As alegrias são incontáveis ao lado dos animais de estimação, mas, quando eles adoecem é um balde de água fria aos tutores, principalmente, quando ocorre um quadro grave de maneira inesperada, como o animal parar de andar, de maneira súbita.
A médica-veterinária pós-graduada em Fisiatria Veterinária e Acupuntura Veterinária e membro do Grupo Afrovet, Mara Aparecida de Oliveira Silva, lista as principais razões de um animal parar de andar. Mas, antes, ela explica que o quadro pode acontecer de forma aguda: um dia, o animal, simplesmente, para de andar; ou de forma progressiva, iniciando com dificuldade para levantar e com o tempo, parando totalmente a locomoção.
Os motivos podem ser, segundo a profissional:
- Trauma: resultado de um atropelamento, queda de locais altos, pauladas, chutes, tiro de arma de fogo ou qualquer ação externa traumática que atinja a coluna vertebral, gerando luxação ou fratura na mesma com lesões medulares, resulta em paralisia.
- Doenças infecciosas: cinomose, toxoplasmose, neospora caninum, raiva, leishmaniose e mais raramente ehrlichia e babesia, são exemplos de agentes que entram no diagnóstico diferencial e necessitam ser testadas. “Nos gatos, lembrar da leucemia felina (FeLV), que pode levar a linfomas medulares que resultam em paralisia”.
- Intoxicações: aqui, a veterinária menciona fármacos em doses inadequadas; falha de algum órgão; ingestão de toxinas.
- Hérnia de disco: ocorre quando o material presente entre vértebras, responsável pelo amortecimento, invade o canal vertebral e comprime a medula espinhal, levando à paralisia. “Pode ocorrer em qualquer raça, mas é mais comum em Basset, Dachshund, Lhasa apso, Beagle, Shih tzu, Corgi e Pequinês – animais de patinhas curtas e corpinhos mais compridos, logo, os sem raça definida, que têm essa conformação, também são propensos a esse problema.
- Neoplasia: Neste item, a profissional cita os cânceres que ocorrem na coluna ou próximo a ela, comprimindo a medula e levando a uma paralisia.
- Tromboembolismo secundário à cardiomiopatia hipertrófica: os sintomas mais comuns deste quadro são: vocalização alta devido a intensa dor aguda, respiração acelerada, tosse, apatia e, além da paralisia das patas traseiras e perda do tônus femoral, há uma diminuição da temperatura dos membros posteriores.
“Notando mudança no modo de andar do animal, é importante encaminhá-lo, o quanto antes, ao médico-veterinário. Esse profissional, conseguirá realizar a triagem de forma adequada e assim, caso necessário, encaminhar para o especialista indicado. Para isso, exames sanguíneos e de imagem, como raio-x, tomografia e ressonância, podem ser requisitados, assim como coleta de líquor”, ressalta.
Mara ainda salienta que os sintomas clínicos na locomoção, ou seja, se o animal vai parar de andar, das torácicas ou pélvicas, ou das quatro patas, têm ligação direta com a localização da lesão no sistema nervoso central.
Atenção aos riscos!
Como explicado, um animal pode parar de andar “do nada”, porém, ele pode apresentar sintomas progressivos que, às vezes, os tutores não veem como sinal de algo que esteja por vir, como comentado pela veterinária. “Por isso, é muito importante trabalhar o manejo com os animais, a fim de evitar que as lesões ocorram. Aqui, podemos citar: controle de peso dos pets, não permitindo deixar os animais ficarem acima do peso; uso de rampas ou escadas próximo ao sofá ou cama para evitar que os animais saltem de locais elevados; atividade física de forma regular e ponderada que ajuda não apenas a manter uma musculatura trabalhada, como também estimula o cognitivo do animal; evitar brincadeiras de arranque, como jogar bolinhas, principalmente, em piso liso; manter animais em pisos adequados e, aqui, é muito bem-vindo o uso de tatames, passadeiras e placa moeda com o objetivo do animal não escorregar e, assim, não sobrecarregar articulações”, elenca.
Mas, atenção: alguns pets podem ver o tatame ou a passadeira como um banheiro ambulante e outros tentarão comer o material. “Optando por um desses dois antiderrapantes, é importante a vigilância do animal nesse novo material. A placa moeda, nesse sentido, é bem indicada sendo fácil de limpar e difícil de ingerir”, recomenda.
Mas, pode ocorrer, também, do animal estar acostumado a sempre fazer certo movimento e, um dia, esse movimento ser o suficiente para um disco da coluna herniar, por exemplo. “Então, é bem importante manter um manejo preventivo em casa e redobrar a atenção em cães que possuem o corpo comprido com patinhas curtas, os chamados condrodistróficos”, frisa.
Tratando o problema
A médica-veterinária informa que vários fatores influenciam no tempo de tratamento para esses pacientes, entre eles:
- Quanto antes tiver o diagnóstico fechado e tratamento instituído, melhores as chances do animal na recuperação;
- Quão profunda é uma lesão e se há sensibilidade e reflexos neurológicos nesse pet;
- Idade, peso e doenças concomitantes também entram como fatores influentes no prognóstico;
- A frequência que o animal fará sessões de fisioterapia e/ou acupuntura;
- O manejo em casa também entra na recuperação. Os tutores são de grande importância na recuperação do animal.
“Todos esses fatores são ponderados para conseguirmos dar uma estimativa de tempo de recuperação quando essa é possível. E essa estimativa varia: há casos de boa recuperação em semanas, a maioria em meses e, em raros casos, em anos”, complementa.
E Mara já adianta: “É totalmente possível o animal recuperar os movimentos, principalmente se há sensibilidade presente”, garante. Segundo ela, é importante o veterinário saber a diferença entre reflexo de retirada e sensibilidade à dor profunda. “Esses testes são realizados em animais que pararam totalmente de se locomover, na falange do animal com pinça. O animal puxar a pata não significa que possui sensibilidade, mas, sim, que o reflexo de retirada está presente. O melhor prognóstico é quando fazemos o teste e o pet, além de puxar a pata, demonstra desconforto tentando morder, por exemplo. Quando o reflexo de retirada é o único presente, o prognóstico passa para reservado, podendo, aqui, o animal desenvolver o chamado ‘andar medular’”, elucida.
A profissional afirma que quanto antes iniciar os estímulos com fisioterapia e/ou acupuntura, melhor o prognóstico para o pet. “Por isso, quando o animal está iniciando com dificuldade de locomoção, já é interessante passar por avaliação com esses profissionais. Quando são submetidos a cirurgias, a fisioterapia e acupuntura já devem ser realizadas antes mesmo do procedimento cirúrgico e retomar o quanto antes após cirurgia e não esperar a retirada de pontos”, declara.
Cuidando, também, do tutor
A veterinária menciona que o psicológico de todos os envolvidos diante destes casos é uma questão de extrema importância. “Geralmente, o tutor chega na clínica muito ansioso, com medo do pet não se recuperar, muitas vezes, já pensando em eutanásia por achar que não haverá solução para aquele quadro e isso faz com que o veterinário também fique extremamente pressionado a solucionar e acalmar o tutor. Então, é importante, de ambas as partes, veterinário e tutor, respirar fundo e partir para os cuidados necessários”, indica.
Um pet paralisado, como é de se esperar, muda a rotina da casa, pois ele fica dependente de seu tutor e tudo que muda a rotina, de início, nós, meros mortais seres humanos, já pensamos que não vamos conseguir “dar conta” daquela realidade. “Mas é essencial o médico-veterinário não encorajar o tutor a comprar cadeirinha de rodas nesse primeiro momento até saber se o quadro é reversível ou não. Em casos reversíveis tratados de forma conservativa, a cadeirinha atrapalha a melhora do animal, pois ele não terá estímulos para se locomover sozinho”, alerta.
Também, de acordo com Mara, é importante passar sobre a possibilidade do animal desenvolver infecções urinárias, pois muitos pacientes nesse quadro não conseguem urinar e/ou defecar sozinhos em para evitar esse problema, é indicado ensinar ao tutor, com muita paciência, como esvaziar a bexiga do pet, realizando esse procedimento a cada 2-3 horas. “E, acima de tudo, manter o animal limpo para evitar o surgimento de moscas! Quanto ao uso de fraldas, é uma solução para cada realidade: há tutores que acham mais prático usá-las, enquanto outros preferem não. Optando pelas fraldas, lembrar que, assim como nas crianças, os pets também podem ter alergias a determinadas marcas”, encerra.