Causada pelo fungo Sporothrix brasiliensis, a esporotricose (micose que provoca lesões na pele) avança em alguns Estados do Brasil. A doença, classificada como zoonose, segue “descontrolada”.
O alerta é do infectologista Flávio Telles, coordenador do Comitê de Micologia da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia) e professor do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Paraná. Segundo ele, já há casos na Argentina, no Paraguai, no Uruguai e no Chile.
A transmissão ocorre entre gatos e, deles, para cães e seres humanos por meio de mordidas, arranhões e do contato com as lesões dos infectados. Os bichanos carregam o fungo nas garras, na saliva e no sangue. “Atualmente, no Brasil, 90% é pelo brasiliensis, a transmissão felina. Cachorros e humanos não transmitem, somente gatos”, reforça Telles, que integra um grupo no Ministério da Saúde que estuda doenças fúngicas. Ele e outros pesquisadores trabalham para que a esporotricose seja de notificação compulsória em todo o País.
Atualmente, alguns Estados fazem a notificação. É o caso de Amazonas, Bahia, Goiás, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e São Paulo. Dentre os citados, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Paraíba notificam apenas a esporotricose humana. Minas registrou 524 casos em 2022 e 517 neste ano; Paraíba, 237 ocorrências em 2022 e 431 em 2023 (uma morte em cada ano); no Rio foram 1.517 casos em 2022 (uma morte) e 760 em 2023.
Goiás afirmou que não houve casos em 2022 e 2023 —ao menos até 1º de outubro. A Bahia contabilizou 402 casos de esporotricose humana e 930 da felina em 2022 e 492 da humana e 770 da felina em 2023. Lá, os municípios têm autonomia para instituir políticas públicas relativas ao controle da esporotricose animal, visto que não há previsão para tratamento animal fornecido pelo Ministério da Saúde.
No Paraná, o ano passado registrou 181 casos em seres humanos e 1.061 em animais; em 2023, 434 pessoas e 2.453 animais adoeceram. O estado é um dos poucos locais que fornece medicação para cães, gatos e seres humanos.
No caso de São Paulo, não há certeza em relação à quantidade de municípios que registram os casos e óbitos da doença. A assessoria de imprensa da Secretaria Estadual da Saúde disse, por telefone, que o “agravo não é de interesse estadual e por isso a área técnica não acompanha”. Amazonas, Pernambuco e Rio Grande do Norte não responderam até a publicação deste texto.
Para Adriano Massuda, médico sanitarista e professor da FGV, a falta de notificação compulsória atrapalha no controle da doença. “A notificação é essencial para estabelecer o sistema de vigilância epidemiológica e, a partir da informação, tomar medidas de saúde pública para contenção da doença”, afirma.
“No âmbito da vigilância em saúde, existem os centro de controle de zoonoses. É fundamental o fortalecimento deles e que tomem as medidas adequadas para contenção das doenças transmitidas por animais. Além disso, as medidas de prevenção de doenças incluem educação da população no manejo dos animais”, reforça Massuda.
Para Telles, algumas medidas são primordiais para o controle da doença. “Castrar, que diminui a necessidade de interação com outros gatos; impedir o acesso desses animais às ruas, tratar se estiverem infectados e não abandoná-los”, explica o especialista.
“O abandono tem sido muito frequente. O animal, quando está doente, é jogado na rua ou no lixo. Também é importante a cremação do cadáver do gato que morre por esporotricose, no centro de controle de zoonoses ou numa clínica veterinária que tenha crematório, porque se enterrar o gato contamina o solo”, orienta e finaliza: “É importante deixar claro que os gatos não são culpados, e sim vítimas. As pessoas não devem matá-los ou fazer mal a eles”.
Fonte: Folha de São Paulo, adaptado pela equipe Cães e Gatos VET FOOD.
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