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Clínica e Nutrição

Veterinárias citam principais doenças infecciosas em cães e gatos recém-nascidos 

Mortalidade neonatal é considerável e pode estar associada a diversos fatores
Por Equipe Cães&Gatos
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Por Equipe Cães&Gatos

Sthefany Lara, da redação

Criar um ambiente saudável para os filhotes de cães e gatos é crucial para o seu desenvolvimento saudável. Os primeiros dias e semanas de vida, conhecidos como período neonatal, são especialmente delicados, e a prevenção e tratamento de infecções nesse estágio são fundamentais para assegurar um início de vida saudável.

A médica-veterinária, doutora especializada em Neonatologia de Pequenos Animais e parte do Grupo de Pesquisa e Atendimento em Neonatologia Veterinária FMVZ Unesp Botucatu-SP, Keylla Helena Nobre Pacífico Pereira, conta que, durante o período neonatal, filhotes estão comumente sob risco de contraírem diversas doenças infecciosas, uma vez que o sistema imune não está completamente desenvolvido. “As taxas de morbidade e mortalidade são essencialmente mais elevadas do que em adultos. As infecções são as causas da morte em cerca de 51,8% dos filhotes de cães e gatos, sendo 30,3% ocasionadas por sepse bacteriana e 21,4% por outras infecções bacterianas, virais e parasitárias”, explica.

Figura 1. Utilização de umidificador de ar no ambiente. (Imagem tirada no Setor de Reprodução Animal da FMVZ Unesp Botucatu)

Infecções bacterianas

As infecções bacterianas são as mais comuns na rotina neonatal, correspondendo à principal causa de perdas em ninhadas de cães durante as primeiras semanas de vida. “Sendo a sepse a principal causa de mortalidade em cães durante as primeiras três semanas após o nascimento. Os principais agentes bacterianos envolvidos nas infecções neonatais são Escherichia coli, Staphylococcus spp., Streptococcus spp., Klebsiella spp., Enterococcus spp., Pseudomonas spp., Brucella spp., Chlamydia psittaci, Proteus spp., entre outros”, conta.

Segundo ela, as manifestações clínicas das infecções bacterianas em cães recém-nascidos podem variar consideravelmente, mas estes pacientes, comumente, apresentam diarreia, perda de peso, tríade neonatal (hipotermia, hipoglicemia, desidratação), eritema corporal, onfalite, hematomas abdominais e cianose ou necrose das extremidades dos membros, cauda ou orelha. “É importante que o clínico oriente os tutores a monitorarem as ninhadas em busca destes sinais clínicos, e caso algum deles seja percebido, encaminhá-los rapidamente para atendimento especializado”, conta.

Keylla acrescenta que, devido à imaturidade imunológica e de outros sistemas orgânicos, as infecções bacterianas, quando não diagnosticadas rapidamente, podem causar alta mortalidade. “Porém, é possível identificar precocemente sinais clínicos de infecções neonatais. As chances de sobrevivência dos recém-nascidos serão maiores se a infecção for diagnosticada rapidamente e o tratamento for instituído o mais rápido possível”. 

Segundo ela, a mãe e o ambiente são as fontes mais comuns de infecção da ninhada. “Muitas bactérias são transmitidas aos filhotes por via intrauterina, pelo trato genital materno infectado no momento do parto, pelo leite e outras secreções maternas, e pelo ambiente contaminado. Por isso, a prevenção de infecções bacterianas deve ser realizada garantindo uma boa higiene e saúde materna, ingestão do colostro pelos recém-nascidos nas primeiras 12 horas após o nascimento, que fornecerá uma imunidade adequada para proteção durante as primeiras semanas de vida, e manutenção da higiene do ambiente”, afirma.

Infecções parasitárias

A médica-veterinária, especializada em Neonatologia de Pequenos Animais e membro do Grupo de Pesquisa e Atendimento em Neonatologia Veterinária FMVZ Unesp Botucatu-SP, Kárita da Mata Fuchs, explica que vários patógenos estão envolvidos em infecções parasitárias internas de cães e gatos recém-nascidos. “Os  nematóides Toxocara spp., Ancylostoma spp., Strongyloides spp., Trichuris vulpis, o cestóide Dipylidium caninum, e os protozoários Giardia spp., e Cystoisospora spp. têm altas taxas de infecção e podem causar alta mortalidade em ninhadas. Os neonatos podem manifestar letargia, reflexos reduzidos ou ausentes, tríade neonatal, fezes pastosas, diarreia, constipação, desidratação, hipoproteinemia, vômitos, anemia, hematoquezia e, em casos de infecção maciça por nematóides, obstrução intestinal, intussuscepção, perfuração intestinal e peritonite”, diz. 

Os ectoparasitas presentes na mãe, como pulgas e carrapatos, podem migrar rapidamente para os recém-nascidos através do contato materno e do ambiente, explica Kárita. “Por serem hematófagos, a infecção neonatal pode resultar em anemia, além do risco de infecção por outros patógenos dos quais carrapatos e pulgas são vetores, como Babesia spp., Ehrlichia spp., e Dipylidium caninum”.

De acordo com ela, os cuidados pré-natais, como a realização de exames coproparasitológicos antes da reprodução, a vermifugação da mãe e de outros animais do ambiente, e a prevenção de ectoparasitas na gestação, reduzem a possibilidade de infecções parasitárias na ninhada. Os recém-nascidos também devem ser vermifugados e monitorados, o diagnóstico e tratamento precoces serão essenciais nesses pacientes. 

Figura 2. Controle da temperatura e umidade ambiental com um termo-higrômetro. (Imagem tirada no Setor de Reprodução Animal da FMVZ Unesp Botucatu)

Infecções virais

A médica-veterinária, professora doutora do Departamento de Clínica Veterinária da FMVZ-Unesp, Botucatu, especializada em Neonatologia de Pequenos Animais e parte do Grupo de Pesquisa e Atendimento em Neonatologia Veterinária FMVZ Unesp Botucatu-SP, Maria Lucia Gomes Lourenço, diz que há, também, as infecções virais que são, geralmente, mais comumente observadas após o desmame, devido à redução da proteção pelos anticorpos do colostro ao longo do tempo. “No entanto, podem ocorrer no período perinatal. Infecções maternas e a falha na ingestão do colostro podem levar ao desenvolvimento de infecções precoces durante as primeiras semanas de vida, o que pode levar a altas taxas de mortalidade”, explica.

Maria Lúcia comenta que os principais agentes de virais que mais afetam filhotes de cães incluem herpesvírus canino tipo 1, parvovírus canino tipo 2, vírus da cinomose canina, adenovírus canino tipos 1 e 2 e vírus parainfluenza. “Em gatinhos, o herpesvírus felino tipo 1, o calicivírus felino, o parvovírus felino, o vírus da leucemia viral felina e o vírus da imunodeficiência felina estão frequentemente associados à perda de ninhadas. Em geral, estes vírus podem induzir reabsorção embrionária, abortamento, parto prematuro e natimortalidade, bem como, o nascimento de neonatos debilitados, que podem manifestar inapetência, tríade neonatal e distúrbios gastrointestinais, respiratórios ou neurológicos, que pode resultar em mortalidade na ninhada”.

Segundo Maria Lucia, a avaliação pré-natal e a realização de testes específicos para infecções virais em cadelas e gatas antes da reprodução evitarão o acasalamento de fêmeas doentes ou portadoras destes agentes infecciosos, reduzindo o risco de mortalidade perinatal. “A vacinação antes do processo de reprodução é uma medida essencial para garantir a imunidade materna contra diversos agentes infecciosos e a saúde da ninhada. A vacinação também garante níveis adequados de imunoglobulinas no colostro, o que será vital para a proteção dos recém-nascidos”, explica.

Mortalidade neonatal 

A médica-veterinária, especializada em Neonatologia de Pequenos Animais e membro do Grupo de Pesquisa e Atendimento em Neonatologia Veterinária FMVZ Unesp Botucatu-SP, Júlia Cosenza Mendonça, afirma que a mortalidade neonatal pode estar associada a diversos fatores, como causas maternas, causas relacionadas ao parto, aos neonatos, ao ambiente e causas infecciosas.

Causas maternas: genética, doenças na gestação, distocias, agalactia, falha no instinto materno, comportamento inadequado, estresse, desnutrição ou obesidade, mastite, hipocalcemia puerperal, colostro de má qualidade, infecções, traumas, entre outros.

Causas relacionadas ao parto: distocias, asfixia perinatal, hipóxia grave, parto prolongado, descolamento precoce de placenta, falta de assistência, agentes anestésicos inadequados na cesariana.

Causas relacionadas aos neonatos: distocias, hipóxia grave, prematuridade, baixo peso ao nascimento, reflexo de sucção fraco, falha na transferência da imunidade passiva, hipotermia, hipoglicemia, desidratação, malformações, orfandade, infecções, traumas, distúrbios hemostáticos, entre outros.

Causas relacionadas ao ambiente: temperatura e umidade baixa ou elevada, localização da maternidade e cama inadequadas, higiene deficiente, entre outros.

Causas infecciosas: infecções bacterianas sistêmicas e evolução para sepse, infecções parasitárias, virais e fúngicas.

Os cuidados com a sala de atendimento 

A médica-veterinária especializada em Neonatologia de Pequenos Animais, Gleice Mendes Xavier que também faz parte do Grupo de Pesquisa e Atendimento em Neonatologia Veterinária da FMVZ Unesp Botucatu-SP, fala que o controle da temperatura é essencial para a sobrevivência neonatal. “Neonatos são imaturos no sistema de termorregulação, não sendo capazes de manter uma temperatura corporal adequada sem o aquecimento materno ou uma fonte de calor ambiental. Na presença materna, a temperatura ambiente confortável para os recém-nascidos e para a mãe é de 20 a 24ºC. Na ausência materna, a temperatura ambiental deve ser corrigida, já que os filhotes estarão sem a mãe para aquecê-los. A temperatura ambiente recomendada dependerá da idade dos filhotes”. 

Segundo ela, a falta de aquecimento ambiental pode interferir na vitalidade neonatal, levando à depressão e letargia. “A hipotermia reduz significativamente o metabolismo neonatal, o que leva à bradicardia e deprime função gastrointestinal e imunológica. “A capacidade de sucção e a motilidade intestinal são reduzidas, o que prejudica a ingestão e a digestão do leite, bem como a absorção de nutrientes. Nas primeiras horas do nascimento, a hipotermia prejudicará também a absorção das imunoglobulinas do colostro”, afirma e completa que, por outro lado, temperaturas muito elevadas também devem ser evitadas.

“Ambientes hipertérmicos podem estressar a mãe, que pode não se sentir à vontade para deitar e cuidar dos seus filhotes. Altas temperaturas podem provocar desidratação e constipação em neonatos. Além disso, um ambiente superaquecido provoca desconforto respiratório, predispondo à insuficiência respiratória”, afirma Gleice.

Figura 3. Utilização de luvas para a manipulação dos neonatos. (Imagem tirada no Setor de Reprodução Animal da FMVZ Unesp Botucatu)

A médica-veterinária aponta que outro fator importante é a umidade ambiental, que deve ser mantida entre 50% e 60%. “Uma alta umidade acompanhada de uma alta temperatura aumentam a chance de crescimento bacteriano, ocorrência de infecções, e pode levar ao aparecimento de quadros respiratórios graves. Já a umidade muito baixa pode ocasionar ressecamento excessivo da pele e mucosas e desidratação. Pode-se aumentar a umidade do ambiente com a utilização de um umidificador de ar (Fig. 1). A monitorização da temperatura e umidade ambiental pode ser realizada na incubadora ou com um termo-higrômetro (Fig. 2).

A higiene também se faz necessária em uma clínica neonatal. A médica-veterinária Júlia, explica que a higiene adequada do ambiente é fundamental. “Neonatos são mais vulneráveis às doenças infecciosas devido à imaturidade do sistema imunológico. Deve-se utilizar luvas para a manipulação dos filhotes (Fig. 3), manter a higiene do ambiente e do local em que os neonatos estão, e realizar esterilização de materiais e equipamentos.

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