A dioctofimose é uma afecção causada pelo nematódeo Dioctophyma renale, também conhecido como verme gigante ou parasita do rim, podendo chegar a 100 cm de comprimento e 1,3 cm de diâmetro (MONTEIRO et al., 2002). Pertencente à ordem Enoplida, família Dioctophymatidae, superfamília Dioctophymatoidea, sua infecção é considerada uma zoonose e seu parasitismo ocorre, principalmente, em carnívoros domésticos e selvagens, mas pode acometer bovinos, equinos, suínos e humanos (OLIVEIRA et al., 2005).
Tal patologia acomete, principalmente, animais de vida errante, que, por ventura, possuem hábitos alimentares menos seletivos. O ciclo evolutivo do parasita ainda não é totalmente esclarecido, mas sabe-se que possui hospedeiro intermediário como as oligoquetas e um hospedeiro paratênico, que são os peixes e anuros, sendo estes uma possível fonte de alimento para os animais de vida errante (MACE e ANDERSON, 1975; MEASURES e ANDERSON, 1985). Logo, o hospedeiro definitivo é aquele que ingeriu o hospedeiro paratênico, que possui uma larva encapsulada presente particularmente na musculatura abdominal, na parede do estômago ou no mesentério (MACE e ANDERSON, 1975; MEASURES e ANDERSON, 1985).
O percurso que a larva de D. renale faz após o hospedeiro definitivo ingerir o hospedeiro paratênico ainda não é totalmente esclarecido, mas sabe-se de duas possibilidades, sendo a primeira que a larva, já no duodeno, penetra a parede do órgão chegando na cavidade abdominal, onde se desenvolve, tornando-se um parasita adulto e, por fim, adentra no rim parasitando-o. Já a segunda teoria é que a larva, ainda no estômago, penetra a parede estomacal, passa para a cavidade abdominal, podendo também passar pelo fígado, onde se desenvolve antes de parasitar o rim, sendo o direito o mais acometido devido à proximidade anatômica dos órgãos (HALLBERG, 1953; MACE e ANDERSON, 1975).
Entretanto, o parasita já foi encontrado na cavidade peritoneal, na vesícula urinária, no útero e no estômago (MEASURES, 2001). O hospedeiro definitivo elimina ovos do parasita adulto, geralmente hospedado no rim, por meio da urina, tais ovos evoluem no meio externo reiniciando o ciclo biológico. Cães com dioctofimose, frequentemente, são assintomáticos, mas podem apresentar sinais clínicos como hematúria, polaciúria, cólicas abdominais, anorexia, perda de peso e fraqueza (FORTES, 2004; GALVÃO et al., 1999).
O diagnóstico é realizado por meio da pesquisa de ovos no sedimento urinário e do ultrassom abdominal, onde é possível observar no rim parasitado a detecção de estruturas arredondadas, com uma fina camada externa hiperecoica com o centro hipoecoico (COSTA et al., 2004; OLIVEIRA et al., 2005). Já os exames laboratoriais podem apresentar anemia, hematúria, piúria, proteinúria e azotemia (MACE e ANDERSON, 1975; MEASURES e ANDERSON, 1985).
Este trabalho tem como objetivo relatar um caso de dioctofimose em cão da raça Pastor Alemão, na cidade de Bragança Paulista, assim como evidenciar os achados clínicos e patológicos relacionados à doença.
Leia o relato de caso completo na edição 280, de dezembro, da revista Cães&Gatos VET FOOD.
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