Cláudia Guimarães, da redação
claudia@ciasullieditores.com.br
Atenção à higiene pessoal e do ambiente, bem como manter as vacinas essenciais em dia – em humanos e em animais –, são alguns dos fatores que proporcionam a prevenção das zoonoses, aquelas doenças que são transmitidas de animais para humanos e vice-versa. Mas quem passa essas orientações são os médicos-veterinários que atuam no controle de zoonoses dos municípios.
Para entender melhor esse trabalho tão importante desempenhado por esses profissionais, conversamos com a médica-veterinária, analista em saúde e diretora da Divisão de Vigilância de Zoonoses/COVISA/SMS/SP, Valéria Gentil De Tommaso. Ela explique que os médicos-veterinários da Divisão de Vigilância em Zoonoses (DVZ) realizam diversas funções, que variam desde a questão técnica até a gestão de pessoas e gestão administrativa.
“Entre essas atividades, podemos citar algumas, como atendimento e orientação ao público, avaliação de animais com suspeita de zoonoses, solicitações diversas como animais agressivos ou animais de grande porte soltos em via pública, vacinação contra raiva de cães e gatos, realização de eutanásia quando indicado, atividades laboratoriais, análise epidemiológica de dados, elaboração de textos e material educativo. O veterinário é, também, credenciado como autoridade sanitária, realizando atividades fiscalizatórias em residências e em estabelecimentos veterinários”, enumera.
Em sua visão, existem diversos desafios para o médico-veterinário que atua no serviço público e na vigilância de zoonoses, principalmente em uma cidade do tamanho de São Paulo. “Acontecem diversas situações complexas que exigem muito conhecimento técnico e habilidade em resolução de conflitos, sendo, por vezes, necessária uma equipe multiprofissional para contribuir na resolução das demandas”, revela.
Ações em equipe
Isso porque o município de São Paulo, de acordo com Valéria, realiza um extenso trabalho, possuindo diversos programas de vigilância ativa e passiva para a prevenção e controle de zoonoses. “Como, por exemplo, atendimento 24 horas todos os dias da semana, recebimento de animais suspeitos de raiva para coleta de material para diagnóstico laboratorial, avaliação e coleta de material para diagnóstico de outras zoonoses, como esporotricose e leishmaniose”, cita.
Ela ainda menciona que o programa de vigilância e controle da raiva contempla o serviço de recolhimento de morcegos, no caso de adentramento nas residências, e disponibiliza vacinação contra raiva de cães em gatos o ano todo em 16 postos fixos e diversos postos volantes em pontos estratégicos da cidade.
Além dessas ações, segundo a diretora da DVZ-SP, a equipe realiza, ainda, atividades de vigilância e controle de arboviroses e animais sinantrópicos e possui dois laboratórios, um de diagnóstico laboratorial de zoonoses, que contribuiu com as ações das vigilâncias epidemiológica e ambiental, e outro de identificação da fauna sinantrópica de importância médica, com ações de vigilância passiva e ativa.
Valeria também conta que, no caso de animais em situação de rua, o município de São Paulo possui um programa de esterilização cirúrgica gratuita. “A solicitação é feita pelo canal SP 156. Lembrando que não é previsto o recolhimento de animais em situação de rua que não representem um risco à Saúde Pública”, salienta.
Para a profissional, o controle populacional de cães e gatos é uma importante ferramenta que contribui na diminuição de abandono por ninhadas indesejadas, possível diminuição de agressividade e territorialização, saídas noturnas de felinos e brigas por acasalamento, por exemplo. “Porém, alguns trabalhos mostram a complexidade de obter sucesso no controle populacional de acordo com as estratégias de seleção do animal, como idade, sexo e domiciliação, por exemplo, além de fatores como o desconhecimento da população animal, situação de imigração e fontes de reposição da população que também interferem”, indica.
É muito importante, de acordo com a profissional, não mexer em animais desconhecidos e que não se sabe seu comportamento para a prevenção de mordeduras, apesar da vontade que muitos têm em acariciar um animal que cruza seu caminho nas calçadas. Parece algo mínimo, mas já contribui para evitar a transmissão de possíveis zoonoses. “Caso a pessoa seja arranhada ou mordida, é preciso lavar bem o ferimento com água e sabão e procurar atendimento médico o mais rápido possível”, alerta.
Número de pets em casa
Em relação a esse tema tão questionado quando vemos notícias sobre acumuladores de animais, Valéria declara que, de acordo com a lei municipal nº 13.131/2001, é permitida a manutenção de, no máximo, 10 animais entre cães e gatos por residência no município de São Paulo. “Cada tutor é responsável pelos cuidados com os seus animais. À Vigilância de Zoonoses cabe autuar segundo a legislação, que prevê, entre outras coisas, que os animais devem ser mantidos em condições higiênico sanitárias satisfatórias e com a vacinação contra raiva atualizada”, explica.
Caso haja uma denúncia e a constatação pela Autoridade Sanitária de residência com mais de 10 animais, Valéria diz que será lavrado um Auto de Infração e o responsável estará sujeito a aplicação de penalidade de multa conforme previsto na lei municipal nº 13.131/2001.
No geral, Valéria considera muito importante que o assunto de vigilância de zoonoses seja abordado, assim como para a população como um todo, mas especificamente para os clínicos veterinários. “Independentemente da área de atuação de cada profissional, todos nós somos agentes de saúde pública, devendo estar atentos aos sinais e sintomas, atualizado com a mudança de perfil das doenças, sempre notificar e buscar orientação dos órgãos competentes para melhor conduzir cada caso e, juntos, melhorarmos o convívio entre as pessoas e os animais e, assim, promover a saúde de todos”, finaliza.