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Clínica e Nutrição, Destaques

Veterinárias comentam critérios a serem seguidos em reprodução de animais

Por Equipe Cães&Gatos
Por Equipe Cães&Gatos

Cláudia Guimarães, em casa

claudia@ciasullieditores.com.br

Em teoria, muito se fala sobre a importância de adotar animais de estimação ao invés de comprá-los. No entanto, sabemos que a procura por raças específicas de cães e gatos ainda é grande e, sendo assim, a melhor forma de evitar problemas é procurando locais apropriados e que garantem uma reprodução de boa qualidade e sem riscos à fêmea e aos filhotes.

A médica-veterinária e pesquisadora, que atua no Departamento de Cirurgia Veterinária e Reprodução Animal, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, da Universidade Estadual Paulista (FMVZ-Unesp, Botucatu-SP), Fabiana Ferreira de Souza, explica que a seleção dos animais destinados à reprodução é feita pelo proprietário do canil e o médico-veterinário tem pouca influência na escolha de reprodutores, salvo algumas exceções.

Segundo a profissional, alguns critérios deveriam ser seguidos por todos os canis, a fim de garantir filhotes saudáveis. O primeiro deles é a capacidade de acasalar sem a interferência de um veterinário: “Durante o acasalamento, algumas raças braquicefálicas (focinho achatado) e acondroplásicas (patinhas curtas), especialmente, que incluem o Bulldogue Francês, Bulldogue Inglês, Pug, Pequinês, Dogue de Bordeux, Boston Terrier, West Highland White Terrier, Terrier Escocês, Basset hound, Welsh Corgi, Spitz, entre outras, possuem dificuldade na cobertura e as fêmeas devem ser inseminadas. Se executada por um veterinário, a inseminação, de certa maneira, é até uma forma segura de impedir a transmissão de doenças da fêmea para o macho. Contudo, nestas raças, a inseminação é quase sempre obrigatória e, muitas vezes, realizada pelo proprietário do canil, o que, além de ser um exercício ilegal, é um risco, já que não tem conhecimento da fisiologia básica para executar o procedimento”, denuncia.

Portanto, Fabiana reforça a importância de o parto ocorrer naturalmente. “Neste quesito, há o comprometimento da qualidade de vida das fêmeas e dos filhotes. As mesmas raças citadas anteriormente podem ser consideradas neste ponto. Uma matriz reprodutora deve ter condições de iniciar e terminar o parto. Se isto não ocorre, a mesma deve ser retirada da reprodução, o que, normalmente, não é feito por muitos proprietários de canis, exceto raras exceções”, menciona.

Selecionar fêmeas para reprodução que tenham partos naturais é uma maneira de aprimorar as raças, visando as características genotípicas e não apenas fenotípicas, como explicado pela profissional. “Além disso, devemos nos preocupar com o bem-estar das fêmeas submetidas a cesariana em todas as gestações. Algumas delas são capazes de evoluir para um parto natural, mas, muitas vezes, o início do parto não é aguardado e a cesariana eletiva é realizada. Além de excluir da reprodução as fêmeas que apresentam distocia, também pode ser uma alternativa a avaliação da conformação óssea da pelve, o que indica se há a possibilidade de a fêmea ter um parto natural”, discorre.

“Ninguém deve ser impedido de ter um cão de raça, mas deveriam existir normas de criação responsável”, declara veterinária (Foto: reprodução)

Evitando doenças e cruzamento entre parentes

A médica-veterinária também docente no Departamento de Cirurgia Veterinária e Reprodução Animal (FMVZ-Unesp), Laíza Sartori de Camargo, também chama atenção para a identificação de doenças hereditárias. “Os criadores de cães devem ter a preocupação de excluir qualquer reprodutor que possa transmitir doenças de caráter hereditário para sua progênie. Destacam-se, entre estas doenças, o criptorquidismo, hérnias umbilicais, displasia do coxal, displasia do cotovelo, luxação de patela, atrofia progressiva da retina, prolapso da glândula da 3ª pálpebra (cherry eyes), fenda palatina, lábio leporino, epilepsia, hipotireoidismo, doenças de pele, algumas neoplasias, entre muitas outras”, enumera e declara que muitas dessas doenças comprometem a qualidade de vida do animal, podem causar dor e, em muitos casos, não há tratamento adequado.

Laíza também informa que é indispensável evitar a consanguinidade, ou seja, de animais membros da mesma família. “O acasalamento consanguíneo ou endogâmico ou, ainda, do inglês inbreeding, é uma modalidade que acelera a prepotência de características fenotípicas, mas pode levar a depressão endogâmica em consequência da homozigose. É o acasalamento de indivíduos com parentesco muito próximo, como pai e filha, mãe e filho ou irmãos inteiros. O coeficiente de consanguinidade (COI) é a probabilidade de herdar duas cópias do mesmo alelo de um ancestral (genes idênticos por descendência) ou a porcentagem de genes homozigotos de um indivíduo. Este coeficiente pode ser calculado e a cada ponto para cima do COI há um ponto para baixo da capacidade reprodutiva e da sobrevida (aparecimento de alterações congênitas e/ou heriditárias, aumento da mortalidade neonatal etc.)”, esclarece.

A veterinária ainda exemplifica que, no acasalamento de irmãos inteiros, o COI é de 25%, se não houver consanguinidade nos ancestrais. “Assim, há o risco de redução de 25% da capacidade de se reproduzir e de sobreviver, normalmente em decorrência de doenças causadas por genes recessivos. Para preservar a saúde dos animais e evitar prejuízos na criação, a consanguinidade deve ser evitada e é condenada pela Confederação Brasileira de Cinofilia (CBKC) par o registro de cães”, aponta.

A sanidade é outro ponto essencial para a escolha do reprodutor, conforme lembra a veterinária Fabiana. “Todos os cães devem ser testados, anterior ao acasalamento, para doenças que podem ser transmitidas pela cobertura. As principais são: brucelose, leptospirose e herpesvirose. A brucelose e a leptospirose são consideradas zoonoses. Ainda sobre o manejo sanitário, devemos considerar a vacinação anual para prevenção de outras doenças e manter uma titulação de anticorpos adequada nas matrizes para que sejam passados para os filhotes durante as primeiras horas de lactação”, salienta.

Segundo Fabiana, nos cães, o tipo de placenta não permite a passagem de alta quantidade de anticorpos, fazendo do colostro a principal maneira de aquisição de imunidade passiva pelos filhotes. “Filhotes que não ingeriram o colostro morrem em poucos dias após o nascimento. Outro fator relacionado à sanidade é a necessidade de um local de quarentena e maternidade nos canis, o que pode impedir a disseminação de doenças entre os adultos e os filhotes”, cita.

A veterinária Laíza lembra de outro ponto importante para a reprodução de animais: o manejo executado no canil. “Criadores devem considerar o uso de ração de alta qualidade (super premium). Apesar de não ser necessário grande quantidade de energia para produzir os gametas, a gestação (terço final) e, especialmente, a lactação demandam mais energia e o oferecimento de alimento deve ser incrementado. Também é importante não utilizar fórmulas mirabolantes para suplementação das fêmeas gestantes, já que a alimentação comercial é completa, desde que seja de boa qualidade”, orienta.

A profissional considera importante ressaltar que, em humanos, é utilizada a suplementação porque temos o livre arbítrio de comer o que queremos. “Além disso, suplementar com ácido fólico é válido para humanos, mas, em animais, não há nenhum estudo que comprove a eficácia da suplementação. Ademais, o ácido fólico é, popularmente, recomendado para evitar a fenda do palato e o lábio leporino, contudo, estas alterações são consideradas de caráter hereditário em 50% dos casos, o que não resolveria o uso de qualquer tratamento”, argumenta.

A seleção de animais reprodutores pode contribuir para produção de filhotes sem problemas que poderiam prejudicar sua saúde (Foto: reprodução)

O risco da busca por determinadas raças

Fabiana revela que as raças braquicefálicas e acondroplásicas são as mais procuradas para compra e as mais propensas à inseminação artificial e terem problemas durante o parto. “A inseminação artificial não traz riscos à saúde do animal, desde seja conduzida por um médico-veterinário especializado. Quanto à cesariana, nestas raças, o ideal é avaliar as chances de distocia (dificuldade no parto) pela pelvimetria (formato e dimensões da pelve), a fim de eliminar da reprodução as fêmeas que possam ter problemas durante o parto. Além disso, as fêmeas gestantes devem ser acompanhadas, desde a inseminação artificial, até o parto, para determinar diferentes parâmetros e não excluir a possibilidade de comprometimento da vida dos fetos e da fêmea”, recomenda.

O acompanhamento da fêmea, de acordo com Fabiana, inclui a determinação da data prevista do parto, que pode ser realizada pela determinação da onda pré-ovulatória do hormônio luteinizante – LH, pela ovulação (dosagem de progesterona sérica) ou pela identificação do 1º dia do diestro (citologia vaginal). “Estes parâmetros ajudam o clínico a determinar o dia previsto do parto. Também, o acompanhamento da gestação é essencial e pode identificar anomalias e o início do trabalho de parto”, adiciona.

Laíza afirma que a seleção de animais reprodutores, visando o genótipo, pode contribuir para produção de filhotes sem problemas que poderiam prejudicar sua saúde, a sobrevida e a reprodução do animal quando adulto. “A falta de seleção dos padreadores também pode produzir filhotes com ‘defeitos’, prejudicando o bem-estar desses animais”, expõe.

A fêmea também pode sofrer graves consequências com uma reprodução que não siga os critérios recomendados, conforme destacado por Laíza: “Quando um procedimento não é bem executado pode comprometer a saúde geral e reprodutiva da fêmea. Exemplo disso é a inseminação artificial ou cesariana executada por pessoas não habilitadas que podem levar a ovariohisterectomia, em vista da contaminação uterina, além de resultar em um ciclo estral sem resultados positivos”, lamenta.

Ainda dentro do tema, questionamos às profissionais sobre o movimento americano que visa o fim da reprodução de braquicefálicos, o Vets against brachycephalism” (Veterinários contra braquicefalismo). “Em nossa opinião, enquanto médicas-veterinárias, a reprodução de braquicefálicos poderia ser melhorada se os padreadores fossem selecionados. Lógico que teríamos uma raça com características diferenciadas, com focinhos mais longos, sem dificuldades respiratórias, no acasalamento ou parto, mas com toda doçura dos braquicefálicos. O que deveria ser impedido é a formação de novas raças, cada vez mais estranhas e com características similares a uma má-formação em que irá prejudicar a qualidade de vida dos animais”, consideram.

As profissionais ainda declaram que não são contrárias à compra de um animal de raça, assim como se faz com outras espécies. “Ninguém deve ser impedido de ter um cão de raça, mas deveriam existir normas de criação responsável, tanto para canis, como para os compradores. Também deveriam ter regras mais rígidas para o abandono de animais, sejam cães, gatos ou outras espécies. Além disso, existem raças que desempenham funções específicas em nossa sociedade, tais como: cães guias e cães farejadores que auxiliam profissionais na segurança e no combate ao tráfico de drogas e animais silvestres, repressão em presídios, cães de pastoreio para o manejo para animais de produção”, finalizam.