Wellington Torres, de casa
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De diversas cores, formatos e odores, as plantas e flores podem ser encontradas em grande parte dos lares brasileiros, seja nos quintais ou dentro das próprias residências, ao servir como ornamento. Contudo, você, médico-veterinário ou tutor, sabia que algumas delas podem ser prejudiciais a saúde dos animais de companhia?
Se a resposta for não, fique atento, pois de acordo com o médico-veterinário Waldir Fonseca, que atua na área de Patologia Clínica e atualmente é Diretor Técnico Executivo Veterinário no Pasteur Diagnósticos Veterinários, algumas delas podem apresentar grandes riscos aos pets.
“Existem tanto plantas como flores, como por exemplo a Comigo ninguém pode, a Costela de Adão, a Copo de Leite, a Carrapateira, a Mamona, o Lírio, a Cafézinho ou erva de rato e a Samambaia que possuem toxicidades que levam a intoxicação durante o processo de ingestão. Vale ressaltar que cada uma delas possuem uma toxicidade que acomete sistemas específicos”, explica o profissional.
Segundo ele, a fim de contextualizar o comentário anterior, o lírio, por exemplo, causa toxicidades à função renal e a Samambaia que, se ingerida, causa efeitos nocivos ao aparelho neurológico de cães ou gatos ao consumi-la.
Por isso, se atentar ao onde e como os animais poderão ter acesso a elas é imprescindível. “Elas precisam ser acondicionadas em local e altura apropriados, de uma maneira que não desperte curiosidade ao animal, principalmente aos filhotes, que ainda estão descobrindo as coisas. O local onde o animal vive deve ser livre de plantas ou flores tóxicas ou objetos que coloquem a vida em risco”, aconselha o médico-veterinário.
Mas como saber se o animal ingeriu alguma flor ou planta tóxica?
De acordo com Fonseca, os animais tendem a apresentar alguns sinais de intoxicação, contudo eles variam muito, por isso é sempre importante “observar as mudanças de comportamento, como falta de apetite, vômito, diarreia, excesso de salivação, aumento de frequência de urinar e crise epilépticas”.
Ao notá-los, será necessário ir o mais rápido possível a um médico-veterinário, para que assim um diagnóstico seja realizado. O profissional pontua que para identificar o acometimento por intoxicação de flores ou plantas se faz necessário o relato dos tutores, com base na anamnese, exame físicos e complementares, como hemograma, bioquímicos e ultrassonografia.
Do outro lado da moeda
Como prova de que uma intoxicação por plantas ou flores não deve ser banalizada, o publicitário Marcelo de Almeida Mello Pasqualucci relatou em seu Facebook, no dia 18 de março, o falecimento de sua gata, Gamora, após ingerir lírio.
Em contato com a nossa equipe, o tutor explicou que, após cinco dias dos primeiros sinais, como prostração e vômitos constantes, e 4 locais ,entre clínica veterinária, hospitais e clínica especializada, mais de 15 profissionais envolvidos e um custo de mais de R$ 10.000,00, ela não resistiu.
“Na segunda-feira, o primeiro dia que levei ao veterinário, foi tentado tirar sangue, mas não deu muito certo pois estava agitada e foi dado remédios simples, para enjoo e um suplemento alimentar. Chegamos até marcar um ultrassom para o dia seguinte”, conta Pasqualucci.
No dia seguinte, o animal acordou melhor e o cuidador acabou cancelando o ultrassom, o que não durou muito tempo, tendo de entrar em contato com o médico-veterinário outra vez. O profissional sugeriu que o animal fosse levado ao hospital para poder fazer o ultrassom, pois haveriam conseguido um encaixe.
“Primeiramente, foi realizado um novo atendimento do qual foi possível fazer a coleta de sangue e como complemento, um raio x do pulmão. Segundo, a veterinária que analisou o raio-x, foi pontuado que já havia uma indicação de algum problema, mas que eu poderia voltar com ela para casa. O ultrassom não foi feito devido a uma confusão no atendimento/agenda do hospital”, relata o publicitário.
Na quarta-feira o animal volta a piorar
“Fui novamente ao hospital para receber as informações do exame de sangue com a Gamora. No atendimento, o veterinário demonstrou muita preocupação e resolvemos interná-la na mesma hora. Saindo do hospital, minha irmã me liga dizendo que havia um vaso de lírio na casa da minha mãe e que a gata poderia ter ingerido. Foi aí que chegamos à conclusão do envenenamento. Logo que recebi esta informação e neste momento, todo a condução para tratá-la mudou e seguimos a rota correta”, afirma.
Ao retornar no período da noite ao hospital, naquele mesmo dia, para falar com uma nefrologista, foi indicado a realizada de uma diálise. “Questionei se a Gamora tinha tido alguma melhora baseada em outro exame, pois estavam fazendo fluidoterapia, mas como não tínhamos um parâmetro, tentamos manter ela mais uma noite para ver se respondia à internação.
No penúltimo dia, como relata Marcelo, alguns parâmetros de saúde do animal melhoraram, mas o rim começou a apresentar problemas. “Peguei ela e fui até um hospital especializado em rim para fazer o procedimento de diálise. Após a primeira sessão, ela teve um problema pulmonar – talvez aquele que já havia sido apontado no raio-X mas não se foi dado a devida importância – e tivemos que locomover a Gamora para uma UTI de ambulância, pois a clínica de diálise não tinha estrutura para tratar a nova condição. Talvez este tenha sido o ponto mais dramático. Ela chegou expelindo sangue e estava em uma maca com uma série de aparelhos conectados a ela”, relembra o tutor, acrescentando que horas depois, na sexta-feira, ela acabou falecendo.
Atenção de TODOS
Referente ao relato realizado por ele no Facebook, Marcelo deixa claro que a intenção é chamar atenção das empresas que comercializam plantas tóxicas para que alertem aos clientes deste perigo. “Eu acessei sites que vendem lírio e a informação não consta em lugar algum e mesmo quem tem gato há muito tempo, pelos contatos que tive após o incidente, também alegaram desconhecerem o poder tóxico da flor”.
“Se vale sonhar, deveria haver uma lei que obrigasse ao mercado de flores/plantas em prover este alerta, para que o cliente, consciente do tipo de perigo que está trazendo para dentro de casa, possa ao menos mudar de ideia e comprar outra flor/planta”, finaliza o tutor.
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