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Pets e Curiosidades, Destaques

Vida compartilhada: Cães e gatos são capazes de perceber emoções de seus tutores

Por Equipe Cães&Gatos
emoções
Por Equipe Cães&Gatos

Cláudia Guimarães, da redação

claudia@ciasullieditores.com.br

Por conta do processo de domesticação há milhares de anos, os cães tornaram-se excelentes leitores de linguagem corporal humana e estão, a todo tempo, avaliando nossos comportamentos. Com isso, eles objetivam agir de forma adaptativa em seu ambiente e, consequentemente, garantir sua sobrevivência.

A médica-veterinária formada pela Universidade Anhembi Morumbi e Pós-graduanda em Etologia Clínica na Medicina Veterinária, pela Faculdade Qualittas, clínica geral e comportamentalista no Hospital Veros, Isabella Gavioli Martins, cita que estudos mostram a capacidade auditiva dos cães em interpretar sons humanos e apresentam diferentes respostas comportamentais ao ouvir sons de choro e risadas humanas, por exemplo. “O olfato aguçado de cães também é responsável por captar odores corporais, que são diferentes, dependendo do nosso estado emocional, e já foi comprovada a capacidade de interpretação de todos esses sinais de forma conjunta”, indica.

Mas essa não é uma “habilidade” restrita aos cães. A profissional adiciona que estudos recentes mostraram que os felinos também são ótimos leitores das nossas emoções e apresentam respostas comportamentais diferentes, de acordo com o que sentem e observam. “Por muito tempo, a espécie foi julgada como indiferente às emoções e comportamentos humanos, porém, sabe-se que os estudos elaborados baseavam-se nos testes caninos e, hoje, foram adaptados à espécie e interpretados com a linguagem corporal de felinos. Com isso, tivemos bons resultados a respeito do entendimento deles em relação às nossas emoções”, revela.

Isabella acredita que muitas respostas positivas ainda virão quando for possível adaptar os testes a cada espécie de maneira individualizada. “O estudo do cérebro animal e, em particular, o Sistema Límbico, que é considerado o centro das emoções, ainda nos trará diversas respostas sobre essa temática e estamos ansiosos pelas novas pesquisas”, compartilha.

O olfato aguçado de cães também é responsável por captar odores corporais, que são diferentes, dependendo do nosso estado emocional (Foto: reprodução)

Sensações espelhadas

A médica-veterinária explica que as emoções podem ser percebidas pelos animais por meio de três principais sentidos: a visão, que é responsável pela leitura adequada da linguagem corporal humana; o olfato, que, por sua vez, é importante na captação de sinais químicos corporais e sua interpretação; e, por último, a audição, que torna-se imprescindível para a diferenciação de sons humanos.

Com essa percepção, os animais podem apresentar algumas mudanças comportamentais por serem abalados pelas emoções dos tutores, segundo Isabella. “O objetivo principal das emoções é gerar respostas comportamentais que possam garantir a adaptação ao ambiente e sobrevivência dos indivíduos frente a um estímulo. Assim como nós, os animais avaliam o ambiente ao seu redor a partir do que observam e sentem, para que consigam se proteger ou agir (Sistema Central de Resposta a Ameaça). Portanto, um ambiente imerso em estresse e instabilidade emocional pode gerar um quadro de estresse crônico aos animais, já que alterações físicas e emocionais são encontradas nesses indivíduos”, sinaliza.

De acordo com a comportamentalista animal, muitas doenças dos pets têm sido relacionadas ao estresse crônico, como é o caso da Síndrome de Pandora em felinos, por exemplo. “É sabido que a experimentação do estresse de forma recorrente e prolongada faz ativação do Sistema Nervoso e o mesmo pode levar à resposta autonômica simpática, que cursa sintomas físicos de aumento de frequência cardíaca, frequência respiratória, aumento de fluxo em órgãos vitais, redução da digestão, aumento da pressão arterial, aumento de cortisol, alterações metabólicas e comportamentos alterados como a hipervigilância”, enumera.

Estudos mostram que os felinos também são ótimos leitores das nossas emoções e apresentam respostas comportamentais diferentes, de acordo com o que sentem e observam (Foto: reprodução)

Se cuidar e cuidar do pet

A profissional garante que a conexão emocional é a chave para uma relação saudável entre humanos e animais. “Uma boa relação visa minimizar e/ou extinguir o medo, a insegurança e frustrações por parte dos animais e um ambiente saudável é aquele em que o animal confia em seu tutor, tem rotina previsível de suas atividades, consistência nas interações sociais e liberdade para expressar seu comportamento natural”, descreve.

Para tornar um ambiente seguro e saudável do ponto de vista dos animais, faz-se necessário, segundo Isabella, o entendimento de uma comunicação única na casa respeitada por todos os membros da família, manter a consistência nas interações de forma sempre positiva, evitando punições físicas ou verbais aos erros dos animais. “Além disso, é imprescindível respeitar os limites emocionais de cada indivíduo e prover prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças físicas, mentais e emocionais”, salienta.

De acordo com a profissional, é bastante desafiador manter consistência quando estamos estressados ou ansiosos com nós mesmos e nossa própria rotina. “Mas devemos nos lembrar que os nossos animais estão atentos aos nossos sentimentos e comportamentos a cada passo e responderão de forma adaptativa ao ambiente”, alerta.

Isabella declara que o médico-veterinário é o responsável pela saúde física, mental e emocional dos animais e é dever deste profissional trabalhar com a conscientização dos tutores sobre o bem-estar animal. “Acredito que o ponto de partida da ciência por trás do bem-estar animal foi por meio das cinco liberdades dos animais, descritas por Ruth Harrison, em 1964, na publicação da obra ‘Animal Machines’. A partir disso, a temática começou a ser cada vez mais estudada, debatida e aplicada de forma mais clara na sociedade”, pondera.

Muitos estudos, segundo Isabella, começaram a ser elaborados na tentativa de comprovar a senciência dos animais e, hoje, há a compreensão de que ela não só existe, como deve ser respeitada e admirada. “A senciência trata-se da capacidade de um indivíduo em sentir, de maneira consciente, emoções negativas e positivas e já foi declarado pela comunidade científica que a maioria dos animais tem plena capacidade de experimentar emoções”, assegura.

As emoções primárias que os animais podem sentir, como comentado pela profissional, são: medo, alegria, raiva, nojo e surpresa. “Essas são comprovadas cientificamente, pois são consideradas inatas, evolutivas e estão intimamente ligadas à vida instintiva e a sobrevivência dos animais. Já as emoções secundárias, como culpa, inveja, orgulho e emoções complexas, são difíceis de comprovação científica em animais, pois exigem certo grau de abstração e envolvem questões culturais, éticas e morais”, compara.

Em sua visão, a comunidade veterinária precisa ter clareza sobre a temática para que os tutores de animais sejam educados e possam evoluir juntos, em prol do bem-estar animal. “A Medicina Veterinária Comportamental ainda é pouco disseminada e parte disso é devido à falta de clareza sobre as questões mentais e emocionais dos animais. Estamos muito animados e positivos sobre o crescimento dessa área relativamente nova no Brasil e gostaríamos de contar com a ajuda da nossa classe para a identificação dos distúrbios de comportamento em animais e o direcionamento aos profissionais especializados para o diagnóstico e tratamento dos desequilíbrios emocionais em nossos pacientes”, finaliza.