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Eutanásia: chegou, mesmo, a hora do pet partir?

Veterinário diferencia a eutanásia, a ortotanásia e a distanásia e comenta a relação da decisão do tutor com o bem-estar animal
Por Equipe Cães&Gatos
eutanásia
Por Equipe Cães&Gatos

Cláudia Guimarães, da redação

claudia@ciasullieditores.com.br

Uma das questões que mais despertam controvérsias e que está entre questões éticas e humanitárias é a eutanásia. Mas será que todos os tutores de animais de estimação que recebem a indicação do procedimento devem, imediatamente, consentir com essa sugestão do médico-veterinário ou vale uma segunda opinião?

O médico-veterinário, proprietário da Clínica Veterinária Dr. Pet, Eric Prestes, discorre o assunto com a gente, mas, antes explica o que denota esse termo. “A eutanásia é uma palavra vinda do latim que significa, no sentido literal, ‘morte boa’, mas o contexto dessa palavra fica melhor quando adaptado para ‘morte digna’”, declara.

O profissional explica que o procedimento é realizado a partir de uma anestesia, para que, então, o animal possa receber a medicação, a “solução de eutanásia”, como ele chama. “O procedimento é indicado a animais que não possuem mais qualidade de vida, autonomia ou resposta adequada aos medicamentos. Realizamos a eutanásia, com consentimento do tutor, quando o tratamento acaba somente por prolongar o sofrimento, ou seja, quando a doença é mais cruel do que a própria morte”, aponta.

O termo eutanásia é o mais conhecido quando se trata de pacientes que já estão à beira da morte. Nela, há, como explicado pelo veterinário, o processo da indução da morte de forma artificial. “Também existe a ortotanásia, que é quando se opta por deixar o animal partir pela própria doença, sem interferir no processo, somente oferecendo cuidados paliativos e conforto até o momento da sua morte. Além disso, temos a distanásia, que é a tentativa de tratamento, mesmo quando há uma doença incurável e terminal. Neste, são realizados tratamentos e procedimentos, mesmo que invasivos, como uma tentativa de prolongar ou curar a enfermidade. Cabe destacar que esta apenas prolonga o sofrimento, sendo, até mesmo, uma questão de bioética e bem-estar animal”, diferencia.

Procedimento é realizado a partir de uma anestesia, para que, então, o animal possa receber a medicação, a “solução de eutanásia” (Foto: reprodução)

Antes de bater o martelo

Prestes informa que cabe ao tutor, após receber a indicação de eutanásia para seu pet, decidir se deve ou não ouvir uma segunda opinião de especialistas. “Mas, de modo pessoal, acredito que é bom para obter mais opiniões, para que, assim, possa se sentir mais seguro e informado durante o processo de sua decisão”, considera.

Desde que começou a atuar como veterinário, Prestes acredita que já atendeu cerca de 50 animais seja porque o tutor tomou essa decisão sozinho ou, em outros casos, de veterinários que já tinham explicado como é realizado o procedimento ao tutor, mas, com esse cuidador buscando outra opinião sobre o quadro, conseguiu reverter a situação. “Um dos casos mais marcantes foi a de uma pitbull filhote. A tutora solicitou eutanásia somente pelo fato de o animal ser muito ativo e agitado. A eutanásia foi recusada e a tutora, então, a disponibilizou para adoção. Hoje, essa cachorra é a mascote da nossa clínica, a quem demos o nome de Vida”, narra.

Eric Prestes conta mais um caso que chegou a sua clínica: “Uma vez, uma cliente nos procurou para uma segunda opinião referente à necessidade ou não de fazer eutanásia em sua cachorra, pois o outro veterinário disse a ela que seria a melhor solução, visto que o animal estava com um tumor de quase três quilos, ulcerado e com miíase (lesão aberta e com bicheira), além disso, o pet também estava com infecção generalizada. A cirurgia para o caso seria a mastectomia, que consiste na retirada do tumor de mama do animal. Cabe ressaltar que a mastectomia é uma cirurgia cara, no entanto, eu falei para a tutora para tentarmos o procedimento, pois eu cobraria o mesmo valor que ela pagaria para fazer a eutanásia. Assim, a cachorra teria mais uma chance de vida. Com efeito, a tutora consentiu com a tentativa e, para a nossa alegria, a cirurgia foi um sucesso e a cachorra segue viva, sendo que isto ocorreu no início deste ano”.

Após receber a indicação de eutanásia para seu pet, cabe ao tutor decidir se busca uma segunda opinião de especialistas (Foto: reprodução)

Na visão do veterinário, buscar todas as alternativas possíveis é ter a certeza de que foram esgotados todos os meios terapêuticos disponíveis na Medicina Veterinária, restando apenas a morte como forma de alívio para o sofrimento do pet. “Mas, quando conseguimos salvar um animal, geralmente, a gratificação dos tutores é imensa e vem em forma de presentes, postagens em redes sociais e indicação do meu trabalho para outras pessoas. Além disso, sempre mandam fotos dos pets para que eu saiba que eles estão bem e saudáveis”, compartilha.

Mas, quando se dá o momento de confirmar, de fato, a eutanásia? Prestes revela que existem alguns meios que auxiliam o médico-veterinário a avaliar a qualidade de vida do animal, como, por exemplo, a tabela criada por Yazbek e Fantoni (2005) para a avaliação de pacientes oncológicos. “Porém, não existe uma fórmula ou decisão correta quanto à decisão da eutanásia. De forma ética, o veterinário em si não indica (e nem pode induzir) o tutor a tomar essa escolha. A possibilidade de solicitar uma eutanásia deve partir do tutor e ser avaliada pelo profissional”, destaca.

Pontos importantes ao tutor e ao veterinário

Conforme determinado pelo Código de Ética, nenhum procedimento veterinário pode ser gratuito, salvo aqueles associados à ONGs ou oferecidos por serviço público específico. Portanto, até no momento de eutanasiar seu animal de estimação, o tutor terá que lidar com algumas despesas. “Existem custos quanto aos medicamentos utilizados no procedimento e podem existir gastos adicionais caso o tutor opte por deixar o corpo do animal no estabelecimento veterinário. O segundo ocorre porque o serviço de descarte adequado é fornecido por empresa terceirizada, sendo cobrado, muitas vezes, conforme o peso do animal”, menciona.

Outra informação importante, frisada por Prestes, é que não existe uma tabela oficial ou algo similar quanto ao preço dos procedimentos e, também, não é permitido pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) a divulgação de valores em mídias sociais.

Já como dicas a seus colegas veterinários, Prestes ressalta que a realização da eutanásia faz parte do juramento que o profissional da Medicina Veterinária realiza no dia de sua formação: de priorizar, acima de tudo, o bem-estar do animal. “Aos veterinários e tutores, ressalto que a melhor escolha para o animal nem sempre será a melhor escolha para nós. Em alguns casos, é uma escolha egoísta manter o cão ou gato em distanásia pelo apego sentimental e de forma a esquivar-se de uma possível culpa”, aconselha.

Em sua opinião, no momento em que o tutor decide realizar o procedimento, não deve existir sentimento de culpa pela escolha, mas, sim, de dever cumprido ao cuidar do animal até o máximo que sua vida lhe permitiu. “A partir do momento em que o animal não entende, porque está preso dentro de seu próprio corpo, ou que a vida não lhe é mais digna e compatível, é o momento de deixar partir”, conclui.