Cláudia Guimarães, em casa
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A Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) criou a campanha Dezembro Laranja, que visa conscientizar sobre os riscos do câncer de pele e sobre a prevenção da doença. Essa atenção deve se estender, também, aos animais de companhia, tão especiais como membros humanos da família.
O câncer de pele é uma neoplasia que atinge o maior órgão do corpo e é provocada pelo crescimento anormal e descontrolado das células que compõem a pele. Quem nos explica é a médica-veterinária que atua na clínica e cirurgia de pequenos animais, graduanda em oncologia veterinária, Leticia Steves dos Santos: “Ou seja, elas crescem mais rápido do que as células saudáveis do tecido em torno e esse excesso vai, progressivamente, invadindo o organismo. As neoplasias de pele e anexos estão entre as mais frequentes entres os animais domésticos, constituindo 46,1% das neoplasias”, revela.
A profissional explica que as células neoplásicas possuem um crescimento contínuo, alcançando, gradativamente, outros tecidos do organismo. “Elas têm a capacidade de formar novos vasos, que vão alimentar esse câncer, debilitando e adoecendo esse hospedeiro (organismo). Essas células podem invadir outros tecidos, ocasionando metástase e perda de função do tecido afetado. Esse crescimento desordenado também pode originar tumores malignos”, discorre.
Os sintomas, de acordo com a médica-veterinária Leticia, podem iniciar com lesões cutâneas e processo inflamatório com áreas avermelhadas, com prurido, pode haver ou não presença de nódulos, perda de pelos, histórico de feridas que não cicatrizam, fadiga, diarreia, emagrecimento rápido, vômito, entre outros.
Predisposição à doença
A médica-veterinária Leticia indica que algumas raças de cães e gatos são mais acometidas pelo câncer de pele, como os animais com pelo curto, sem pigmentação e expostos ao sol. “Entre os cães as raças mais predispostas são Boxers, Srd, Buldogue, Pitbull, Dálmatas, entre outros. Os felinos também são frequentemente acometidos por neoplasias cutâneas, sendo o Carcinoma de Células Escamosas o mais frequente, quase que na sua maioria relacionado a gatos de pelagem branca com grande incidência solar. A idade também é um fator que influencia diretamente: cães com a idade média de 7 a 10 anos e gatos de 8 a 15 anos são mais afetados”, aponta.
A veterinária reforça que a pele é o maior órgão da pele, composta por camadas e estruturas diferentes, que funcionam como uma barreira física de proteção de modo que estão expostas aos riscos de transformação neoplásica. “Há alguns fatores descritos para desencadear a doença, como genética, idade, raças, exposição à radiação ultravioleta (incidência solar) e hormônios”, enumera.
Levando isso em consideração, tutores e veterinários, em conjunto, podem prevenir o problema nos animais de companhia. “É indicada proteção, como roupas ou/e filtro solar, nas regiões com menos pelo para animais que têm o costume de exposição ao sol, evitar cruzamentos de animais com histórico de câncer na genética, evitar aplicação de hormônios como anticio. E, quando o cuidador visualizar qualquer alteração, deve procurar o veterinário que irá avaliar e, se necessário, encaminhar oncologista”, orienta.
Caso o resultado seja positivo para câncer de pele, a veterinária Leticia destaca que, ainda assim, os tutores devem manter a calma e procurar especialistas capacitados para iniciar o processo terapêutico. “Os tratamentos para pacientes oncológicos têm obtido uma evolução considerável, influenciando diretamente o aumento de longevidade e diminuição das metástases e recidivas tumorais. Porém, os efeitos adversos aos quimioterápicos ainda são comuns, o que indica a necessidade de melhorias e desenvolvimento constantes nessa área”, opina.
Ela ainda menciona que, em alguns casos, é possível alcançar cura do paciente. “Porém, isto depende de vários fatores como: quadro geral do animal, estadiamento do câncer baseado em tumor primário, linfonodos regionais e metástases, tipo de neoplasia e diagnóstico precoce. Lembrando sempre que também dependemos das condições financeiras desses tutores para arcar com os tratamentos necessários”, frisa.
Caso não se obtenha a cura de um animal, com os devidos tratamentos, o pet ainda pode contar com um tempo de vida, que, de acordo com a veterinária Leticia, pode variar conforme o tipo de neoplasia, resposta do organismo desse animal ao tratamento, alimentação, histórico de outras doenças, idade, raça, progressão da doença quando ela é descoberta, entre outros. “Vou utilizar como exemplo o câncer de pele melanoma: os cães afetados possuem uma taxa de sobrevivência de 10%, sobrevida de apenas 1 ano, devido a complicações relacionadas a metástases”, cita.
A médica-veterinária considera válido lembrar que umas das principais síndromes paraneoplásicas evidenciadas nos cães oncológicos é a caquexia, definida como a perda de peso grave em um paciente com neoplasia, fadiga, anemia e depleção progressiva de massa magra. “Atualmente, o suporte nutricional tem uma grande importância na manutenção e recuperação desse paciente, particularmente nos casos em que o apetite é diminuído pelos efeitos tóxicos dos tratamentos com quimioterápicos. Fornecer ao animal uma dieta de boa qualidade pode favorecer positivamente sua condição geral e sua qualidade de vida”, garante.
Eutanásia e o apoio aos tutores dos pacientes oncológicos
Esse, como comentado pela profissional, é um momento difícil para os tutores de pets, já que, muitos deles, se identificam como mães, pais e irmãos dos pacientes. “Hoje, eles deixaram de ser apenas animais de estimação, para fazerem parte da família. Então, durante essas fases de diagnóstico, tratamento e a cura ou não, o veterinário oncologista fará um acompanhamento constante, sendo o ponto de apoio dessa família, para esclarecer dúvidas, fornecer o máximo de instruções para o conforto e sobrevivência do paciente”, comenta.
A eutanásia é indicada quando o animal encontra-se em sofrimento extremo, em quadros de doenças irreversíveis, quando não são capazes de fazer necessidades básicas, como se alimentar, beber água, defecar e urinar, e quando os medicamentos não apresentam mais eficácia. “Nesse momento, todos devemos ter empatia. Respeitar o luto do tutor e de sua família é essencial, pois se trata de um luto real”, encerra.