Os cães, além de serem bons amigos dos homens, também podem desempenhar papéis importantes para a sociedade, como é o caso dos cães militares. Conversamos com a Cap. Priscilla Alves dos Santos, médica-veterinária e chefe da Seção de Cães de Guerra do Batalhão de Polícia, do Exército de Brasília, “Batalhão Brasília”, que compartilha como se dá o treinamento desses animais.
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Segundo ela, a seleção dos cães é baseada em critérios de temperamento, aptidão física, agressividade controlada, capacidade olfativa e resistência. “A Norma para Controle de Caninos do Exército Brasileiro (NORCCAN) preconiza o uso das raças Pastor Alemão, Pastor Belga Malinois, Rottweiler e Labrador para trabalho nos canis militares. Aqui no BPEB, trabalhamos com cães das raças Pastor Alemão e Pastor Belga Malinois devido à sua inteligência, resistência e versatilidade”, compartilha.
Após escolhidos os cães, a socialização inicia-se desde filhotes, expondo-os a diferentes ambientes, ruídos, superfícies, pessoas e outros animais. “Isso garante que os animais desenvolvam confiança e resiliência para atuar em diversos ambientes operacionais”, comenta.
Fases de treinamento
Os cães do exército passam por diversas fases de treinamento, desde filhotes até sua reforma, como explicado pela capitão. “A primeira fase do treinamento começa com a seleção e socialização do filhote, após o período de socialização, que ocorre entre as três e 16 semanas de idade (quatro meses), sendo esta mantida de forma gradual até os 10 a 12 meses de idade do cão”, informa.
Após essa fase, é iniciado o treinamento básico, que envolve obediência, controle e ambientação. “Nessa fase, estimulamos, também, o seu instinto de caça e o interesse pelo brinquedo”, declara.
A próxima fase é a iniciação ao trabalho específico, onde o cão é treinado conforme a função que ele irá desempenhar. “Aqui no BPEB, são: faro de entorpecentes, faro de explosivos, faro de armamentos e munições, patrulhamento e proteção”, enumera a capitão.
Os animais passam por avaliações internas, realizadas pela equipe de instrutores do Grupo de Intervenção com Cães do BPEB. “Além disso, alguns de nossos cães são certificados pela Associação Sul-Americana de Cães de Trabalho, o que traz confiança e credibilidade para nossos cães”, declara a Cap. Priscilla.
Em todas as fases de treinamento e de vida dos cães, eles passam por avaliações criteriosas de saúde. “Aqui, realizamos avaliação médico-veterinária semanal e exames periódicos, monitoramento de comportamento e acompanhamento por especialistas. Temos uma equipe de oito médicos-veterinários, dentre eles especialistas em patologia clínica, clínica médica e cirurgia de pequenos animais, ortopedia, anestesia e comportamento animal. Contamos, também, com uma clínica veterinária estruturada, que oferece atendimento ambulatorial, cirurgias, exames laboratoriais e exames de imagem, como ultrassonografia e raio X”, revela.
Relação de respeito
A capitão conta que cada cão tem seu condutor específico, responsável não somente pelo treinamento e condução, mas, também, pelo manejo, higiene, rotina de alimentação e lazer. “Todo esse cuidado é importante para a formação do vínculo entre cão e condutor, o que chamamos de construção do binômio. Esse vínculo, construído ao longo do tempo, garante a eficiência do trabalho do cão. Esse relacionamento é essencial para garantir não apenas o desempenho do cão, mas, também, sua segurança e bem-estar ao longo da vida de trabalho”, avalia.
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São com seus condutores que os cães enfrentam desafios durante os treinamentos que incluem adaptação ao ambiente operacional, controle de instintos e resistência física. “Eles são superados com treinamento constante e seleção criteriosa”, garante Cap. Priscilla.
Após efetivos oito anos de serviço ao País, os cães do Exército recebem a aposentadoria, podendo descansar em um lar amoroso e feliz. “Os cães podem ser adotados por seus condutores ou por famílias previamente cadastradas, garantindo uma transição segura para a vida civil. Essa passagem para a aposentadoria não necessariamente acontece aos oito anos, podendo ser antecipada conforme avaliação do médico-veterinário”, destaca.
Cap. Priscilla ainda salienta que o emprego dos cães militares é fundamental para a segurança e é uma ferramenta valiosa nas operações militares. “Esses animais possuem habilidades que os tornam insubstituíveis em diversas operações, sendo uma ferramenta de emprego efetiva e de grande importância para as forças de segurança e militares. Seu treinamento e cuidado refletem o compromisso da instituição com a excelência e o bem-estar animal”, conclui.
FAQ
Quais são os critérios para a seleção dos cães militares?
Os cães militares são selecionados com base em critérios como temperamento equilibrado, resistência física, agressividade controlada e alta capacidade olfativa. No Exército Brasileiro, as raças mais utilizadas são Pastor Alemão, Pastor Belga Malinois, Rottweiler e Labrador.
Como é feito o treinamento dos cães militares?
O treinamento começa desde filhotes, com socialização intensa em diferentes ambientes. Entre as três e 16 semanas de vida, os cães são expostos a estímulos diversos para desenvolver confiança. Depois, passam pelo treinamento básico de obediência e, posteriormente, são preparadas para funções específicas, como faro de entorpecentes, explosivos, armas e munições, além de patrulhamento e proteção.
O que acontece com os cães militares após a aposentadoria?
Após cerca de oito anos de serviço, os cães militares se aposentaram e podem ser promovidos por seus motoristas ou por famílias previamente cadastradas.
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