Cláudia Guimarães, em casa
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De origem Tupi, a palavra Ekôa sugere algo próximo à “morada” e a “acolhimento”, algo desejado pelo grupo de psicólogos e veterinários que decidiu formar a Ekôa Vet, a Associação Brasileira em prol da Saúde Mental na Medicina Veterinária, que visa auxiliar este lado mais pessoal deste profissional que tanto dribla os desafios impostos à mente em sua rotina.
Conversamos com a presidente da Associação, psicóloga e professora Bianca Stevanin Gresele. Ela nos conta que os membros da Ekôa Vet decidiram utilizar este nome, porque ele reflete o principal objetivo da criação da entidade: “Que é proporcionar acolhimento aos profissionais da Medicina Veterinária”, revela.
Bianca conta que todos os profissionais que fundaram a Associação já tinham consciência da importância da saúde mental na Veterinária, muitos dos quais passaram por momentos traumáticos em sua atividade profissional. “É da essência do trabalho do médico-veterinário lidar com o carinho, com o afeto, com o cuidado, assim como também deve compartilhar da angústia, da ansiedade do luto de tutores e tutoras que acompanham os seus animais”, observa.
Desta experiência, aliada à vontade e ao sonho de fazer algo para acolher os veterinários, resultou o projeto da Ekôa Vet. “Ao desenvolvê-lo, nós procuramos nos inspirar em experiências semelhantes que obtiveram bons frutos no cenário internacional, como a NOMV (Estados Unidos) e a VET LIFE (Reino Unido), e, em conjunto, começamos a trabalhar para fazer a nossa no Brasil”, compartilha.
Atualmente, a Ekôa Vet é composta por 10 profissionais. “Temos três psicólogas clínicas e sete médicos-veterinários, todos das mais diversas áreas. Acreditamos que a junção dos profissionais das duas áreas é essencial, primeiro para que a rotina veterinária seja amplamente compreendida e, também, para que as questões psicológicas tenham embasamento técnico correto e coerente”, argumenta.
Unindo forças
Mais que uma inspiração a distância Bianca e a vice-presidente da Ekôa, Ana Andretta, são voluntárias, há algum tempo, da NOMV (Not One More Vet). “Ao longo deste período, participamos de reuniões mensais com eles, isso nos facilitou compreender adequadamente alguns pontos de carência de acolhimento e a importância que uma instituição organizada pode ter para contornar o grave quadro da saúde mental da Medicina Veterinária, hoje, experienciados”, expõe Bianca.
Com isso, o objetivo da parceria firmada com a NOMV é trocar informações sobre as associações para que seja possível ajudar os profissionais dos solos tupiniquins. “Pensamos que, assim como sugere o nome da nossa Associação, talvez a conjugação de esforços, especialmente com uma instituição do porte da NOMV, sirva para promover ainda mais o debate sobre um problema que, até então, parecia esquecido do público em geral, jogando luzes sobre um problema que, às vezes, fica relegado a discussões internas na Medicina Veterinária, mas que precisa ser debatido com a sociedade e com as instituições”, defende.
A NOMV já é uma associação mais antiga e que tem ajudado a Ekôa Vet, segundo a presidente, com algumas dicas e informações sobre a atuação. “Nosso desejo é que, com o crescimento da Ekôa Vet, os horizontes possam ser expandidos para que outras associações passem a trabalhar conosco em prol de um objetivo comum”, indica.
Pensando no próximo
Os principais objetivos da Ekôa Vet, de acordo com Bianca, são: informação e acolhimento. “Queremos trazer informações pautadas em pesquisas e estudos científicos sérios a respeito de temas que envolvem a saúde mental na Veterinária, assim como, proporcionar acolhimento aos profissionais. Desejamos desenvolver projetos, realizar eventos, encaminhar para psicólogos os profissionais que desejam realizar terapia e promover a conscientização a respeito desse tema”, menciona.
Os médicos-veterinários podem buscar informações e ajuda, no momento, contatando a Ekôa Vet pelas redes sociais e via e-mail. “Futuramente, a Associação pretende servir como ferramenta facilitadora de acesso a profissionais da Psicologia que se interessem e tenham afinidade com o tema. Por isso, é importante que as pessoas permaneçam atentas às nossas redes sociais. Lá, nós explicaremos todos os próximos passos da Ekôa”, instrui.
Quando questionada sobre como se sente sendo a presidente da única associação com foco na saúde mental dos veterinários brasileiros, Bianca se declara honrada e com uma enorme responsabilidade. “É uma grande satisfação ter encontrado pessoas para formar a associação. Nossa equipe é única, temos um vínculo muito bom! E estou feliz por todo trabalho que estamos desenvolvendo. Contudo, sei que é apenas o início do vasto caminho que ainda temos para trilhar pela frente. Espero que esse seja apenas o primeiro projeto de muitos a serem realizados no Brasil, em prol dessa causa”, prospera.
Enquanto psicóloga, inicialmente, Bianca possui a principal expectativa de que seja possível colaborar para quebrar o tabu existente quando se fala sobre saúde mental. “Percebo que ainda existe, na Medicina Veterinária, um nível de resistência em buscar ajuda e de compreensão a respeito da importância do psicólogo. Diante disso, espero que consigamos despertar o debate, colocar o tema em pauta e conscientizar, cada vez mais, sobre a importância do autocuidado e da saúde mental. Acabamos de passar pela campanha ‘Setembro Amarelo’, mês em que essas questões estão sempre em evidência, mas o debate sobre a saúde mental, que tanto nos afeta, não pode ser restrito a apenas um período do ano”, destaca.
Para a profissional, é importante salientar que, apesar de toda a resistência que cerca o assunto, a saúde mental precisa, sim, ser discutida, assim como os profissionais de qualquer área devem ser acolhidos. “A Medicina Veterinária, por ser considerada uma profissão que cuida (de animais e seus tutores), acaba demandando maior atenção aos desgastes inerentes à rotina. Com respeito, empatia, compromisso, acolhimento e seriedade, a Ekôa Vet vem chamar atenção para esse assunto que, por anos, foi negligenciado na rotina veterinária. Médico-veterinário, você não está sozinho”, encoraja.