Muito se fala sobre bem-estar e qualidade de vida dos animais, que, aliás, são itens importantíssimos. Mas, além dos cães e gatos, quem cuida deles, ou seja, os médicos-veterinários também merecem cuidados e é sobre isso que falaremos, dentro da campanha Janeiro Branco, que destaca o tema saúde mental.
Estes profissionais lidam constantemente com demandas emocionais e sofrem com problemas de saúde mental, isso porque, segundo a psicóloga e professora com experiência na área de saúde mental na Medicina Veterinária, como presidente da Associação Brasileira em prol da Saúde Mental na Medicina Veterinária (Ekôa Vet), Dra. Bianca Gresele, o estresse crônico e, por vezes, até mesmo a ideação suicida, está presente no dia a dia dos veterinários.
“Promover uma maior conscientização sobre a importância do autocuidado, de pedir ajuda e de buscar apoio psicológico é essencial, especialmente considerando a resistência e a dificuldade que muitos profissionais ainda enfrentam. Isso é fundamental para que possamos romper os estigmas e tabus que persistem em torno dessa temática nesse ambiente”, comenta a profissional.
Os médicos veterinários lidam com diversos fatores estressores em sua rotina. “De acordo com as pesquisas que realizei nos últimos anos no Brasil, os principais fatores estressores mencionados foram: o desgaste emocional gerado pelos atendimentos, atender clientes emocionalmente abalados, equilibrar a vida pessoal com a profissional, perder pacientes e, também, não podemos esquecer da desvalorização da profissão, ou seja, pouco reconhecimento e baixa remuneração. A maioria dos veterinários ganha pouco”, menciona.
Apoio é essencial!
Bianca declara que a maioria das empresas, das clínicas e dos hospitais tende a não ter um espaço seguro para falar sobre as demandas emocionais que os médicos-veterinários lidam, assim como, também não possui um psicólogo como parte da equipe. “Um psicólogo seria essencial para dar suporte, ajudando esses médicos-veterinários e as demandas com os tutores”, avalia.
No entanto, a psicóloga indica que muitos profissionais, devido à natureza da sua profissão ou até à pressão constante pela qual passam e vivenciam, podem sentir que pedir ajuda, pensando em saúde mental, pode comprometer sua imagem de competência e de profissionalismo. “Isso ocorre especialmente, com os homens, por questões culturais e de gênero”.
Ou seja, muitas pessoas têm uma percepção errônea de que procurar tratamento psicológico seja sinônimo de fraqueza, um sinônimo de profissionais que não são bons. “Para que possamos lidar com esse estigma, é fundamental promover cada vez mais a normalização da saúde mental dentro da profissão, por meio de campanhas educativas, apoio institucional, projetos que visem a criação de espaços seguros para discussões abertas, como grupos de apoio entre os veterinários e programas de bem-estar profissional, a fim de reduzir esse estigma e incentivar cada vez mais a busca por ajuda de forma mais natural e aceitável”, destaca a psicóloga que defende que as campanhas como o Janeiro Branco contribuem para que o assunto venha mais à tona.
Campanhas como essa, segundo Bianca, ajudam a dar uma maior visibilidade às questões de problemas de saúde mental, como o burnout e a fadiga por compaixão, que, no caso dos médicos-veterinários, afeta diretamente o bem-estar desses profissionais e, também, a qualidade do atendimento. Contudo, a psicóloga ressalta que este é um assunto que deve ser falado durante o ano inteiro, e não somente durante essas campanhas. Além disso, o assunto deve de saúde mental deve sempre ser abordado por um profissional preparado para isso, com formação adequada, para que seja tomado os devidos e necessários cuidados.
Livro sobre a temática
Pensando nisso, Bianca e a também psicóloga Anna Laura Leal, com o apoio da Vetnil, irão lançar o livro “Saúde mental na Medicina Veterinária: Um olhar multidisciplinar”. A obra foi motivada, principalmente, pela falta de material sobre saúde mental na profissão.
“Será o primeiro livro e esperamos que tenhamos outros, é claro. Trata-se de um livro destinado principalmente a profissionais da Medicina Veterinária e Psicologia, para que possam entender o que, de fato, é saúde mental na veterinária, quais são todos os temas que estão em torno deste eixo, e o que temos de pesquisas no Brasil até o momento. Então, o principal objetivo é trazer conhecimento respaldado por profissionais que são referências no Brasil. Teremos autores que foram escolhidos porque são professores, pesquisadores, psicólogos e veterinários com muita expertise e com muita experiência nos temas”, compartilha.
Os capítulos foram escritos e todos fundamentados com referências bibliográficas. “Serão abordados diversos tópicos, tais quais: família multiespécie, saúde mental na veterinária, fatores de risco e fatores de proteção, síndrome de burnout, fadiga por compaixão, o processo de luto, comunicação de más notícias, cuidados paliativos, transtorno de acumulação, questões emocionais em torno da eutanásia, entre outros”, revela a psicóloga.
Sobre a parceria com a Vetnil, Bianca afirma que essa é uma empresa que já está envolvida em projetos em conjunto há três anos, sendo parceira da Ekôa Vet. “Essa parceria nasceu de um convite, que deu origem à ideia do livro. Assim, pensamos em convidar a Vetnil para se tornar nossa parceira e patrocinadora do projeto, proposta que foi prontamente aceita”, conta.
Todos os envolvidos na publicação do livro esperam que o material promova maior conscientização e facilite o acesso a temas essenciais. “Espero sinceramente que as pessoas se sintam motivadas a adquirir o livro, pois ele poderá ajudar os profissionais a aprimorarem não apenas suas habilidades técnicas, mas também suas competências interpessoais, sua resiliência e a qualidade de suas relações. A saúde mental abrange todos os aspectos da vida — pessoal e profissional — e é fundamental que, cada vez mais, possamos conscientizar a classe, tanto individual quanto coletivamente, sobre a importância de abordar esse tema”, destaca a profissional.
Em breve, o livro estará disponível para que os interessados possam adquirir. Para mais informações, entrem em contato com Bianca e Anna pelas suas redes sociais, e também pela rede da Ekôa Vet.
FAQ
Por que a saúde mental é tão importante para os médicos-veterinários?
Os médicos-veterinários enfrentam desafios emocionais intensos, como lidar com tutores abalados, perdas de pacientes e a pressão constante de equilibrar a vida pessoal e profissional. Além disso, problemas como desvalorização da profissão e baixa remuneração agravam o estresse.
Quais ações podem ser tomadas para melhorar o bem-estar emocional dos veterinários?
Algumas ações incluem a criação de grupos de apoio, implementação de programas institucionais de bem-estar, integração de psicólogos nas equipes e campanhas educativas para combater o estigma relacionado à saúde mental.
O que o livro “Saúde mental na Medicina Veterinária: Um olhar multidisciplinar” aborda?
O livro, organizado por Bianca Gresele e Anna Laura Leal, é o primeiro no Brasil a tratar exclusivamente da saúde mental na Medicina Veterinária. Ele cobre temas como burnout, fadiga por compaixão, cuidados paliativos, luto, comunicação de más notícias e questões emocionais relacionadas à eutanásia.
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