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Inovação e Mercado

Ensino semipresencial em Medicina Veterinária: a quem interessa a formação sem qualidade?

Por Ana Elisa Almeida, presidente do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV)
Por Equipe Cães&Gatos
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Por Equipe Cães&Gatos

Formar um médico-veterinário é formar um profissional que cuida da saúde de todas as espécies, inclusive a humana. Que atua no controle de zoonoses, na vigilância sanitária, na produção de alimentos seguros, na preservação ambiental, na pesquisa científica e no bem-estar de milhões de animais. Exige conhecimento técnico profundo, responsabilidade ética e habilidades práticas que não podem ser ensinadas por tela.

Diante disso, o avanço do ensino semipresencial e a autorização de cursos a distância em Medicina Veterinária nos impõem uma pergunta inquietante: a quem interessa a formação sem qualidade?

Não interessa à sociedade, que corre o risco de ser atendida por profissionais despreparados. Não interessa aos estudantes, que investem tempo, recursos e sonhos em uma formação precária. Não interessa aos animais, cujas vidas estarão nas mãos de quem talvez nunca pisou em um hospital veterinário. Não interessa ao Brasil, que precisa de profissionais capacitados para atuar nos desafios sanitários, ambientais e produtivos de um país continental.

Apresentamos ao MEC um diagnóstico sobre os cursos de Medicina Veterinária no Brasil. O documento revelou que mais da metade dos cursos apresenta problemas graves de infraestrutura, bibliotecas, laboratórios e quadros docentes. Ainda assim, seguem sendo autorizados.

“Não somos contra a inovação. Somos contra o improviso. A tecnologia deve ser aliada do ensino, mas jamais substituta da vivência prática”, destaca Ana Elisa Almeida (Foto: divulgação)

Hoje, o MEC registra 665 cursos de Medicina Veterinária, sendo que 28 deles já funcionam de forma semipresencial, somando mais de 36 mil vagas. E o quadro pode piorar: dez novas instituições estão autorizadas a ofertar a modalidade híbrida. Duas delas com mais de 8,5 mil vagas cada. Ao todo, 23 mil novas vagas podem ser abertas de imediato. Isso significa que três em cada dez futuros médicos-veterinários no Brasil poderão se formar sem estarem plenamente presentes na prática.

Não somos contra a inovação. Somos contra o improviso. A tecnologia deve ser aliada do ensino, mas jamais substituta da vivência prática. Não se aprende a conter um animal agressivo, a operar, a fazer necropsia ou inspeção sanitária por meio de simuladores ou PDFs. Não podemos admitir que o ensino da Medicina Veterinária seja tratado como commodity. Ensino não é produto. É compromisso com a vida. É um pacto com a saúde coletiva.

Por isso, defendemos a urgente revisão dos critérios de autorização de cursos, o fortalecimento da regulação pública do ensino superior e a proibição da modalidade a distância ou semipresencial para cursos da área da saúde, como já ocorre em países desenvolvidos. O CFMV seguirá vigilante, atuando com base na ética, na ciência e no interesse público. Saúde não espera download. Medicina Veterinária também é Medicina.

FAQ

Por que o ensino a distância não é indicado para a formação em Medicina Veterinária?
Porque a profissão exige habilidades práticas, como contenção, cirurgia e inspeção sanitária, que não podem ser aprendidas apenas com aulas teóricas ou por telas. A vivência presencial é essencial para garantir a qualidade da formação.

Quais são os riscos da autorização de cursos semipresenciais ou EAD em Medicina Veterinária?
Há risco de formação de profissionais despreparados, o que compromete a saúde dos animais, da sociedade e o desenvolvimento do país. Além disso, muitos cursos já apresentam sérias deficiências de estrutura, e ainda assim seguem sendo autorizados.

O que o CFMV defende em relação ao ensino da Medicina Veterinária?
Defende a revisão dos critérios de autorização de cursos, a proibição do ensino a distância na área da saúde e o fortalecimento da regulação pública, com foco na ética, na ciência e no interesse coletivo.

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