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Pets e Curiosidades

Atribuir características e sentimentos humanos ao pet pode ser prejudicial

Antropomorfização intensa pode impedir animal de expressar comportamentos naturais
Por Equipe Cães&Gatos
Por Equipe Cães&Gatos

Com a formação dos grandes centros urbanos e da verticalização das moradias, em meados dos anos 1980, no Brasil, a amizade entre humanos e animais de estimação se estreitou bastante. Na recente pandemia de Covid-19, testemunhou-se um contexto único de convivência restrita e intensiva das pessoas com seus pets. 

Para algumas famílias, foi positivo em vista da oportunidade de conhecer melhor seus animais; para outras, porém, foi estressante, dado que certos problemas comportamentais dos peludos aumentaram consideravelmente.

Para muitos, é natural que a forma humana de amar seja tratar o outro como se humano fosse, pois é o jeito que se sabe demonstrar cuidado e carinho. No caso dos animais de estimação — os quais não têm apenas sensações, percepções e necessidades expressas, mas também consciência de todos esses sentimentos e demandas —, a tendência é tratá-los como se fossem filhos.

O problema aparece quando a antropomorfização impacta o bem-estar dos peludos ou dos tutores, visto que, por serem espécies distintas, têm habilidades e necessidades diferentes. Caso isso não seja compreendido, há o risco da convivência e da comunicação tornar-se bastante difícil e ruidosa para ao menos um dos lados dessa relação, quase sempre para o pet. Sendo assim, criam-se expectativas irreais e, consequentemente, frustração.

Problema aparece quando a antropomorfização impacta o bem-estar dos peludos ou dos tutores, pois ambos têm habilidades e necessidades diferentes (Foto: reprodução)

Conforme alerta a médica-veterinária especializada em etologia clínica, Joanna Macêdo, há situações nas quais a antropomorfização é tão intensa que o pet perde o direito de expressar comportamentos naturais básicos. Os impactos no bem-estar do animal são imensos, além de eles poderem sofrer distúrbios comportamentais sérios, como agressividade, medo, depressão e transtorno de ansiedade.

“Já me relataram, por exemplo, que o gato fez xixi no travesseiro da namorada do tutor por ciúmes; ou que o cão urinou fora do lugar para provocar. São coisas que escuto muito em consultório. E, geralmente, quando vamos avaliar, esse pet possui alguma dificuldade urinária ou até mesmo de acesso ao local onde costuma eliminar sua urina”, esclarece.

A médica veterinária Meiry Cristine, pós-graduada em medicina felina e atuante na clínica Pet com Amor, lembra que os distúrbios comportamentais, resultantes de atitudes dos tutores, podem resultar, ainda, em problemas de saúde como dermatites atópicas, lambeduras psicogênicas e cistites, que são infecção e/ou inflamação da bexiga.

É comum utilizarmos a palavra humanização para nos referirmos ao ato de dar características humanas a coisas e seres não humanos. Entretanto, o termo adequado é antropomorfizar, visto que o verbo humanizar, na área da saúde, significa tornar benévolo, tratar com acolhimento (como em humanização do parto).

Mas, é possível estabelecer limites. Com informação, pode-se elaborar e adaptar o afeto humano à forma animal. A afetividade pode ser intensa e abundante desde que não gere prejuízos para um dos lados dessa relação. 

Assim, para mostrar aos animais de estimação o quanto eles são especiais em nossa vida, é preciso entender quem eles realmente são e do que precisam, para oferecer o mínimo de bem-estar. O mais importante é construir um relacionamento respeitoso.

Tudo começa antes mesmo da adoção. Deve-se oferecer aos peludos, diariamente, oportunidades de exercitar o corpo e a mente, por meio de passeios, enriquecimento ambiental e brincadeiras que desenvolvam suas habilidades inatas, além de favorecer sua socialização. 

Ademais, o tutor deve atentar-se para os horários das necessidades fisiológicas inerentes à espécie, como a hora de dormir, de eliminar urina e fezes, de brincar etc.

“Gatos, que também estão cada dia mais dentro das nossas casas, também precisam ter suas particularidades respeitadas. Não coloque em cima dos pets uma responsabilidade sobre algo que não irão entender; basta amá-los da forma como são”, conclui Meiry.

Quem concorda com essas percepções é a bacharel em direito Márcia Gargalhone, tutora dos gatos Lisa e Bart, adotados há cinco anos por sua família. Quando os conheceu, recebeu do Clube do Gato, ONG que cuidava dos peludos, várias orientações para manter os pets seguros e confortáveis. Por morar em apartamento, o primeiro passo foi colocar uma tela, a fim de evitar qualquer queda.

A ideia foi tentar manter os hábitos e os instintos da dupla. Então, além dos itens necessários, como caixinhas de areia e potes de ração, Márcia investiu em fontes de água, arranhadores e alguns brinquedos, orientados pela própria veterinária. A tutora se posiciona contra atitudes que prejudicam o bem-estar dos pets e cita como exemplo mandar pintar os pelos dos cães com cores diferentes, enfeitar com adesivos e pintar as unhas.

O adestrador e proprietário da Empresa Bomdog, Rafael Mota, acrescenta que os conflitos entre vizinhos e as notificações de condomínios referentes a latidos e choros excessivos dos cães são bastante recorrentes. Isso se deve, segundo o profissional, à atenção exagerada dos tutores e à falta de manejo ao deixarem os pets sozinhos, algo que precisa ser trabalhado e naturalizado nessa relação.

“Hoje, o adestramento de cães está deixando de ser uma prática voltada somente aos animais. Percebemos que é mais interessante ensinar aos tutores como manter uma boa relação com o pet, estimulando seu bom comportamento”, explica. Ademais, os comandos de “vem”, “senta” e “não” são eleitos pelo adestrador como os primordiais na hora de treinar os pets.

Fonte: Correio Braziliense, adaptado pela equipe Cães&Gatos.

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