Cláudia Guimarães, da redação
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Todos sabemos que mudanças e outras situações que exigem certa adaptação são difíceis até para nós, seres humanos. Com os animais de companhia não é diferente, por isso, todo período de adaptação é considerado delicado e exige atenção e planejamento para evitar quadros de estresse que podem prejudicar a saúde destes pets.
A médica-veterinária e coordenadora Intensivista do Nouvet, Bruna Mara Dorighelo, lembra que os cães e gatos têm formas diferentes de reagir a um período de adaptação e, além das características da espécie, é preciso, também, considerar características individuais, como experiências vividas pelo animal anteriormente.
Segundo a profissional, a adaptação dos cães no novo lar, por exemplo, principalmente nos primeiros dias, não deixa de ser desafiadora. “O novo ambiente, novas pessoas, novos pets, nova rotina e cheiros são alguns dos desafios no primeiro momento, assim como permanecerem por muito tempo sozinhos. Nesse caso, se for necessário se ausentar por muito tempo nesse início, algumas estratégias podem ser usadas para manter o pet mais confortável, como por exemplo, brinquedos para entretê-los, deixar pertences com cheiro do tutor no ambiente que o pet for estar, promover enriquecimento ambiental etc.”, cita.
Para os felinos, Bruna afirma que é sempre mais desafiador quando o assunto está relacionado a mudanças. “A segurança territorial é o quesito mais importante, ou seja, se estão em um ambiente desconhecido, levam um tempo para entender cheiros, sons e até mesmo texturas, antes de se sentirem à vontade. Gatos adultos costumam ser mais territorialistas. Novos moradores ou novos lugares mudam a rotina e o odor do ambiente, então todo início da convivência e adaptação precisa ser mais gradativa e cautelosa”, recomenda.
Os felinos, ainda de acordo com a profissional, são muito sensíveis a qualquer situação que possa provocar estresse e não só relacionada ao ambiente, novas pessoas ou pets. “A familiarização com a caixa de transporte, idas ao veterinário, realização de exames de sangue, imagem, físico etc., são sempre desafiadores quando falamos da espécie, por isso, é muito importante que todo profissional que trabalhe com os felinos tenha conhecimento e manejos Cat friendly, evitando, assim, casos de pico de estresse”, expõe.
Tutores, atenção!
Mas o que especificamente pode causar estresse nos animais? Bruna afirma que qualquer mudança da rotina no ambiente dos cães e gatos e a falta de segurança daquilo que já conhecem são fatores importantíssimos para ambas as espécies. “Sendo assim, quaisquer alterações podem desencadear estresse e comportamentos que o pet não apresentava antes, desde uma mudança de móvel do lugar até a mudança de residência, por exemplo”, declara.
Quando mudanças no ambiente forem necessárias, a veterinária sugere que fatores que possam ser mantidos, sem interferências na rotina, sejam seguidos, como manter horário da alimentação, momentos de brincadeiras e interação, passeios, caso sejam acostumados. “Também é importante manter os pertences do pet no local, pois o seu cheiro torna a adaptação mais tranquila. A inserção de um novo pet no ambiente pode ser um desafio para ambas as espécies, desta forma é recomendado que ela seja realizada de forma gradual e supervisionada, respeitando sempre os limites de cada um”, salienta.
Outras recomendações
Além disso, a veterinária indica a prática de atividades que desenvolvam o físico e o cognitivo dos animais durante o dia, inclusive para os felinos, realizar o máximo de socialização que puder ser oferecido, como passeios, daycare, eventos com outras pessoas, passear de carro etc. “É importante frisar que a melhor forma é educar de maneira positiva, nunca utilizando métodos aversivos. Por fim, mas não menos importante, ter um local tranquilo para descansar e expressar seus comportamentos naturais é essencial”, complementa.
Ainda, a caixa de transporte, segundo Bruna, deve ser mantida no ambiente do pet, principalmente dos felinos, e a familiarização deve ser feita no dia a dia, oferecendo alimentos, para que os felinos associam como positiva a entrada no transporte. “O enriquecimento ambiental também é uma forma importante de minimizar possíveis situações de estresse. Em relação aos felinos, podemos ter nichos em locais elevados e estimular o instinto de caça, por exemplo. Para os cães, temos alguns brinquedos educativos que podem ser utilizados no dia a dia”, diz.
Feromônios também podem ajudar e têm como função proporcionar ao pet sensações de conforto e tranquilidade. Musicoterapia e aromaterapia também são grandes aliados para esses momentos. “Cada situação exige uma medida específica, por isso, a visita inicial ao médico-veterinário é tão importante para sanar dúvidas e conhecer formas e técnicas benéficas de manejo para tutor e seu pet”, frisa.
Principalmente, quando alterações no comportamento natural do pet começarem aparecer, como fazer as necessidades em ambientes que não estavam acostumados, apatia ou agitação, agressividade, falta ou diminuição no apetite, arranhaduras ou lambeduras excessivas, automutilação, vocalização ou miados excessivos, sinais de ansiedade de separação (quando o pet não consegue ficar sozinho). “Tudo isso pode ser alerta para procurar um veterinário, pois esses sinais podem estar relacionados com fatores emocionais, mas não podemos descartar possibilidades de patologias sistêmicas”, alerta.
Bruna defende que os médicos-veterinários são aliados em questões para além da saúde, mas, também em relação ao bem-estar dos pets. “Nós somos os responsáveis por orientar os tutores quanto às maneiras para promover o bem-estar animal”, reitera e elenca cinco principais fatores que os veterinários levam em consideração para promover o bem-estar animal. Esses fatores envolvem:
- Liberdade nutricional: o pet deve ser livre de fome e sede, dessa forma, o tutor deve ser orientado sobre a melhor dieta, quantidade, frequência, assim como manter água sempre fresca, com fácil acesso e a vontade;
- Liberdade sanitária: o pet deve ser livre de dores e patologias. Nesse caso, o tutor deve ser orientado sobre como prevenir possíveis doenças e, sempre que o pet demonstrar algum sintoma, ser responsável por fornecer o cuidado veterinário;
- Liberdade comportamental: o pet deve ser livre para demonstrar seu comportamento natural e o tutor deve entender, como latir, miar, cavar, arranhar, subir em móveis, correr, no caso dos felinos, comportamento noturno etc.;
- Liberdade ambiental: o pet deve estar livre de possíveis desconfortos, ter um local adequado para descanso, conforto térmico e higienizado corretamente;
- Liberdade psicológica: o pet deve estar livre de medos, situações de estresse, ansiedade ou qualquer sofrimento mental.
“Nós, médicos-veterinários, somos responsáveis por orientar e auxiliar na melhor maneira de realizá-los. Hoje em dia, os pets são considerados membros da família e estão cada vez mais próximos à rotina dos tutores, mas não podemos esquecer que nossa rotina influencia diretamente nas questões comportamentais e emocionais dos pets, tanto positiva quanto negativamente, então respeitar a natureza dos pets é de extrema importância.”, encerra.