Para eles, EAD prejudica o conteúdo de determinadas aulas que vão além da teoria
Cláudia Guimarães, em casa
claudia@ciasullieditores.com.br
Estudo sempre foi uma questão de disciplina. Desde a época da escola, percebemos que quem se dispõe a prestar atenção nas aulas, adquire mais conhecimento do que aquele que não tem tanto foco. Mas, durante esse isolamento social, a fim de diminuir a propagação da Covid-19, os estudantes – de ensino fundamental, médio e superior – se viram obrigados a assumir o controle para captar o máximo de aprendizado possível nas disciplinas.
A maioria das universidades aderiram ao formato de aulas on-line, como na Faculdade Arnaldo (Belo Horizonte-MG), onde Kyenner Oliver está cursando o 9º período de Medicina Veterinária. Para ele, a utilização de plataformas virtuais para adquirir conhecimento pode funcionar melhor em outros cursos, como Direito, Contabilidade, Jornalismo, entre outros. “Mas, como aprende técnica cirúrgica e clínica de grandes e pequenos animais de forma on-line?”, indaga.
A maioria das disciplinas exigem experiências, ou seja,aulas práticas, na área da saúde (Foto: reprodução)
Em sua visão, apesar do caos inesperado causado pela pandemia, as instituições estão deixando a desejar. “Converso com pessoas de outras universidades e ninguém aprova as aulas a distância. O professor fica on-line e, se cai o sinal de internet ou ocorre algum problema na própria plataforma, você não consegue recuperar a aula”, compartilha.
Oliver até afirma que quem diz gostar das aulas on-line está mentindo: “Ninguém está satisfeito assim. Essas aulas nunca vão suprir as presenciais. Como vamos pegar no bisturi de forma on-line, como fazer suturaçao no animal? Todas as matérias exigem vivência e experiências na área da saúde”, pondera.
A aluna do 1º período de Veterinária, na Universidade Salgado de Oliveira – Universo (Juiz de Fora-MG), Danielle Dias Gatti, também declara que nunca achou o Ensino a Distância (EAD) eficaz para o curso de Medicina Veterinária, mas que, agora, se viu obrigada a receber o conteúdo dessa maneira. “Acredito que, em certas disciplinas, nosso conhecimento está sendo prejudicado”, avalia.
Qual seria a saída? Como observado por Oliver, enquanto não houver uma vacina contra a Covid-19, não poderá ter aglomerações. “Sendo assim, as instituições deveriam ter pausado as aulas. Já estão divulgando vestibular para o próximo, como se nada estivesse acontecendo, mas as aulas presenciais não vão voltar, mesmo que os valores continuem os mesmos. Todos estão fazendo as matérias só para não reprovar, mas o conhecimento está ficando de lado”, menciona.
Em aulas on-line, estudantes dependem do sinal dainternet para conseguir captar todo o conteúdo(Foto: reprodução)
Para ele, as instituições deveriam comunicar que não há previsão de retorno e cancelar o semestre para o bem de todos. “Mas, a Veterinária, em particular, é muito desunida. Claro que a pessoa que está no 10º período não quer cancelar o semestre, mas, quem está no 1º, não está sentindo motivação para estudar. Ainda, há pessoas que contam com o Fies, que não dará cobertura no próximo semestre, caso esse seja cancelado. Apesar disso, a Medicina Veterinária tem que se unir, não se importar com as instituições, se são públicas ou privadas, mas, sim, com a profissão. Enquanto as pessoas não souberem vestir a camisa da Veterinária em si, haverá muitos conflitos de interesses”, opina.
Danielle, por sua vez, afirma que a melhor parte – se existe – das aulas em formato on-line é, justamente, não pausar os estudos. “Não quero perder tempo e nem dinheiro, então acho muito válida essa adaptação para as aulas EAD. A pior parte é ter que adiar o aprendizado prático das matérias que exigem a prática. Por exemplo, estamos vendo, agora, a matéria teórica de anatomia, que seria do 2º período. Assim, no período que vem, se voltarmos ao presencial, teremos apenas prática envolvendo o conteúdo dos dois períodos em um só”, aponta.
Em sua universidade, não há previsão exata da volta das aulas presenciais. “Isso porque depende das autoridades governamentais e da saúde. Contudo, pelo que estamos vivenciando, acredito que só voltaremos a partir de agosto”, supõe Danielle, que ainda dá uma dica para quem está na mesma situação, porém com dificuldades em focar nos estudos em casa: “Se discipline! Tente encontrar uma forma de se habituar com as aulas dessa maneira e se organize”, finaliza.