Cláudia Guimarães, da redação
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Cada vez mais habituados a viver em cidades, com rotinas frenéticas e perdidos nas telas dos celulares, muitas vezes, nós, seres humanos, esquecemos que também somos animais, que fazemos parte de um sistema complexo, que coexistimos em uma relação mútua que envolve as pessoas, os animais e o ambiente. Neste contexto, surge a curiosidade e fascínio pelos animais e muitas pessoas buscam, em momentos de lazer, turismo com animais selvagens.
O gerente de Campanha de Vida Silvestre da Proteção Animal Mundial, David Maziteli, comenta que vivemos próximos da natureza por muitíssimo mais tempo em comparação ao que vivemos no ambiente urbano. “O desejo de aproximação dos animais atua nesse nível instintivo, de religação com a natureza, de proporcionar uma experiência espiritual de completude que mal conseguimos descrever com palavras”, avalia.
Maziteli menciona os locais em que mais ocorre a exploração de animais. “Vale lembrar, aqui, que há países que, porque possuem abundância, diversidade e peculiaridade da fauna, historicamente servem polos para a exportação legal ou ilegal de espécies que acabam servindo para fins de entretenimento. Basta pensar na quantidade de tigres, ursos e elefantes espalhados pelo mundo, fora de seus habitats originais, sendo utilizados em shows e espetáculos”, menciona.
Mas, considerando o contexto do turismo, o profissional declara que a exploração pode acontecer porque as atividades em natureza não estão parametrizadas ou fiscalizadas para evitar prejuízos aos habitats e aos animais. “Ou porque se admite situações de caça, criação e manutenção de animais em cativeiro, o mapa de exploração é bem mais generalizado. O problema é, de fato, global”, pondera.
Em termos de espécies, Maziteli afirma que o mais comum é que a exploração aconteça com elefantes, orcas, golfinhos, ursos, primatas e grandes felinos, como leões, tigres e leopardos. “Mas não podemos minimizar o fato de que há, ainda, toda uma sorte de abusos, com espécies variadas da vida silvestre, que podem ocorrer para entretenimento humano, e que podem ser enquadradas, eventualmente, como turismo. Neste caso, devemos pensar em atividades de exibição, de confronto ou performance (corridas, lutas, rinhas, competições de canto), de manuseio, toque, montaria, nado, alimentação ou de uso de animais silvestres para selfies”, elenca.
Uso de animais em turismo: é maus-tratos?
A visão da Proteção Animal Mundial, segundo o porta-voz, é a de que todo animal silvestre deve ter direito a uma vida em liberdade, isenta de qualquer tipo de exploração comercial, em habitats naturais preservados. “Animais silvestres não são entretenimento. Não devem ser ‘utilizados’, seja como atores, cantores, palhaços, competidores, influencers de redes sociais com vestimentas e comportamentos humanizados, como adereços para fotografias, como fonte de alimento, medicação, curandeirismo, matéria-prima para roupas ou enfeites ou, ainda, tratados como animais domésticos de estimação”, salienta.
O profissional reitera que os animais silvestres devem ser respeitados. “E nós, humanos, é que podemos nos entreter com a beleza e os comportamentos naturais deles, expressados de forma livre. Nesse sentido, a atividade turística positiva com vida silvestre deve ser aquela em que ocorre uma observação distanciada e respeitosa, que não implique em impactos para o bem-estar dos indivíduos, que contribua para a preservação dos ambientes, que promova um envolvimento autêntico, justo e saudável das comunidades locais, de forma a resultar numa verdadeira celebração do patrimônio natural”, explica.
Iniciativa de combate
A Proteção Animal Mundial trabalha ativamente à frente de campanhas para acabar com essas práticas negativas aos animais. “Dentro da campanha ‘Silvestre. Não entretenimento’, atualmente, temos em curso uma campanha global para conscientizar as pessoas por um turismo mais responsável e para mover as empresas do setor. Queremos que elas acabem de vez com a exploração comercial de vida silvestre no setor e direcionem suas ofertas para atrativos e experiências realmente sustentáveis”, compartilha.
Neste trabalho, a entidade lançou, recentemente, o relatório “De Olho na Indústria do Turismo – Responsabilidade com a Vida Silvestre: Brasil”. O levantamento avaliou as atuações de oito grandes nomes do turismo (sendo dois de atuação específica no Brasil/América Latina) e apontou que muitas seguem negligenciando ou continuam lucrando com produtos que submetem animais selvagens a uma vida de sofrimento, no Brasil ou no exterior. “Isso inclui shows com baleias e golfinhos, nado com botos e montarias em elefantes. Vendendo esses ingressos, empresas mantêm aquecida a demanda por experiências inadequadas com animais silvestres”, denuncia.
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