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Clínica e Nutrição

Pesquisa apresenta as neoplasias mais prevalentes nos animais de companhia

Análise portuguesa trouxe revelações importantes para a área Veterinária e comportamento dos tutores no que se refere à saúde animal
Por Equipe Cães&Gatos
Pesquisa apresenta as neoplasias mais prevalentes nos animais de companhia
Por Equipe Cães&Gatos

A veterinária Maria dos Anjos Pires apresentou, no One Cancer – 1º Simpósio Português de Oncologia Comparada –, os resultados da análise às amostras anatomopatológicas enviadas para o Laboratório de Histologia e Anatomia Patológica da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD). Perceber quais as neoplasias mais prevalentes nos animais de companhia pode abrir a discussão de como a visão One Health (Saúde Única) será útil para ajudar tanto a Medicina Veterinária, como a Medicina Humana a lidar melhor com o diagnóstico e tratamento das doenças oncológicas.

A investigação em oncologia comparada tem sido também área de trabalho de Maria dos Anjos Pires. A diretora do Laboratório de Histologia e Anatomia Patológica da UTAD e presidente da Sociedade Portuguesa de Ciências Veterinárias (SPCV) apresentou no encontro, que decorreu dia 28 de junho na Universidade Lusíada, os resultados de um projeto desenvolvido na UTAD, liderado por Luís Lucas Cardoso e com financiamento da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, no qual coordenou uma das três linhas de investigação, no caso o braço que dizia respeito ao tema “Animal and Human Cancer – filling the gap”.

É necessário de ter em consideração não só a raça, mas também a localização de onde vêm as análises (Foto: Reprodução)

O objetivo desse braço da pesquisa, explicou a oradora, foi “dentro desta temática, tentar perceber se havia fatores que poderiam ser influentes, quer na parte animal, quer na parte humana” para o desenvolvimento de cancro tendo, para isso, feito um levantamento dos dados de cerca de 30 anos de atividade do Laboratório de Histologia e Anatomia Patológica da UTAD.”

População canina analisada

  • Total de cães: 16.500
  • Género:
    • Fêmeas: 55%
    • Machos: 45%
  • Raças: 90
  • Idades: 1 a 20 anos

Raças mais prevalentes

  • Cães sem raça definida: 30%
  • Boxer: 7%
  • Caniche: 6%
  • Labrador: 5%

Prevalência de neoplasias

  • Total de lesões analisadas:
    • 48% neoplásicas
    • Fêmeas: Tumores de mama predominam
    • Machos: Doenças cutâneas predominam
  • Cão d’Água Português:
    • 78% das amostras revelaram neoplasias
  • Cães sem raça definida:
    • 52% revelaram neoplasias

Linfomas não Hodgkin

  • Prevalência nos cães: 1,89% da população total, 3,68% de todas as neoplasias
  • Raça mais afetada:
    • Grand Danois
    • Outras raças com risco elevado: Rottweiler, Dobermann
  • Raça menos afetada: São Bernardo

Neoplasias Genitais

  • Fêmeas:
    • Neoplasias do cérvix e da vagina: 60% das neoplasias genitais
    • Neoplasias do ovário: 14%
    • Carcinomas de endométrio: Frequentes nas gatas
  • Machos:
    • 12% dos casos revelaram carcinoma prostático

Estilos de vida e saúde

  • Animais e tutores com estilos de vida saudáveis:
    • Cuidam mais da saúde dos animais
    • Exemplo: “Animais obesos frequentemente têm tutores obesos”

One Health e One Cancer

  • Hemangiosarcoma:
    • Potencialmente relacionado com correntes elétricas e postes de alta tensão
    • Animais podem atuar como sentinelas geográficas

A primeira impressão que a pesquisadora retirou da análise dessa informação é “que precisamos trabalhar ainda mais e precisamos de incluir outras especialidades, nomeadamente a sociologia” para perceber todo o enquadramento que está por trás dos dados recolhidos. Afinal, nessas três décadas de atividade foi possível verificar que as raças presentes nos lares nacionais foram mudando “de uma forma muito interessante” ao longo do tempo, o que justificaria uma análise mais científica sobre as escolhas dos tutores.

Outra área que tem sido avaliada no âmbito deste projeto são os estilos de vida, tanto do tutor como, por inerência, do animal (Foto: Reprodução)

“O animal é quase uma copia do tutor e conseguimos ver uma certa afinidade, por exemplo, um animal obeso a maior parte das vezes tem um tutor obeso”, destacou Maria dos Anjos Pires.

Focando na análise das amostras recolhidas de canídeos, o levantamento de dados revelou que, na população de referência do laboratório, existiam cerca de 16500 cães, a maior parte fêmeas (55%) fêmeas, de 90 raças diferentes, com idades compreendidas entre 1 e 20 anos.

Relativamente às raças mais prevalentes, o rafeiro, encabeça as preferências dos tutores, representando cerca de 30% da população de canídeos, enquanto nas raças puras o boxer (7%), o caniche (6%) e o labrador (5%) são as mais escolhidas pelas famílias.

“Este pode ser um ponto diferente para quem está nos laboratórios de outros pontos do País. Temos de ter em consideração não só a raça, mas também a localização de onde vêm as nossas análises”, que podem revelar preferências por raças diferentes da parte dos tutores, reconheceu a oradora.

O que dizem as amostras

É de recordar que, quando são enviadas amostras para um laboratório de anatomia patológica, é porque já existe uma lesão que necessita de avaliação e das lesões analisadas pela equipe da UTAD. “48% era uma lesão de algum tipo neoplásico, sendo que as fêmeas predominavam por causa dos tumores de mama”, enquanto nos machos a doença cutânea foi a mais prevalente, reforçou a pesquisadora.

No que diz respeito à prevalência das neoplasias nas variadas raças, o Cão d’Água Português, apesar de não ser uma raça muito comum nos lares portugueses, é das mais propensas a desenvolver neoplasias, já que 78% das amostras desta raça que entraram no laboratório revelaram ser positivas para doença neoplásica. Já nas amostras dos cães sem raça definida apenas 52% revelou algum tipo de neoplasia.

Tal como acontece nos humanos, a idade é um fator de risco para o desenvolvimento de doenças oncológicas e os animais mais velhos também são os mais afetados.

“Quando pensamos na visão One Cancer, temos de pensar para os dois lados, aproveitar o facto de termos mais material da medicina humana relativamente a alguns assuntos, e temos também de começar a aprender muito aquilo que a Medicina Humana está a fazer porque eles só estudam uma espécie”, reforçou a diretora Laboratório de Histologia e Anatomia Patológica da UTAD

Uma parte do trabalho centrou-se no estudo dos linfomas não Hodgkin em cães, e ainda decorre no contexto de um doutoramento na UTAD, mas já foi possível verificar que, das amostras observadas, os linfomas representam 1,89% na população de referência e 3,68% de todas as neoplasias. Atingem mais os machos do que fêmeas, a faixa etária mais afetada é entre os três e os cinco anos e a raça com mais diagnósticos é o grand danois, com o rottweiler e dobermann a terem também um risco aumentado de desenvolvimento de linfomas. No outro lado do espetro, o São Bernardo foi a raça que revelou ter menos predisposição para desenvolver esta doença oncológica.

Com algumas etapas deste projeto ainda em andamento, o que já ficou claro para a pesquisadora é que “precisamos, realmente, de pensar numa só saúde” (Foto: Reprodução)

O mesmo trabalho de doutoramento debruçou-se igualmente sobre a tipificação dos tumores, um tema que é ainda alvo de discussão na classe médico-veterinária. “Fizemos uma avaliação entre o linfoma [de células] B e o linfoma [de células] T e começamos a encontrar alguns que não encaixávamos dentro dos marcadores individuais e ainda estamos a tentar perceber com a parte molecular” onde se podem enquadrar, revelou Maria dos Anjos Pires, acrescentando que, ao contrário do que vem descrito na literatura, encontraram uma ligeira superioridade na prevalência de linfomas não Hodgkin de células T em relação aos linfomas não Hodgkin de células B e ainda estão a estudar as localizações mais prevalentes.

Outro dos objetivos da pesquisa é avaliar o papel dos parasitas da leishmaniose no desenvolvimento de linfomas, “ver o seu contributo e perceber quem chegou primeiro”, se o parasita se a neoplasia, já que os linfócitos T são preponderantes em ambos os cenários.

Os cancros para os quais “ninguém quer olhar”

Maria dos Anjos Pires há vários anos se interessa pela área da oncologia e, como reconheceu, tem particular interesse em investigar os cancros para os quais “ninguém quer olhar e dos quais toda a gente foge”, ou seja, toda a patologia genital: ovários, útero, vagina, cérvix, testículo, próstata e glândulas anexas.

Em 2002/03 a equipe da UTAD fez um levantamento dos números recolhidos na base de dados e a pesquisadora verificou que, no caso das neoplasias do genital feminino, estas representavam cerca de 8% de todas as neoplasias que apareciam, a maior parte diagnosticadas no cérvix e na vagina (60%), com destaque para os fibromas ou fibrossarcomas.

As neoplasias do ovário representavam 14% de todas as neoplasias de genital, quer sejam bilaterais ou não, e começam a ser observadas com alguma frequência, sendo muito mais prevalentes na cadela do que na gata, sendo que nos felinos apresentam mais frequentemente quistos benignos nos ovários do que doença oncológica.

Apesar de sempre se ter pensado que os tumores do endométrio eram mais intensos na coelha e na vaca, o certo é que os dados da UTAD mostraram “uma elevada quantidade de casos positivos de carcinomas de endométrio na gata”, reconheceu a pesquisadora, sendo que as cadelas apresentam mais frequentemente lesões benignas.

No sexo masculino, 12% da casuística canina apresentava um carcinoma prostático, que “deve ser das coisas mais difíceis de identificar antes de retirar a próstata ou ter o animal na mesa de necropsia”, admitiu Maria dos Anjos Pires.

Um animal é quase uma cópia do tutor

Outra área que tem sido avaliada no âmbito deste projeto são os estilos de vida, tanto do tutor como, por inerência, do animal. Por exemplo, ver se o diagnóstico de doença oncológica no tutor ou no animal alterava o estilo de vida do de ambos, e já foi possível concluir que “é bom que uma pessoa tenha um animal, principalmente se não tem acesso a um jardim, pois o fato de o tutor ter um animal tem um efeito moderadamente positivo na sua atividade física. Afinal, vai ter de ir passear o animal”, reconheceu a oradora.

Um dos objetivos da pesquisa, foi, tentar perceber se haviam fatores que poderiam ser influentes, quer na parte animal, quer na parte humana” para o desenvolvimento de cancro (Foto: Reprodução)

Ainda assim, na saúde mental não parece haver grande impacto ter ou não um animal, muito embora se tenha percebido “que os tutores com um estilo de vida saudável, que se preocupam com o seu bem-estar, também se preocupam muito mais com a saúde do seu animal”, acrescentou, admitindo: “O animal é quase uma copia do tutor e conseguimos ver uma certa afinidade, por exemplo, um animal obeso na maior parte das vezes tem um tutor obeso”.

Nesse sentido, Maria Dos Anjos Pires sugeriu: “Quando há uma necessidade de ter alguma atividade física por que não recomendar ao tutor que tenha um cão para o ir passear? Vai acabar por ter alguma atividade física pelo passeio com o cão”.

Uma Só Saúde: Em benefício de humanos e animais

Com algumas etapas deste projeto ainda em andamento, o que já ficou claro para a pesquisadora é que “precisamos, realmente, de pensar numa só saúde” e ao fazê-lo é necessário pensar no que é possível transpor dos estudos com animais para o homem e vice-versa, ou seja, perceber o que é possível transpor dos estudos com humanos para a saúde animal.

Maria dos Anjos Pires deu o exemplo da utilização de animais como sentinelas para determinados tipos de cancro, por exemplo, o hemangiosarcoma. “Está descrito que [este tipo de cancro] pode estar relacionado com postes de alta tensão e com algum tipo de correntes elétricas e, pelo que sei, os hemangiosarcomas não são, felizmente, tão frequentes no homem, mas é interessante perceber se nos casos de hemangiosarcomas – e temos tido bastantes – a localização geográfica deles é semelhante e poderemos olhar para os nossos animais como sentinelas”, nas regiões onde o perigo de desenvolvimento da doença é mais elevado.

Na opinião da pesquisadora, “quando pensamos na visão One Cancer, temos de pensar para os dois lados, aproveitar o facto de termos mais material da medicina humana relativamente a alguns assuntos, e temos também de começar a aprender muito aquilo que a medicina humana está a fazer porque eles só estudam uma espécie” e já têm largas décadas de avanço em termos de investigação publicada sobre as melhores abordagens à doença oncológica”.

Fonte: Veterinária Atual, adaptado pela Equipe Cães e Gatos.

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