O Brasil conta com uma realidade econômica e social que proporciona a produção de muitos problemas derivados da disparidade econômica e dentre os quais as zoonoses, que, por aqui, comumente são reconhecidas como doenças negligenciadas, o que acaba abalando a Saúde Única, saúde do homem, do animal e do meio ambiente. Pessoas abaixo da linha de pobreza em ambientes sem saneamento básico e com livre reprodução de animais a solta no meio urbano são as mais afetadas.
A médica-veterinária, pesquisadora, doutoranda em Sociedade Tecnologias e Políticas Públicas (SOTEPP-UNIMA-AL), membro do CRMV-AL (Comissão de Saúde Pública) e do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) como conselheira na gestão 2023-2026, Evelynne Hildegard Marques de Melo, defende que esse cenário permanente é o potencializador de doenças. “Isso porque animais nas mãos de pessoas sem condições de cuidá-los, inevitavelmente, produzem doenças e o estreito contato com pessoas leva à transmissão zoonótica de baixo, médio e alto impacto”, revela.
Assim, como observado pela veterinária, países que não mantêm equidade social e economia equilibrada têm menos problemas advindos de um meio ambiente contaminado e a saúde das pessoas permanece em equilíbrio e com baixos índices zoonóticos.
Exemplos de Saúde Única
Segundo Evelynne, o cuidado clássico de prevenir carrapatos em cães domésticos é um bom exemplar de ação em prol da Saúde Única. “Os carrapatos são ectoparasitas (parasitas que habitam a parte externa do corpo dos animais) e que têm, em seu ciclo, um momento de vida obrigatoriamente no solo e em gramados. No animal, esses parasitas permanecem por tempo determinado para o objetivo de sugar o sangue. Durante esse contato ectoparasita-animal, há transmissão de patógenos que causam doenças graves, como babesiose, febre maculosa e erlichiose, por exemplo, e que também podem acometer o homem. Ou seja, esse ciclo que acontece em nosso entorno no cotidiano, envolve a saúde do animal, a saúde humana e a saúde ambiental e é uma das atitudes constantes do trabalho dos veterinários”, mostra.
Outro exemplo é a zoonose chamada esporotricose, doença causada por um fungo que habita alguns tipos de solos com vegetações envelhecidas e troncos de árvores ou espinhos de roseiras e que, acidentalmente, é transportado para as mãos de jardineiros (quando lidam com atividades de jardinagem) ou com as unhas de felinos que têm hábito de escavar o solo para esconder suas fezes ou afiar unhas em árvores e que, também, acidentalmente, perfuram a pele de pessoas diante de contatos físicos. “Felinos que vão a óbito com esporotricose e que são enterrados em jardins ou outros solos proliferam o fungo no local e potencializam a disseminação no ambiente. Novamente, é um ciclo que envolve a saúde do animal, da pessoa e do meio ambiente”, indica.
Outra zoonose tão comentada é a leishmaniose, que envolve um mosquito transmissor, que habita solos com matéria orgânica e água (lama) e acomete, nos centros urbanos, mais comumente os cães domésticos e estes se tornam foco para a doença ser transmitida ao homem, completando o ciclo zoonótico. “Ou seja, também temos aí um exemplo de Saúde Única na prática, envolvendo a saúde animal, humana e ambiental”, menciona.
Para encerrar, Evelynne destaca que a saúde única é o conceito que representa a atuação do médico-veterinário, já que este é o profissional mais qualificado para cuidar de tudo o que o conceito engloba.
