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Clínica e Nutrição

Médica-veterinária conta tudo o que você precisa saber sobre a doença de chagas

Enfermidade tem três formas de transmissão, sendo a mais comum por meio da picada do inseto barbeiro. Diagnóstico e tratamento ainda são difíceis, por isso, a prevenção é a melhor saída
Por Danielle Assis
doença de chagas
Por Danielle Assis

Transmitida pelo inseto conhecido popularmente como barbeiro, a doença de chagas é uma patologia que pode acometer seres humanos e animais, tal como, cães e gatos. 

No Brasil, existem relatos de infecção canina em pelo menos um Estado de cada região geográfica (Foto: reprodução)

“Essa é uma protozoose não contagiosa, causada pelo parasita Trypanosoma cruzi (T. cruzi) e transmitida ao homem e a outros mamíferos por insetos sugadores de sangue chamados triatomíneos, que também podem ser identificados como barbeiros”. Isso é o que afirma a médica-veterinária e educadora especializada em Medicina Preventiva, doenças infecciosas e saúde única, Ana Carolina Rusca Correa Porto. 

Segundo a profissional, no Brasil, as espécies de insetos responsáveis pela transmissão da doença possuem grande distribuição espacial, pois se adaptam às residências e arredores. “O Triatoma brasiliensis é o vetor mais importante do T. cruzi no Nordeste, tendo alto índice de infecção. Essa espécie de triatomíneo apresenta elevada adaptabilidade ao habitat humano”. 

Contudo, Ana Carolina comenta que, no país, existem relatos de infecção canina em pelo menos um Estado de cada região geográfica. “A infestação de barbeiros em áreas urbanas representa um problema sério e, muitas vezes, negligenciado, pois os esforços de combate a esses insetos se concentram principalmente em áreas rurais”. 

Ela alerta que a urbanização também pode ser considerada um problema, porque cria condições favoráveis para o aumento da transmissão da doença de chagas, devido à alta densidade populacional e à proximidade entre pessoas e animais domésticos e peridomiciliares, que podem servir de reservatório para o parasita. 

Como ocorre a transmissão? 

De acordo com a médica-veterinária, a principal forma de transmissão da doença de chagas para os cães é por meio dos vetores e o ciclo envolve a alternância do parasita entre o barbeiro e o hospedeiro com diferentes formas em cada etapa. 

“Quando o barbeiro pica um animal ou pessoa infectada, ele suga o parasita (tripomastigota) junto com o sangue. Dentro do intestino do inseto, o parasita se transforma em outra forma (epimastigota) e se multiplica. Por último, esse parasita se torna a forma infectante (tripomastigota metacíclico) e fica no reto do barbeiro”, esclarece. 

Uma das formas de transmissão da doença é a oral, que ocorre quando o animal ingere alimentos contaminados com parasitas (Foto: reprodução)

Ainda conforme Porto, quando o barbeiro pica novamente, ele defeca perto da picada, o que gera uma coceira. No momento em que o hospedeiro se coça as fezes contaminadas entram na ferida, permitindo que o parasita adentre na corrente sanguínea. “Nessa etapa muitos parasitas são destruídos no sangue, mas alguns sobrevivem. Os parasitas sobreviventes invadem as células de diferentes órgãos e tecidos, se transformam em outra forma (amastigota) e se multiplicam. Os amastigotas, então, viram tripomastigotas e voltam para o sangue, reiniciando o ciclo”.

Existem, ainda, mais duas formas de transmissão. Uma delas é a oral, que ocorre quando o animal ingere alimentos contaminados com parasitas, a outra é a transmissão transfusional/transplante, que acontece quando o animal recebe sangue ou órgãos de um doador infectado. 

“É importante ressaltar que os cães e gatos são importantes reservatórios do parasita, especialmente em áreas rurais, pois podem se infectar ao caçar animais silvestres e trazer o parasita para dentro de casa”, cita Ana Carolina. 

Sintomas da doença de chagas 

Quando infectados, os cães apresentam sinais clínicos iguais aos dos seres humanos, porém a doença tende a ser mais agressiva nessa espécie. “Os cachorros, geralmente, têm uma quantidade maior do parasita no sangue e neles a doença de chagas afeta mais o sistema nervoso e o coração. Por isso, muitos cães infectados geralmente desenvolvem cardiomiopatia”, esclarece Porto. 

Entretanto, a evolução da cardiomiopatia depende da fase em que se encontra a enfermidade. A doutora comenta que na fase aguda pode ocorrer inflamação do coração (miocardite) ou do cérebro (encefalite). Já na fase crônica há um aumento do coração, classificado como cardiomiopatia dilatada.

Além disso, segundo a profissional, alterações digestivas relacionadas à doença são raras em cães, mas outros sinais clínicos que podem ser vistos são: elevação da temperatura retal, paraplegia, diarreia e edema unilateral ou bilateral das pálpebras, acompanhado de lacrimejamento. 

Diagnosticando a doença 

Ana Carolina explica que os testes sorológicos são utilizados com frequência para o diagnóstico da doença de chagas canina. “Embora a infecção primária pelo T. cruzi inclua uma fase inicial com alta parasitemia, essa fase dura pouco tempo. Porém, os anticorpos do T. cruzi persistem em níveis detectáveis por longos períodos”. 

Apesar disso, alguns pesquisadores têm demonstrado que o diagnóstico da enfermidade em cães pode ser difícil devido à ausência de um teste padrão ouro. “Em áreas endêmicas para a doença os exames diagnósticos de rotina devem sempre ser avaliados com cautela e usando ferramentas precisas, como a técnica molecular PCR”, reforça. 

Alguns pesquisadores têm demonstrado que o diagnóstico da enfermidade em cães pode ser difícil devido à ausência de um teste padrão ouro (Foto: reprodução)

Como é o tratamento?

A  médica-veterinária ressalta que o tratamento da doença de chagas nos cães é desafiador por diversos fatores, como diagnóstico tardio, limitação de medicamentos disponíveis e seus efeitos colaterais. 

Segundo ela, quando ocorre um diagnóstico tardio, muitas vezes, a doença já está na fase crônica e os tratamentos experimentais têm pouco efeito. Atualmente as únicas medicações disponíveis são o benznidazol (BZ) e nifurtimox (NF). “Ambos possuem eficácia limitada e podem causar efeitos colaterais graves, especialmente na fase crônica. O benznidazol pode levar a sintomas como rigidez muscular, apatia e reflexos exagerados nos membros traseiros. O nifurtimox, por sua vez, pode causar problemas neurológicos e gastrointestinais graves”, esclarece.

Por conta disso, de um modo geral, o tratamento de suporte costuma ser longo, tem como foco proporcionar uma qualidade de vida razoável para o animal e, em alguns casos, aumentar a sobrevida dos cães infectados, finaliza Ana Carolina.

FAQ

Qual é o tempo de incubação na doença de chagas nos cães?
O tempo de incubação depende da forma de transmissão. Quando os cães são contaminados pela picada do barbeiro varia de quatro a 15 dias. Na contaminação oral a doença pode se manifestar em intervalos de três a 22 dias, enquanto que por transmissão transfusional/transplante o período de incubação é de 30 a 40 dias ou mais.

Como prevenir a doença de chagas?
Como não existem vacinas eficazes, a principal forma de prevenção da doença de chagas é eliminar os barbeiros das casas com o uso de inseticidas. Também recomenda-se manter os cães dentro da residência, evitar luzes externas que atraem os insetos e mudar a vegetação ao redor para diminuir a quantidade de animais que podem carregar o parasita.

Os cães podem transmitir a doença de chagas para os seres humanos?
Não existe nenhuma forma de transmissão direta da doença de chagas dos cães para os seres humanos. Com isso, para que uma pessoa se contamine é preciso que ela seja picada pelo inseto barbeiro.

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