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Pets e Curiosidades

Austrália: Caça aos gatos é a melhor medida de controle populacional?

Docentes de Medicina Veterinária comentam novas medidas divulgadas pelo governo australiano para conter a população de gatos ferais
Por Equipe Cães&Gatos
caça aos gatos
Por Equipe Cães&Gatos

Cláudia Guimarães, da redação

claudia@ciasullieditores.com.br

Os animais em situação de rua, além de viverem em constante exposição a perigos, como atropelamento, envenenamento e doenças, representam um problema de saúde pública. Recentemente, o governo da Austrália anunciou novas medidas para conter a espécie, considerada invasora, que preveem autorizar ações como a eutanásia e a caça de felinos encontrados na natureza. Mas seria esta a melhor saída para diminuir a população dos gatos ferais?

O professor, médico-veterinário e diretor da Faculdade de Medicina Veterinária Qualittas (FMVQ), Francis Flosi, observa que a sociedade, no mundo todo, vem sofrendo mudanças de hábitos e modo de vida, no intuito de famílias menores e com um aumento de aquisição e afeiçoamento por animais de companhia. “Mas, ainda contamos com baixos níveis de escolaridade e de saneamento, associados à falta de educação sanitária das comunidades e à negligência das autoridades governamentais. Em decorrência disso, à medida que aumenta o número de animais domiciliados, aumenta a quantidade de abandonos na mesma frequência. Portanto, eu, enquanto médico-veterinário, não vejo com bons olhos o Programa de Extermínio/Eutanasia de Felinos”, opina.

Profissional acredita que uma decisão como essa, tomada por um País, pode incentivar outros governos a seguirem o exemplo (Foto: reprodução)

Por sua vez, o professor do curso de Medicina Veterinária, da Faculdade Anhanguera, Hernandes da Silva Rocha Júnior,  que declara que, como tutor e amante de felinos, considera triste pensar que medidas extremas terão que ser tomadas. “Mas, como médico-veterinário, sei que, se a população de gatos não diminuir drasticamente nesta região, haverá grande perda da biodiversidade local e, possivelmente, extinção de algumas espécies”, defende. 

Hernandes lembra que medidas para evitar a eutanásia já foram realizadas na Austrália, como esterilização dos animais, limitar a quantidade de gatos que cada tutor pode ter e etc., porém, sem sucesso.

Flosi acredita que uma decisão como essa, tomada por um País, pode incentivar outros governos a seguirem o exemplo. “Isso porque tal situação acarreta problemas de saúde e segurança pública, já que a associação entre os seres humanos e os animais pode apresentar diversos riscos. A falta de conhecimento dos tutores sobre as necessidades dos felinos, o manejo incorreto, o alto potencial reprodutivo, os fatores culturais, religiosos e socioeconômicos, além de falta de políticas públicas efetivas para o controle populacional, contribuem, de forma considerável, para os riscos que os animais podem simbolizar”, observa.

Dentre os riscos, segundo Flosi, os de maior importância são: a transmissão de zoonoses, os prejuízos ambientais, os acidentes automobilísticos, os acidentes a seres humanos por mordeduras e arranhaduras, assim como os problemas de proteção e bem-estar animal. “Gatos errantes vivem em situações inadequadas e podem ser vítimas de maus-tratos. Por isso, pode caber alguma decisão baseada em programas de outras nações”, adiciona.

Hernandes, por outro lado, afirma que precisamos sempre lembrar que os felinos em questão não são nativos deste ambiente e estão prejudicando não só a flora, como a fauna local. “Uma vez que há uma espécie responsável pela extinção das demais, medidas devem ser tomadas. Creio que os outros países não vão ser induzidos a tomar as mesmas medidas, desde que haja um equilíbrio na cadeia alimentar da biodiversidade local”, opina.

Caça aos gatos faz parte da história

Como comentado pelo docente da FMVQ, toda e qualquer decisão tomada sem um devido estudo multiprofissional pode ser um erro de gestão governamental. “Por exemplo, durante a Inquisição Espanhola, o Papa Inocêncio VIII decretou que os gatos eram uma representação do mal e, por isso, milhares de gatos foram queimados. Na perseguição às bruxas em toda a Europa, o gato tornou-se um objeto de superstição associado ao mal. Até os próprios gatos foram perseguidos, torturados e sacrificados. Nas festividades religiosas, gatos eram queimados vivos nas celebrações. Alguns gatos foram até emparedados vivos em casas construídas, sob a crença de que tal traria boa sorte”, relembra.

Um bom plano de ações de manejo das populações dos gatos em áreas urbanas representa um grande desafio para autoridades da saúde (Foto: reprodução)

Algumas das superstições, como lembra o docente, resistem até hoje: “Por exemplo, acreditar que, ao cruzar-se com um gato preto, terá má sorte. Os resultados desta perseguição foram prejudiciais não só para os gatos, mas, também, para os humanos. Com a diminuição do número de gatos, a população de roedores – camundongos e ratazanas portadoras de doenças – aumentou, fator que contribuiu para a propagação das  pragas e de outras epidemias por toda a Europa”, relata.

Em relação à caça aos gatos que o documento australiano prevê, o docente da Faculdade Anhanguera espera que as pessoas que irão realizar esse controle sejam bem treinadas. “A fim de realizar as medidas necessárias de maneira rápida e precisa, evitando um sofrimento maior e desnecessário ao animal”, pondera.

Medidas eficazes e dentro do bem-estar animal

Na visão de Flosi, um bom plano de ações de manejo das populações dos gatos em áreas urbanas é um grande desafio para autoridades da saúde: “Primeiro, pela falta de diagnóstico situacional quanto à realidade da população desses felinos na área urbana. Podemos planejar três procedimentos para o controle populacional de gatos: restrição da movimentação, controle do habitat e controle reprodutivo. As ações de educação intermitente em saúde pública para a posse responsável de felinos domésticos e a esterilização cirúrgica dos animais são medidas indicadas como estratégias de controle populacional para essa espécie”, indica.

Flosi cita que as entidades de proteção aos animais sempre apoiam a possibilidade de um programa de esterilização, de incentivo à prática de posse responsável, se tornarem políticas de governo. “Sabemos que o Estado/governo é o que tem os instrumentos, recursos, competência e o alcance ideal para implantar uma política de controle populacional de felinos e de outros animais. Ressalto que o sacrifício de animais, além de cruel, já mostrou não resolver o problema da superpopulação e só a educação para a guarda responsável, a execução das leis e a esterilização são o caminho para resolver o problema da superpopulação e, consequentemente, do abandono de gatos e outros animais. O que precisamos, na verdade, é de vontade política de se fazer o certo, com resultados positivos”, conclui.