Você tem um cão e um gato em casa e o cachorro imita alguns comportamentos do bichano? Saiba que isso pode, de fato, acontecer, apesar de não ser algo tão recorrente na rotina da clínica comportamental. Mas, quais as explicações para quando isso ocorre dentro de casa?

A médica-veterinária comportamental com atendimento da rede de hospitais Pet Care, Fernanda Guillen Gomes, explica que o cão pode imitar o comportamento de subir em locais altos, como móveis ou prateleiras e, caso o animal seja reforçado por isso (alcançando um alimento, conseguindo relaxamento nesse lugar ou recebendo atenção e carinho), o comportamento terá maior chance de ser repetido. “Outro comportamento que pode ser imitado é o de caçar brinquedos de forma silenciosa. Se ele for recompensado por isso (se entretendo, recebendo atenção, conseguindo brincar), maiores serão as chances de o comportamento ser repetido. O cão também pode aprender a se esconder em locais pequenos, e se ele se sentir confortável ali, pode se tornar um hábito”, discorre.
Então, segundo a profissional, os cães passam a ter essas atitudes similares às dos felinos, principalmente por sistemas de recompensas, mas também podem aprender por observação e imitação (aprendizado social). “Além disso, neurologicamente os cães possuem uma alta plasticidade comportamental, ou seja, eles têm grande facilidade para aprender novos comportamentos se forem recompensados por isso”, diz.
Outros impactos da convivência
Além desses comportamentos, a convivência entre cães e gatos pode influenciar na comunicação e na forma como eles interagem com humanos e outros animais. De acordo com Fernanda, o cão pode, por exemplo, aprender a se comunicar de forma mais sutil e silenciosa. “Da mesma forma, o gato pode aprender a brincar de forma mais enérgica e parecida com a dos cães. Além disso, eles podem aprender a se comunicar entre si, evitando conflitos a partir dos sinais do outro indivíduo”, adiciona.
Fernanda ainda comenta que tanto o tempo de convivência quanto a idade em que os animais começaram a ter contato podem influenciar na imitação de comportamentos. “Isso ocorre pois, quanto maior o tempo juntos, maior será a observação e o aprendizado. Em relação à idade, quanto mais novos os animais, maior a plasticidade neuronal e mais rápido é o aprendizado. Porém, as tendências individuais também são relevantes nesse processo, de forma que a imitação de comportamentos não é algo previsível”, afirma.
Esses comportamentos geram riscos?

De modo geral, a profissional afirma que não, mas pode ser um risco caso seja um comportamento inadequado para a espécie canina, como se alimentar da ração do gato ou subir em locais que ele terá dificuldades para sair. “A ração dos gatos possui maior valor proteico e maior palatabilidade. Por isso, é muito comum que os cães busquem a ração dos felinos. Mas, nesse caso, não se trata de imitação e, sim, de atração por meio do olfato e paladar. Porém, é importante lembrar que as rações de gatos não devem ser oferecidas para cães, pois as formulações são específicas para cada espécie.
Como preservar o bem-estar de ambos?
De acordo com a veterinária, é essencial que o tutor estude os sinais de desconforto de cada espécie e faça uma introdução gradativa e supervisionada de novos animais na casa. “Devemos sempre respeitar os limites de cada animal. Caso um dos indivíduos demonstre sinais de desconforto ou agressividade, é necessário voltar alguns passos”, recomenda.
Deixar os animais se resolverem sozinhos, algo muito comum entre os tutores, segundo Fernanda, é um grande erro, pois, para se defender, eles podem começar a utilizar a agressividade. “O correto é sempre supervisionar as interações, principalmente no início, e separar, sem broncas ou punições, caso um dos animais demonstre medo ou desconforto. Também é importante garantir que cada animal tenha seus recursos (cama, água, comida, brinquedos), para evitar conflitos por disputa de recursos”, destaca.
Além disso, a doutora cita que uma ótima forma de estimular a convivência harmoniosa é estudar os comportamentos e necessidades de cada espécie e criar uma rotina e ambiente para que os animais consigam expressar esses comportamentos naturais. “Cães são cães sociáveis e, em geral, precisam de passeios diários. Eles aprendem com facilidade e são muito beneficiados por treinos com adestramento positivo. Ensinar comportamentos de autocontrole ajudará o cão a respeitar o espaço do gato”, revela.

Já os gatos, que não lidam bem com novidades e mudanças de ambiente, são mais territorialistas e gostam de subir em locais altos para observar o ambiente. “Eles têm tendência a setorizar seu ambiente, de forma que a distribuição dos recursos (água, comida, arranhadores e caixa de areia) é bem-vinda”, sublinha.
Para finalizar, a veterinária declara que é importante que os tutores entendam as necessidades e o comportamento natural de cada espécie, favorecendo e proporcionando a expressão desses comportamentos, para garantir o bem-estar de cada indivíduo.
FAQ
Cães podem imitar comportamentos de gatos?
Embora não seja tão comum, cães podem aprender a subir em móveis, se esconder em espaços pequenos e até caçar brinquedos silenciosamente, especialmente se forem recompensados por esses comportamentos.
A convivência entre cães e gatos pode influenciar a comunicação?
Cães podem aprender a se comunicar de forma mais sutil, enquanto gatos podem brincar de maneira mais enérgica. Além disso, ambos podem entender melhor os sinais uns dos outros, evitando conflitos.
Como garantir uma convivência harmoniosa entre cães e gatos?
O tutor deve supervisionar as interações, respeitar os limites de cada animal e garantir que ambos tenham seus próprios recursos (cama, comida, brinquedos). Além disso, adestramento positivo para cães e um ambiente adequado para os gatos ajudam a minimizar conflitos.
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