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Veterinária mostra como ajudar um gato arisco a se adaptar ao novo lar

Cuidados essenciais e técnicas de enriquecimento ambiental ajudam o tutor a oferecer bem-estar aos gatos medrosos
Por Cláudia Guimarães
gato arisco
Por Cláudia Guimarães

Adotar um gato, estando cheio de expectativas para curtir a fase inicial com o novo pet pode ser frustrante quando se descobre que o pet é arisco ou medroso. Essa situação pode ser desafiadora, mas, com paciência e cuidado, é possível criar um vínculo de confiança e proporcionar um ambiente seguro para o animal.

A médica-veterinária da na rede de hospitais Pet Care e pós-graduada em Etologia Clínica de Cães e Gatos, Isabella Gavioli Martins, destaca que o primeiro passo para receber o novo membro da família é preparar um cômodo separado, como um quarto ou escritório. “Esse espaço deve ser livre de possíveis rotas de fuga, com poucos ruídos externos e conter todos os recursos essenciais para o bem-estar do gato, como comedouro, bebedouro, caixas de areia, tocas, esconderijos e brinquedos”, orienta.

Tutor não deve forçar interações, pois é preciso respeitar os limites emocionais do animal (Foto: reprodução)

Nos primeiros dias, segundo a profissional, é fundamental respeitar o tempo do animal e permitir que ele se habitue ao novo ambiente sem pressa. “Evite entrar no cômodo sem necessidade, não tente pegá-lo no colo ou oferecer carinho forçado, pois isso pode causar estresse e aumentar o medo. Aos poucos, com reforço positivo, o gato começará a sentir-se mais seguro e a confiança em sua presença será estabelecida de forma natural e gradativa”, salienta Isabella que ainda informa: “A adaptação de gatos a novas situações pode variar entre três meses e um ano, sendo este um período aceitável”.

Como criar um ambiente seguro?

De acordo com a médica-veterinária, a chave do sucesso é entender que os gatos, além de predadores na natureza, também são presas e, por esse motivo, podem se sentir ameaçados com facilidade.

Para tornar um ambiente seguro e acolhedor, Isabella menciona que o tutor deve respeitar os cinco pilares do bem-estar felino:

  • Fornecer local seguro com esconderijos caso se sintam inseguros ou com medo (caixas de papelão e/ou tocas;
  • Sobre a distribuição dos recursos no ambiente, devemos respeitar a distância adequada umas das outras (zona de alimentação, zona de bebedouro, zona de descanso, zona de arranhadores e zona de banheiro);
  • Firmar interações sociais previsíveis, respeitosas e positivas, ou seja, fixar uma rotina de interação com o animal em horários fixos, garantindo a previsibilidade, e ofertar alimentos como sachês ou petiscos;
  • Permitir e incentivar o comportamento natural predatório com estímulo de brincadeira de caça com varinhas e brinquedos em sessões de, pelo menos, 10-15 minutos, de uma a duas vezes ao dia em momentos fixos (manhã ou noite);
  • Respeitar a importância do olfato, evitando cheiros fortes como perfumes, desinfetantes fortes, banhos ou areias perfumadas.
Tutor deve oferecer um local seguro com esconderijos, como caixas de papelão (Foto: reprodução)

Sinal positivo!

Para que o gato se sinta seguro e acolhido pelo novo tutor, a profissional menciona que a oferta de ração, alimentos úmidos, petiscos e proteínas in natura são uma boa forma de associar a presença do cuidador com algo positivo. “Brinquedos que estimulem a caça, como as varinhas, e brinquedos interativos com comida são grandes aliados para estimular a autoconfiança do animal e conforto emocional”, cita.

Uma forma bacana de incentivar o animal a explorar o ambiente, como indicado por Isabella, é ofertar atividade de caça tesouro: “Espalhar grãos da ração ou petiscos no chão pode ser uma forma de apresentar novos cômodos da casa e permitir associação positiva gradualmente. Músicas relaxantes também podem ser uma boa forma de deixar o animal mais calmo, como as clássicas e meditativas, sempre em volume baixo”, ensina.

Gatos em bem-estar, segundo ela, gostam de explorar o ambiente de forma alegre e confiante, buscam interações com os humanos de forma espontânea, podem esfregar o rostinho nos humanos ou móveis, ronronar na nossa presença e dormem em locais visíveis sem se esconder. “Todos esses sinais são positivos e indicam que o tutor está avançando na adaptação”, informa.

Enriquecimento ambiental

O enriquecimento ambiental é uma excelente forma de garantir o bem-estar físico, mental e emocional dos animais, especialmente dos felinos. “Gatos que vivem em ambientes enriquecidos são mais felizes, saudáveis e menos propensos a desenvolver problemas comportamentais e de saúde, principalmente quando relacionados a estresse e ansiedade”, garante a veterinária.

Para isso, ela comenta que existem cinco formas de enriquecimento ambiental para gatos que os tutores podem aplicar nessa e em todas as situações:

  • Físico: Trata-se de ofertar adequações no ambiente (verticalizações), de forma onde os gatos possam expressar seu comportamento natural arborícola, explorando diferentes alturas, atividade física, saltos, obstáculos e esconderijos;
  • Alimentar: Tem como objetivo replicar a busca por alimento na natureza, tornando o momento da alimentação mais estimulante, desafiador e satisfatório;
  • Cognitivo: É a estratégia de utilizar brinquedos que estimulem a mente, resolução de problemas, memória e raciocínio;
  • Social: Consiste em ofertar interações com outros animais e pessoas, sempre de maneira positiva;
  • Sensorial: Trata-se de oferecer atividades que estimulem os cinco sentidos dos animais (visão, audição, olfato, tato e paladar).
Brinquedos que estimulem a caça, como as varinhas, são grandes aliados para estimular a autoconfiança do animal (Foto: reprodução)

Cuidados essenciais

Mas, como todas essas ações podem ser um desafio ao tutor, a busca por profissionais da área de comportamento é indicada desde o primeiro momento, pois, com a avaliação individual do animal, ambiente e dinâmica familiar, as chances de uma resposta mais rápida à adaptação e, consequentemente, garantir a saúde mental do animal é maior.

Isabella fomenta que a busca pelo comportamentalista pode ser bacana, inclusive, para estruturar o ambiente antes da chegada do animal, assim como todas as instruções de interações e bom convívio que o pet precisará durante o processo de adoção. “Os animais que apresentam medo, fobia, ansiedade e/ou agressividade podem estar lidando com questões de saúde física como: dor, doenças metabólicas e desequilíbrios emocionais. Diante disso, o médico-veterinário comportamentalista é o único responsável pela solicitação de exames, diagnóstico e tratamento de doenças que alteram o comportamento dos animais e pode ser um grande aliado para garantir o bem-estar dos animais com distúrbios de comportamento”, aponta.

Por fim, a profissional reforça que os erros mais comuns na adaptação dos gatos em um novo lar são: forçar interações e não respeitar os limites emocionais do animal. “Sabemos que os tutores querem que o pet se sinta feliz e confortável no nosso ambiente o mais rápido possível, mas devemos lembrar que, muitas vezes, esses animais nunca tiveram contato com humanos ou passaram por experiências traumáticas e as feridas da alma podem demorar certo tempo para cicatrizar. A paciência, respeito e a persistência são essenciais para a criação de um vínculo emocional”, finaliza.

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