Segundo veterinário, atração às imagens está ligada ao reportório de estímulos recebido pelo animal
Wellington Torres, em casa
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Mesmo que, agora, estejamos em período de quarentena, o tutor do mundo contemporâneo possui uma rotina muito movimentada, o que faz com que os pets tenham que passar muito tempo sozinhos em casa. Pensando nisso, um canal televisivo, voltado exclusivamente aos cães, visa amenizar o medo e a ansiedade, evitando comportamentos destrutivos dos pets. Mas será que a iniciativa é eficaz?
De acordo com o criador da DogTv, o estadunidense Ron Levi, sim. Segundo o empresário, em entrevista dada à Folha de S.Paulo, a programação produzida especialmente para estes animais faz com que se distraiam e relaxem.
Segundo Levi, canal é baseado em inúmeros estudoscientíficos (Foto: reprodução)
Contudo, para entendermos melhor a relação dos cães com essa ferramenta, contatamos o médico-veterinário, pós-graduado em neurologia de pequenos animais, Bruno Critelli Carvalho. Para o profissional, o fato de uma imagem chamar atenção do cão está muito relacionado com o repertório de estímulos que o mesmo já tenha recebido.
“Além disso, eles têm a audição como um sentido muito importante, então, muitas vezes, eles estão mais conectados aos sons do que propriamente às imagens que estão passando na tela”, afirma o médico-veterinário.
Referente à visão destes animais, como explica Carvalho, ela funciona de uma maneira um pouco diferente da nossa e os novos aparelhos televisivos, realmente, podem despertar o interesse dos pets.
“Os cães enxergam numa paleta de cores mais restrita do que a nossa (tons de cinza, amarelo e azul, basicamente). Pensando nas televisões, algo que faz muita diferença para eles é a quantidade de quadros por segundo que elas conseguem reproduzir. As televisões mais antigas, de tubo, reproduziam cerca de 60 quadros por segundo, enquanto a visão dos cães capta de 70 a 80 quadros por segundo. Isso faz com que eles vejam essas imagens borradas e travadas. Já os aparelhos mais novos (de plasma, LCD, LED), reproduzem, aproximadamente, 100 quadros por segundo, tornando as imagens bem mais fluidas para os pets”, conta.
Ainda segundo o profissional, alguns estudos demonstram que o som ambiente pode fazer diferença no período em que os tutores estão fora de casa, principalmente se os mesmos tiverem o hábito de deixar a televisão ligada enquanto estão com o animal. “Mantendo o aparelho ligado enquanto está fora faz com que o cão sinta o ambiente mais familiar e pode ajudar a diminuir a ansiedade de separação”, pontua Carvalho.
Ferramente pode funcionar de maneira diferente para cadaanimal (Foto: reprodução)
E como é sempre importante procurarmos por lados positivos e negativos de novas ferramentas, o questionamos se a iniciativa poderia causar algum dano à qualidade de vida dos cães. “Até o momento, não existem estudos comprovando malefícios causados por essa ferramenta, mas o que se deve tomar muito cuidado é em não utilizar a televisão como um substituto para as outras atividades, como passear e brincar”, indica o profissional.
Mas e os gatos? Mesmo que a ferramenta tenha como foco os cães, por uma questão mercadológica, como também explicou o criador da programação à Folha, o canal também pode ser de uso dos felinos e, segundo o veterinário, “os gatos também podem se beneficiar do estímulo ofertado pela televisão”.
“Um estudo de 2008, da Queens University, em Belfast, Irlanda do Norte, demonstrou que gatos prestam bastante atenção em telas que estão passando imagens de presas e objetos se movendo rapidamente e que isso os deixa mais alertas”, contextualiza. No entanto, o veterinário afirma que há alguns poréns: “O único problema é que os gatos enxergam entre 80 e 100 quadros por segundo, mais ainda do que os cães, então, é preciso que os vídeos sejam em alta resolução e os aparelhos televisivos mais novos, para que as imagens não apareçam borradas ou travadas. Estes animais se habituam mais facilmente com esses vídeos e, se os estímulos não forem sempre diferentes, param de prestar atenção rapidamente”, revela.
Por fim, o pós-graduado em neurologia de pequenos animais pondera: “É sempre muito importante lembrar que isso é uma ferramenta e pode funcionar de maneira diferente para cada pet e que ela não substitui as formas mais tradicionais de interação”.