública Veterinária (CNSPV/CFMV), Nélio Batista de Morais, falou sobre o tema em um seminário dedicado à leishmaniose, doença considerada uma das que possuem maior intensidade epidemiológica entre as que comprometem humanos e animais no País. O profissional salientou que a proximidade com o ambiente salvagem, devido ao avanço populacional, pode provocar uma alta no número de enfermidades deste porte. “A febre amarela silvestre, a leptospirose e a leishmaniose estão entre as doenças com maior risco de propagação”, explica Morais. Para o gestor da comissão, a chegada destas enfermidades a uma Unidade Básica de Saúde (UBS) representa a falha no conceito da Saúde Única. A leptospirose, por exemplo, segundo ele, representa a precariedade no saneamento.
O ambiente, como um todo, portanto, também é parte fundamental para a obtenção de uma redução no número de epidemiologias. Neste ponto, o profissional ressalta o desmatamento e os processos agrícolas como agentes que podem potencializar essas ocorrências. “Os processos ambientais também favorecem o surgimento de doenças que afetem os animais. Existem dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) que apontam que a cada um grau que se elevam as temperaturas, o aumento de mortes por vetores amplia em até dez vezes˜, afirma o presidente.
Manifestações clínicas demonstram umafalha no sistema de saúde única (Foto: reprodução)
O combate mais eficiente das patologias por meio da atuação integrada entre Medicina Humana e Veterinária é um dos cernes do engajamento do Conselho Federal em relação ao tema. O presidente da comissão explica que, desde a formação do Sistema Único de Saúde (SUS), iniciou-se a adesão de equipes multidisciplinares no Brasil, retirando a visão apenas curativa e ampliando, assim, a saúde para um todo.
O papel do médico-veterinário. “Estima-se que as zoonoses causem 2.5 bilhões de casos e 2,7 milhões de mortes anualmente”, complementa o profissional. Este dado também eleva a preocupação quanto à inserção deste conceito como forma de prevenção destas epidemiologias.Nos últimos anos, tem-se observado um esforço de aproximação e organizações, como a Organização Mundial de Saúde (OMS), Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) e a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), que passaram a desenvolver estratégias conjuntas com o objetivo de diminuir os riscos de emergências e doenças infecciosas resultantes de interface humana, ambiental e animal.
Na visão do presidente da comissão, existem grandes desafios para a implementação das práticas, sendo necessário reforçar a importância do trabalho em conjunto e continuado para que ele, realmente, funcione. “Isso exige uma mudança de mentalidade dos profissionais, algo que só seria possível se iniciado ainda durante o período acadêmico”, aponta.
Em 2011, os médicos-veterinários passaram a fazer parte do Núcleo de Apoio a Saúde da Família (NASF), ponto que auxilia na integralidade do trabalho do profissional da veterinária com o conceito da Saúde Única. O presidente ainda enfatiza o trabalho destes profissionais junto aos produtores que tem como objetivo propiciar melhores condições alimentares, evitando, também, a propagação de outras zoonoses.