Todos puderam acompanhar nos últimos meses o boom dos bebês reborn. As redes sociais e toda a mídia foram tomadas por conteúdos relacionados a esta prática, que passou, em alguns casos, a ocupar o lugar da rotina, dos hobbies e, até mesmo, do desejo de ter um pet. E é esse o foco desta matéria.
A psicóloga clínica, Bianca Fumagalli, comenta que, em alguns casos, o desejo de adotar um pet ser substituído pela compra de um bebê reborn pode estar ligado a questões emocionais mais profundas, como a dificuldade em lidar com perdas, o desejo da maternidade ou a busca por preencher um vazio afetivo. “Algumas pessoas estabelecem um vínculo afetivo com o bebê reborn, onde envolve menos riscos e maior controle do que com um pet, além de atender a fantasias ou necessidades emocionais específicas. Mas, é importante observar as questões emocionais de cada indivíduo para entender até que ponto essa escolha está sendo realmente saudável”, alerta.
Bianca ainda declara que a preferência por uma boneca hiper realista ao invés de um cão ou gato pode se dar porque o “bebê” pode trazer a sensação de controle, que atende às pessoas que estão em busca de conforto emocional sem o possível enfrentamento de algumas situações, como medo da perda, questões de saúde, entre outros.
Relação com mais responsabilidade

Pelo fato de animais de estimação serem seres vivos, que requerem atenção, cuidados, responsabilidade e afeto, algumas pessoas fragilizadas ou com histórico de perdas preferem não adotar um pet. “Isso pode acontecer, pois essas pessoas não se sentem seguras em ter um animal por possíveis enfrentamentos que esse vínculo envolve, como doenças, comportamentos desafiadores e, inevitavelmente, a perda”, afirma a psicóloga.
Assim, a busca por um bebê reborn pode estar ligada à tentativa de evitar a dor de perder um animal de estimação, principalmente. Bianca indica que algumas pessoas que já sofreram com o luto de um pet ou têm medo de viver essa situação novamente podem buscar pelo bebê reborn por oferecer um vínculo sem risco de morte ou abandono.
“Para pessoas com histórico de perdas traumáticas ou dificuldade de lidar com a imprevisibilidade, o bebê reborn pode parecer uma alternativa mais controlável. A possível questão problema desta situação é que a pessoa sempre opte pelo não enfrentamento e não trabalhe sobre suas questões emocionais. Então, é sempre importante estar atento ao que essas decisões podem estar sinalizando”, destaca.
Comportamento humano
A psicóloga compartilha que a preferência por vínculos com objetos ao invés de animais pode sinalizar tanto um mecanismo adaptativo quanto padrões evitativos, que pode ser reflexo de uma dificuldade em aceitar o investimento emocional que relações significativas exigem. “Tem sido comum a busca por relações mais superficiais, controláveis, com conveniência e previsibilidade, o que pode indicar uma dificuldade em lidar com frustrações, perdas e situações imprevistas, que faz parte das relações mais profundas, o que pode limitar oportunidades de crescimento que só podem ser desenvolvidas por meio de relações transformadoras”, observa.
Mas, será que existe o risco de que essa “substituição afetiva” diminua a capacidade de algumas pessoas desenvolverem empatia e cuidado com seres vivos, como cães e gatos? Bianca afirma que depende muito da forma que essa dinâmica é vivenciada, pois a empatia e o cuidado são habilidades que podem se desenvolver a partir das interações sociais e afetivas ao longo da vida.

“Sendo assim, se ocorrer a manutenção dos vínculos com seres reais, a capacidade de cuidar e se conectar emocionalmente não precisa ser prejudicada, o segredo está no equilíbrio das coisas. Se a pessoa notar que o apego ao objeto está gerando um impacto negativo, pode ser interessante refletir sobre o significado disso e buscar apoio psicológico para explorar melhor as necessidades individuais”, pontua.
Bianca analisa que, hoje, vivemos em um contexto marcado por relações cada vez mais cercadas pela tecnologia, pelo individualismo e por uma espécie de economia de afeto, onde os laços tendem a ser mais superficiais ou transitórios. “Este cenário contribui para o enfraquecimento da profundidade emocional nos relacionamentos.
Mas, em relação aos pets, eles continuam mantendo um papel muito significativo, proporcionando trocas, companhia, um vínculo afetivo que pode ser positivo, inclusive, para lidar com a depressão, estresse, sentimento de solidão e, também, na promoção do bem-estar”, salienta.
Concluindo, a psicóloga Bianca Fumagalli afirma que tanto os bebês reborn quanto os pets podem ser importantes como fonte de apoio emocional, apesar de atuarem de maneiras diferentes. “Mas, é sempre importante considerar que, apesar dos benefícios que ambos podem proporcionar, eles não substituem o acompanhamento profissional, devendo sempre levar em consideração as necessidades individuais e o cuidado com a saúde mental”, finaliza.
FAQ
Por que algumas pessoas preferem bebês reborn em vez de adotar um pet?
Segundo a psicóloga Bianca Fumagalli, essa escolha pode estar ligada ao desejo de controle emocional, medo de perdas ou traumas anteriores. O bebê reborn representa menos risco e imprevisibilidade do que um animal de estimação.
Ter vínculo com um objeto pode prejudicar o desenvolvimento da empatia?
Não necessariamente. A empatia se desenvolve com interações sociais e afetivas reais. O importante é manter o equilíbrio e buscar ajuda psicológica se o apego ao objeto gerar impactos negativos.
Pets ainda são importantes para o bem-estar emocional?
Cães e gatos seguem desempenhando um papel significativo no apoio emocional, ajudando no combate à solidão, depressão e estresse, além de promoverem vínculos afetivos profundos.
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