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Veterinário atua como voluntário em casa que acolhe pessoas LGBTQIA+ e seus pets

Por Equipe Cães&Gatos
dia do voluntariado
Por Equipe Cães&Gatos

Cláudia Guimarães, da redação

claudia@ciasullieditores.com.br

No decorrer de nossas vidas, quantas são as pessoas que chegam para ajudar, de alguma forma? E se dedicar a isso, a se voluntariar para fazer com que algo melhore é de uma nobreza e senso humanitário imensos. Neste Dia do Voluntariado, mostramos que, no mundo da Medicina Veterinária, os profissionais podem, não apenas cuidar dos animais, mas de questões sociais, também.

O radiologista veterinário e supervisor do Serviço de Radiologia do CRV Imagem (Rio de Janeiro-RJ), Rômulo Caldas Braga, é veterinário voluntário na CasaNem, projeto de acolhimento da ONG Grupo Transrevolução, que acolhe pessoas LGBTQIAP+ em condição de vulnerabilidade, juntamente com seus pets. Ele compartilha que sempre foi um desejo seu contribuir em retribuição à sociedade, como ex-aluno de universidade pública. “Quando meu cão faleceu e entrei em depressão, foi algo a fazer em honra dele, para me ajudar a superar e transmutar a tristeza”, declara.

Sua função é avaliar os pets que chegam na CasaNem, com os moradores ou resgatados por eles. “Devo fazer um exame físico e investigar se há problemas graves para resolver, mesmo com os recursos limitados, e fazer uma prevenção mínima. A maioria tem infestações por pulgas, carrapatos, vermes, além de subnutrição e doenças infecciosas, sendo de pacientes muito jovens, por isso, orientamos como medicá-los”, narra.

Braga lembra de um caso em que um novo morador levou uma cadelinha e dois gatos e eles foram alocados em um quarto bem pequeno. “A cadelinha defecou todo o cômodo e fui examiná-los e ver em que condições estavam para saber o que era necessário. Na saída, ele pediu que não os levassem embora, suspeitando que eu poderia ter essa função. Nas semanas seguintes, ele limpou e arrumou tudo e se tornou um líder cuidador das pessoas e dos animais na casa. Isso me fez pensar em como julgamos antes de conhecer, de verdade, as pessoas”, analisa.

Outra situação narrada pelo veterinário voluntário foi em uma campanha onde os moradores faziam fila com seus animais para serem examinados, cuidados, pesados e recebiam uma prescrição. “Uma delas pediu, insistentemente, informações sobre o que era para fazer e, então, fiz uma receita já com os remédios que tinha levado, mas informei que, no caso da vacina, teríamos que conseguir ou pedir a outros veterinários. Na semana seguinte, recebi uma ligação de uma pessoa desconhecida que estava numa farmácia com a moradora para comprar e doar os remédios da receita para a cadelinha, mas o farmacêutico informou que nenhum deles era humano. Esclareci à pessoa que era um engano, que ela já tinha recebido os remédios e que, na verdade, o que faltava era a vacina e só em um estabelecimento veterinário seria possível. Foi aí que percebi que a moradora não sabia ler e, por isso, não entendeu o que escrevi na receita”, relata.

Veterinário defende que o trabalho voluntário é uma ação solidária e compassiva, que deveria ser um hábito em nossa cultura (Foto: reprodução)

Preconceito também afeta os animais

O profissional conta que já testemunou agressões contra pessoas trans na rua, suicídio,  abandono, muitas pessoas tristes pela forma como a sociedade, estado e família os trata. “Mas, muitas delas, mesmo em condições de extrema vulnerabilidade, não abrem mão dos seus pets amados. O veterinário tem o dever de apoiar da melhor forma, inclusive denunciar maus-tratos e orientar sobre as doenças que podem ser transmitidas, também, para os seres humanos”, argumenta.

Apesar de ser um desafio intenso atuar diretamente em um trabalho voluntário como esse, Braga afirma que esse contato o ajudou a entender algumas coisas sobre si mesmo. “Percebi que minha posição tem muitos privilégios, ainda que eu tenha meus próprios problemas e só eu possa resolvê-los. A questão mental e psicológica do veterinário é, rotineiramente, muito delicada e precisamos fazer outras atividades para equilibrar nossas visões e perspectivas”, destaca o profissional que, antes de entrar para a CasaNem, também foi voluntário na Casa Ronald, que realiza acolhimento de crianças e adolescentes com câncer, e algumas ações pontuais em abrigos e ONGs protetoras de animais.

Ele revela que colegas veterinários e proprietários de clínicas se oferecem para consultar, castrar, cuidar, intervir e, até, assumir alguns casos mais complicados, chegando ao ponto de divulgar e se responsabilizar por adoções que não poderiam retornar para o ambiente original. “Eles também fazem doações de medicamentos, vacinas e insumos, assim como a indústria farmacêutica (Agener, por exemplo) e distribuidoras veterinárias (Suprimed, nossa madrinha), e até estudantes de Medicina Veterinária participaram das ações. Poucos são perenes (nossos ‘vets e cirurgião Nem’), mas a maioria ajuda quando solicitado. Dr Marcos Makoto, além de sua equipe, é nosso cirurgião Nem, e o Dr Waldemar e Dra Bianca Couto, da The Cat from Ipanema, e a Dra Juliana Rosa, da Promove, são os nossos apoiadores clínicos mais frequentes”, conta o profissional sobre a colaboração de outras pessoas no voluntariado.

Além disso, Braga ainda menciona que o CRV Imagem fez parceria e paga metade dos exames de imagem que a CasaNem precisar. “Incrível que recebemos o que pedimos e, na maioria das vezes, a dificuldade é vencer o orgulho para pedir e se organizar para isso. Os veterinários são muito empáticos e solidários, nunca me senti sozinho. Tentamos divulgar exatamente para aumentar a visibilidade das ações e ‘contaminar’ mais pessoas, mesmo que seja em outros lugares. Às vezes, a gente arrasta alguém de última hora, que está passando por ali para fazer uma ‘visita’ e essa pessoa participa”, diz.

Por trabalhar integralmente no centro de diagnóstico por imagem, Rômulo Braga declara que precisa de planejamento para conseguir dar conta do emprego e do voluntariado. “No início, eu realizava pequenas ações após o expediente, já que o local era bem próximo. Depois, estendemos para ações aliadas a outros colegas, mas ainda tenho dificuldades para conciliar com a organização das ações, já que são independentes – às vezes, é um pouco caótico mesmo. Minha atividade acontece dependendo da necessidade e da minha disponibilidade. Se é um evento de castração, por exemplo, a logística precisa ser melhor planejada”, explica.

Apesar disso, o profissional defende que o trabalho voluntário é uma ação solidária e compassiva, que deveria ser um hábito em nossa cultura. “Eu aprendi e aprendo muito em cada vez que estou envolvido em alguma ação, porque é onde realidades muito diferentes se cruzam. Temos a oportunidade de ver o que, geralmente, nossos olhos não estão acostumados a buscar, conhecer pessoas fora do nosso círculo e ‘bolha’, ouvir histórias que nos fazem questionar nossos valores e construções morais e aprender a lidar com nossos próprios fantasmas e o dos outros. Fiz amigos, participei de vidas em momentos críticos, fui útil e isso me renova e me instiga a novos desafios. Talvez, você também possa se desafiar e se tornar parte desse movimento, mesmo que anônimo”, sugere.

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