Importância do macaco no monitoramento da doença é um dos pontos
A volta do período mais intenso de chuvas atenta para a possível propagação de mosquitos que podem transmitir a febre amarela. Nas últimas décadas, a doença tem preocupado profissionais da saúde. A falta de informação tem sido outro desafio frente ao problema.
As agressões aos macacos, principais vítimas do vírus no ciclo silvestre da doença nos corredores florestais que saem da Amazônia, são um dos reflexos desse problema. Para evitar que os macacos sejam vistos como vilões é necessário ampliar o alcance de informações essenciais.
Os médicos-veterinários têm papel fundamental nesse processo de conscientização, tanto sobre as formas de transmissão da doença quanto na relação do homem com os macacos. Para tanto, é preciso mostrar que os primatas, na verdade, além de vítimas da doença, são sentinelas que contribuem para a identificação antecipada de potenciais riscos à saúde humana.
“O macaco é o principal indicador de que a doença está circulando no local. É graças aos diagnósticos em primatas que conseguimos impedir que aconteça a morte de pessoas”, explica o médico-veterinário da Divisão Técnica de Medicina Veterinária e Manejo da Fauna Silvestre da Prefeitura do Município de São Paulo e presidente da Comissão de Médicos-Veterinários de Animais Selvagens do CRMV-SP, Marcello Nardi.
A médica-veterinária, Cláudia Igayara de Souza, integrante da Comissão de médicos-veterinários de Animais Selvagens do Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV-SP), reforça a importância dos profissionais: “Os médicos-veterinários são encarregados de investigar as epizootias, coletar amostras de macacos para diagnóstico e colaborar na implementação das medidas de controle”.
Apenas os primatas são suscetíveis à doença e há diferença na manifestação da doença entre as espécies. Portanto, cuidar da saúde dos Primatas Não Humanos é um importante passo no controle à doença. Uma das principais vítimas da febre amarela é o macaco bugio, como explica Claudia.
“Os bugios são os mais sensíveis, e costumam apresentar altas taxas de letalidade. Já os saguis são bem mais resistentes, e podem apresentar sintomas inespecíficos, brandos, com baixa letalidade”, explica a profissional, que atua no Zoológico Municipal de Guarulhos desde 1997.

Matar ou agredir as populações de macacos écaracterizado como crime ambiental (Foto: reprodução)
Identificando o problema. A maioria dos animais quando doentes, segundo os especialistas, apresenta comportamento lento, costuma descer das árvores, fica perambulando pelo chão e tem dificuldade de se alimentar. “Ao encontrar macacos doentes ou mortos o órgão local de saúde deve ser notificado para que sejam acionados os procedimentos de investigação, a população não deve mexer no animal, nem enterrar a carcaça”, orienta a médica-veterinária.
O que fazer? Nesses casos, o presidente da Comissão de Médicos-veterinários de Animais Selvagens do CRMV-SP, Marcello Nardi, reforça que entrar em contato com a Secretaria Municipal de Saúde, ou Centro de Controle de Zoonoses, é fundamental no combate à doença. As ações de vacinação e de cuidados básicos para impedir a proliferação de mosquitos têm se mostrado eficientes no perímetro urbano, entretanto, nas em áreas de florestas, a ação ainda é limitada, mas deve ser feita.
“A proliferação do aedes aegypti depende da vigilância da ação dos humanos, impedindo locais de foco de reprodução, como a água parada. Na mata, não podemos usar qualquer medida que desequilibre o meio ambiente”, explica Marcello sobre o desafio do combate em florestas.
Já nos zoológicos, Cláudia salienta que são instituídos procedimentos de quarentena para animais recebidos. “É feita a avaliação necroscópica de animais mortos, coleta e encaminhamento de amostras para diagnóstico e proteção dos primatas residentes por meio de telas mosquiteiro nos recintos”, afirma.
Novas soluções. A médica-veterinária lembra que, por estarem tão próximos dos animais que são peças-chave para o controle e prevenção da febre amarela, diversos médicos-veterinários estão envolvidos em pesquisas sobre a doença nas diferentes espécies e, inclusive, na busca por uma vacina para os macacos.
O advento de uma vacina para os primatas reforçaria o combate à proliferação do vírus da febre amarela. “Laboratórios de referência estão tentando criar uma vacina para os macacos. A vacinação de humanos, quando foi testada em animais, acabou matando os primatas. É preciso aprofundar esses estudos para que em breve tenhamos a resposta de uma vacina no mercado em um futuro não muito distante”, projeta Nardi.
Fonte: CRMV, adaptado pela equipe Cães&Gatos.