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Clínica e Nutrição, Destaques

Veterinário compara a prática da Medicina Integrativa para humanos e para pets

Por Equipe Cães&Gatos
veterinária integrativa
Por Equipe Cães&Gatos

Cláudia Guimarães, em casa

claudia@ciasullieditores.com.br

“Uma abordagem orientada para um sentido mais amplo de cura, que visa tratar a pessoa em seu todo: corpo, mente e espírito”. Essa é a definição da Medicina Integrativa escrita pelo professor Dr. Paulo de Tarso Lima, idealizador e cofundador do serviço de Medicina Integrativa do Hospital Israelita Albert Einstein.

Essa definição, citada pelo nosso entrevistado médico-veterinário acupunturista, coordenador do Serviço de Medicina Tradicional Chinesa e Acupuntura e Técnicas Complementares, que realiza atendimentos na rede de hospitais veterinários Pet Care, Huber Aristóteles Nogueira da Gama Filho, não para por aí: “Enfatiza as relações entre o paciente e o médico e combina tratamentos convencionais e terapias complementares cuja segurança e eficácia tenham sido cientificamente provadas. Ela propõe um resgate das práticas mais antigas sem negar os avanços da medicina convencional”.

“Podemos perceber que, em sua definição, o foco do tratamento não consiste apenas no corpo físico, que é amplamente avaliado por meio dos mais diversos biomarcadores, mas, também, o aspecto psicológico, relacionado a atitudes e comportamentos; e o espírito, que vai muito além da religiosidade, retratando ao aspecto individual de cada ser e aquilo que o motiva a viver cada dia. É aquela energia que nos movimenta e nos dá força para sair da cama a cada dia”, comenta Huber da Gama Filho.

Essa abordagem já tão aplicada na Medicina Humana, na visão do profissional, reserva uma trajetória repleta de avanços, também, na Medicina Veterinária: “E, muito provavelmente, em um futuro próximo, passará a ser chamada de Cuidados Integrativos”, sugere.

Nessa prática, o veterinário explica que a relação entre médico e paciente ganha outro nível de relevância e o processo terapêutico passa a contar com as decisões do paciente por meio do seu empoderamento durante a sua jornada por uma condição melhor. “O foco passa a ser a saúde e não a doença e, ao trazermos para a realidade da Veterinária, o contexto passa a ser semelhante a pediatria integrativa, onde há um terceiro elemento, o tutor, que é responsável por trazer as informações, assumir a responsabilidade e realizar o tratamento proposto”, compara.

Para veterinário, os cuidados integrativos colocam o verbo “cuidar” como centro do processo que envolve o médico e o paciente (Foto: reprodução)

Pontos a serem considerados

Então, o veterinário destaca que a Medicina Veterinária Integrativa apresenta três pilares fundamentais para sua correta aplicação:

Paciente: é a conexão entre o tutor e o médico-veterinário, é o foco do cuidado;

Tutor: responsável pelo animal que deve ser empoderado das informações e tratamentos, deve participar de forma ativa do processo de cuidar e, também, ser cuidado;

Médico-veterinário: parte integrante do processo de cuidar, o olhar para o paciente e o tutor deve ser amplo e sempre considerando as possibilidades terapêuticas além do óbvio. Deve, também, realizar o seu autocuidado.

“Ao se ignorar, ou mesmo desconhecer algum deles, podemos estar realizando qualquer tipo de Medicina, mas não a Integrativa. Esta é a razão pela qual, na Medicina Humana, o termo vem sendo gradativamente substituído por Cuidados Integrativos. Muitos são os profissionais que realizam medicina complementar ou mesmo medicina alternativa e se intitulam médicos integrativistas. Associar terapêuticas, ou mesmo trocar por outras, não é sinônimo de Medicina Integrativa e estas condutas realizadas de forma recorrente fazem com que o termo caia em descrença não apenas pelos pacientes, mas, também, pela classe médica que discute de forma rasa os fatos”, argumenta. Para Gama Filho, o termo Cuidados Integrativos vem resgatar os conceitos anteriores e coloca o verbo “cuidar” como centro do processo que envolve o médico e o paciente.

Para que a prática seja aplicada, o veterinário afirma que alguns pontos chaves devem ser considerados: “Observação global do paciente: expandir o olhar sob o paciente além da doença em si; individualização: o paciente é único bem como a sua realidade e entorno. Retirar o paciente da realidade de dinâmica de população e observar as suas necessidades de forma individual; compartilhamento do plano terapêutico: todos os profissionais envolvidos com o paciente participam na orientação à tomada de decisões; promoção da Saúde e Prevenção; todas as abordagens terapêuticas devem ser consideradas: utilização da medicina convencional e complementar baseada no binômio segurança e eficácia;  observar as influências ambientais e sociais; reconhecer, administrar e diminuir os fatores de estresse; nutrição como ponto chave; utilização de terapias naturais e não invasivas quando possível”, enumera.

O profissional destaca que muitas são as terapias que podem ser consideradas para a realização da Medicina Integrativa visando a promoção da saúde. “Em 2006, foi regulamentada pelo Ministério da Saúde a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) a serem disponibilizadas pelo SUS incluindo inicialmente as seguintes técnicas: Acupuntura, Homeopatia, Fitoterapia, Antroposofia e Termalismo. Hoje, são 29 o total de técnicas inclusas neste rol: Arteterapia, Ayurveda, Biodança, Dança Circular, Meditação, Osteopatia, Musicoterapia, Naturopatia, Osteopatia, Quiropraxia, Reflexoterapia, Reiki, Shantala, Terapia Comunitária Integrativa, Yoga, Apiterapia, Aromaterapia, Bioenergética, Constelação Familiar, Cromoterapia, Geoterapia, Hipnoterapia, Imposição de mãos, Ozonioterapia e Terapia de Florais”, cita.

Segundo o veterinário, na Medicina Veterinária, muitas destas terapias citadas anteriormente são utilizadas frequentemente nos pacientes destacando-se a Acupuntura, a Ozonioterapia, a Homeopatia, a Fitoterapia, Quiropraxia, Reiki e Aromaterapia.

Na Veterinária Integrativa, destacam-se as seguintes terapias: acupuntura, ozonioterapia, homeopatia, fitoterapia, quiropraxia, reiki e aromaterapia
(Foto: reprodução)

Integrativa x Complementar

Gama Filho defende que a primeira contempla a segunda, mas o contrário não é verdade e explica: “Enquanto a Medicina Veterinária Integrativa observa e preocupa-se com o médico, o paciente e o seu tutor, utilizando técnicas complementares ao tratamento quando necessário, a Medicina Complementar foca apenas neste segundo aspecto. Quando pensamos em Medicina Complementar, estamos observando como um complemento ao tratamento utilizado pode auxiliar no seu resultado desconsiderando as relações anteriormente citadas. Na prática, é o que acontece com maior frequência no mercado veterinário atualmente, isto deve-se, em grande parte, pelo desconhecimento da definição correta de Medicina Integrativa, pela visão estreita de alguns profissionais e pelo modismo de algumas técnicas”, opina.

Em direção oposta a estas duas medicinas, o profissional salienta a Medicina Veterinária Alternativa. “Essa, felizmente, tem caído em desuso, mas alguns profissionais insistem em manter ativa de forma quase radical. Esta medicina consiste na substituição de um tratamento a outro preterindo o primeiro. Na maioria dos casos, essa substituição é realizada de forma inconsequente, desconsiderando o binômio segurança x eficácia”, discorre.

Esse tipo de conduta, na visão do veterinário, vai de encontro à Medicina Integrativa, prejudicando a ampliação e acesso desta aos tutores e profissionais. “É, também, uma das causas da mudança de nomenclatura de Medicina para Cuidados Integrativos.  Vale aqui ressaltar que a opção do tutor em escolher uma técnica terapêutica em detrimento de outra não necessariamente será de forma alternativa, mas, muitas vezes, complementar e, até mesmo, integrativa a depender da condução do caso. Aqui devemos entender que, quando a medicação é pior que a doença, aquela deve ser reconsiderada”, explana.

Em sua visão, a prática dos Cuidados Integrativos na Medicina Veterinária muda tudo: “Muda a relação entre as três partes envolvidas no processo terapêutico, gerando um novo paradigma de que a boa medicina é a boa ciência. O tutor empodera-se do processo terapêutico, acessando o conhecimento que, antes, era exclusivo do profissional da saúde; o médico-veterinário amplia o seu olhar sobre o paciente e a sua realidade e o paciente beneficia-se de forma clara desta relação estabelecida entre as partes, o que irá resultar em uma melhora de eficiência e eficácia terapêutica, quando possível, além de desenvolver um trabalho preventivo na maioria dos casos”, alega.

Outro ponto importante mencionado por Huber Filho diz respeito ao grau de confiança estabelecida entre o tutor e o veterinário. “Estudos demonstram que os tutores se sentem mais à vontade para expor as suas questões de caráter pessoal ao veterinário do seu animal do que ao seu próprio médico. O vínculo estabelecido com o tutor e o paciente torna-se uma preocupação genuína e além do laboral restrito a venda de serviço, o que irá refletir na vida do profissional da saúde fomentando o processo de autocuidado”, insere.

Na prática, a prevenção e a manutenção da saúde, de acordo com nosso entrevistado, é o principal foco das práticas de cuidados integrativos. “Infelizmente, esta não é a realidade não apenas na Medicina Veterinária, mas, também, na Humana. Culturalmente, ainda existe, em nosso País, uma atitude focada no tratamento e não na prevenção, o que torna o sistema de saúde mais caro e menos eficiente. O médico-veterinário, neste sentido, tem um papel fundamental em orientar o tutor e avaliar o seu paciente com frequência, de modo a praticar a medicina preventiva adequadamente e detectar os primeiros sinais e sintomas de eventuais doenças em sua fase inicial”, pondera.

Nos últimos anos, a procura pelos cuidados integrativos é crescente, segundo o veterinário. “Em um trabalho publicado em um hospital veterinário dos EUA, cerca de 10% do volume de atendimentos totais corresponderam a Medicina Integrativa, ficando à frente de outras áreas, como dermatologia, cardiologia e medicina interna”, aponta. Alguns fatores impulsionadores, na opinião do profissional, devem ser considerados:

Personalização no animal: “Hoje, o paciente é visto pelo seu tutor como um membro da família e um filho peludo, desta forma, se o tutor tem acesso a práticas integrativas em seu tratamento, naturalmente, ele começa a buscar para o seu animal os mesmos tratamentos”;

Conscientização: “A busca por técnicas e terapêuticas menos agressivas e com menos efeitos colaterais e a prevenção ao aparecimento de patologias leva o tutor a procurar estas práticas”;

Custos: “Fato comum na Medicina Humana e na Veterinária, o aumento dos custos com a saúde é crescente. Uma característica das práticas integrativas é o baixo custo terapêutico quando comparado ao tratamento convencional”;

Disponibilidade: “O número de profissionais bem como a quantidade de técnicas disponíveis no mercado veterinário brasileiro cresce a cada dia permitindo o seu acesso mais facilmente”;

Científica: “A quantidade de trabalhos científicos publicados sobre algumas das técnicas utilizadas na Medicina Integrativa é crescente e não apenas em número, mas, também, em qualidade e com melhor delineamento experimental. Esse fato corrobora com a adesão maior dos médicos-veterinários as técnicas bem como desenvolve bases seguras para a sua utilização junto aos tutores”.

Finalizando, o profissional atesta que a Medicina Veterinária Integrativa é uma modalidade nova de atuação para o médico-veterinário, que deve abranger muito mais do que um aglomerado de técnicas adicionadas ao tratamento: deve ter como foco a relação entre médico-tutor-paciente e a busca pela saúde de todas as partes envolvidas ou, ainda, a sua manutenção. “Desta forma, podemos concluir que não existe Medicina perfeita, que irá resolver ou tratar todas as patologias. O que existe é o melhor de cada Medicina em prol da vida. A junção das diferentes Medicinas em busca da saúde”.