Diagnósticos e automedicação equivocadas podem ser fatais ao animal
Cláudia Guimarães, da redação
claudia@ciasullieditores.com.br
Uma plataforma que entrega informações em poucos cliques e até nos faz pensar como eram realizadas pesquisas rápidas antes dela existir. O Google e todas as suas funcionalidades otimizou o tempo e a vida das pessoas, mas, como para tudo, existe um limite para explorá-lo.
Os médicos-veterinários devem estar atentos a algo que reflete o comportamento da Medicina Humana: o diagnóstico e tratamento do que consideram ser doenças, embasados em pesquisas na internet. O veterinário sócio da Clínica Vetpront (São Paulo/SP), Marco Aurélio Costa Matheus, considera a relação “Tutor x Google” bem complicada. “A empresa revolucionou o conhecer e aprender, mas isso é uma via de mão dupla. Quando um leigo sem base científica vai interpretar a informação ao pesquisar sobre alguma condição de saúde, ele, com 100% de certeza, será levado ao erro”, garante.
O profissional frisa que o diagnóstico final de alguma doença depende de diversos fatores e análises minuciosas. A médica-veterinária Carolina Fernanda Moysés do Nascimento também menciona que o diagnóstico presencial se dá por meio de alguns fatores como: a história clínica do animal, por meio de perguntas ao tutor; exame físico, onde serão avaliados todos os parâmetros, verificando quais estão fora da normalidade; e exames complementares, que podem ser de imagem, laboratoriais, entre outros. “Após todas essas etapas é possível fechar um diagnóstico e, nos casos mais complicados, necessitamos de outros meios mais específicos para cada caso. Me pergunto ‘como seria possível a internet fechar um diagnóstico?’”, questiona.
Cortar o mal pela raiz. Matheus vê o problema disso como um só: “A automedicação, que, em alguns casos, pode complicar o caso e o diagnóstico, uma vez que, pode mascarar os sintomas, dificultando o trabalho do médico-veterinário”, destaca. Além disso, ele menciona a carga emocional e psicológica que um diagnóstico encontrado na internet leva ao tutor. “Uma vez fragilizado, o proprietário já leva o animal para uma consulta tendendo a algo mais grave, como o indicado na pesquisa”, adiciona.
Carolina também diz que é natural a procura por informações sobre a enfermidade que está acometendo os pets e acredita que não há nada de errado nisso. “O problema começa a surgir quando, a partir dessas informações, resolvem fazer o tratamento por conta própria. Essa ação pode levar desde complicações futuras a imediatas e, até mesmo, o óbito do animal, dependendo da dose e frequência do medicamento administrado a ele”, sublinha, mas, crê que a pessoa que reconhece o valor de um profissional e quer o melhor para o seu pet, vai procurá-lo.
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Automedicação pode complicar o caso e o diagnóstico,atrapalhando o trabalho do veterinário (Foto: reprodução)
Matheus ainda considera válida essa busca por referências em diferentes meios. “A informação é o bem mais precioso que uma sociedade tem. Apenas o conhecimento nos faz evoluir. O que deve acontecer é que, assim como nas escolas, onde temos os professores, que conduzem os alunos, em uma obra, o engenheiro, que conduz os pedreiros, o médico-veterinário deve guiar o tutor e o paciente para o caminho correto”, declara o profissional que enxerga, como parte do trabalho do veterinário o dom do esclarecimento. “Esse deve ser um caminho trilhado junto, proprietário e veterinário, nunca por conta”, completa.
Sendo assim, o profissional não aponta os médicos-veterinários como primeiras fontes de consulta. “Infelizmente, meu dia a dia me mostra que, se a pessoa não possui um veterinário em seu ciclo social, ela pesquisa no Google e automedica antes de buscar ajuda de um profissional. Nós precisamos abrir os olhos para isso e orientar os tutores para mitigarmos essa situação e não apenas ficar reclamando nos grupos de WhatsApp”, defende.
Já o médico-veterinário com especialização em Ortopedia e Radiologia, Felipe Augusto Alonso Francatto, observa que a relação “Tutor x Google” pode se tornar perigosa, quando a intenção do proprietário é apenas dispensar o atendimento do veterinário, colocando em risco a vida de seu animal. “Na internet, existem muitas postagens sem filtro do conteúdo, contendo informações e tratamentos errados e perigosos”, salienta. Portanto, defende que essa prática deve ser repensada. “Diversas doenças possuem sintomas inespecíficos. Infelizmente, é comum encontrarmos animais com complicações graves após serem submetidos a tratamentos encontrados na internet, muitas vezes, com medicações que são totalmente proibidas a cães e gatos. Esse tipo de problema poderia ser facilmente evitado caso o tutor tivesse a orientação de um veterinário”, pondera.
Apesar disso, Marco Matheus diz que é notável o veterinário ainda seguir como fonte de maior credibilidade quando o tutor fica diante daquele profissional, de jaleco branco, disposto a sanar todas as suas dúvidas. “Aí, além do cliente, você ganha um admirador. Por lidar com animais, temos uma sensibilidade maior inclusive com pessoas e é isso que muitas delas buscam em uma consulta: não um ser totalmente técnico, mas uma pessoa humana”, comenta.
Para fidelizar o cliente. Assim como em qualquer outra profissão, Matheus declara que o médico-veterinário deve ser ético e transparente, mas tem, também, que estar preparado para ouvir a pessoa e, de certa forma, conduzi-la. “Vejo essa profissão com uma característica a mais: a de ensinar e orientar, como professores. Nosso trabalho é muito bem quisto pela sociedade, por isso, devemos utilizá-lo para educar e não apenas diagnosticar e tratar os animais. Em meu dia a dia profissional tenho como característica principal ouvir o proprietário, nem que a consulta dure três horas. Quero que ele saia sem dúvidas e com, ao menos, 10% do que lhe passei absorvido”, expõe. Para ele, os veterinários não devem esquecer que se formaram na área da saúde e prometeram cuidar dos animais e dos homens.
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Diagnóstico com base na internet é,na maioria dos casos, desmentido porveterinários (Foto: reprodução)
Na visão de Carolina, também é importante o cliente confiar no trabalho do profissional e ter ciência de que ele sabe o que está fazendo. “Essa confiança vem por meio da transparência. É necessário explicar todas as implicações possíveis de ocorrer naquele caso, sendo elas boas ou ruins. É essencial transmitir a segurança que ele precisa nesse momento delicado, onde o seu animal está sofrendo”, recomenda e, em sua concepção, o tutor tem a garantia de que a melhor maneira de cuidar de seu animal é levando a um profissional quando chega com um diagnóstico com base na internet e o exame laboratorial mostra outro resultado de uma doença que ele nunca ouviu falar e, após o tratamento instituído pelo veterinário, o animal fica curado. “Nesse ponto a credibilidade do veterinário aumenta muito”, argumenta.
Francatto considera fundamental manter o diálogo com o cliente durante todo o tratamento e recuperação do animal. “Esse interesse pela melhora e bem-estar do paciente gera confiança mútua entre veterinário e cliente. Muitas vezes, podem surgir dúvidas durante o tratamento e é nessa hora que o Google pode atrapalhar. Portanto, é de extrema importância que o tutor tenha a liberdade de procurar o especialista novamente para sanar essas dúvidas, ao invés de ter que buscar informações duvidosas no Google”, endossa e destaca a vitória do profissional sobre as pesquisas web quando é procurado após o tutor reparar que seu animal não apresentou melhora ou até tenha piorado após o início de um tratamento encontrado em sites.
Diferentes perfis. O veterinário Matheus revela que os donos de gatos, normalmente, são pessoas mais ocupadas, que moram sozinhas e são as que demoram mais para correr a um profissional, em virtude da rotina e, também, pelo manejo mais complicado. “Donos de cães já são o oposto, se consultam mais no Google e vão com maior frequência à clínica”, aponta e insere que, ultimamente, apesar das pessoas terem um cuidado maior com seus animais, ele recebe muitos diagnósticos falsos com base nessas pesquisas, sendo o mais comum as dermatites, autodiagnosticas no Google como neoplasias.
Indo na contramão da busca de informações pelo Google, Francatto frisa que, cada vez mais, os tutores buscam não apenas o atendimento veterinário, mas, sim, o de um especialista. “Tenho como base a procura por meu trabalho dentro da Ortopedia e da Radiologia, que é crescente. Dessa forma, os tutores intensificam a busca pelo tratamento correto e garantem a melhor recuperação possível ao seu animal”, atesta.