Os cães e gatos domésticos podem desenvolver uma condição chamada de “Síndrome da Disfunção Cognitiva”, muito similar ao Alzheimer humano. Quem explica mais sobre o assunto é o médico-veterinário e coordenador do curso de Medicina Veterinária, da Universidade Anhanguera de São Paulo, Frederico Fontanelli Vaz.
Segundo o profissional, com o avanço na nutrição, manejo e Medicina Veterinária de cães e gatos, esses animais passaram a ter maior longevidade e, com a idade avançada, surgiram, também, as condições senis. “No caso da Síndrome da Disfunção Cognitiva, os animais desenvolvem uma desordem neurodegenerativa e lentamente manifestam sinais progressivos de alteração mental e demência”, afirma.
Por se tratar de uma condição neurodegenerativa relacionada à idade, a síndrome acomete, geralmente, animais idosos, principalmente cães com mais de 8 anos de idade. “Estudos mostram prevalência de 28% em cães com 11 a 12 anos e 68% em cães com 15 a 16 anos de idade. A prevalência em gatos com 11 a 14 anos pode chegar a 28%, e 50% em gatos com 15 anos de idade”, menciona o veterinário.
Sinais clínicos
Quando acometidos pela síndrome, de acordo com Vaz, os cães, geralmente, manifestam confusão, ansiedade, distúrbio no ciclo sono-vigília, desatenção, inatividade, andar compulsivo (especialmente à noite), demência, incontinência fecal ou urinária. “Além disso, os animais ainda podem apresentar dificuldade em subir escadas, incapacidade de reconhecer pessoas e animais familiares, diminuição da interação com a família e vocalização excessiva (especialmente à noite)”, elenca.
Quando a síndrome acomete os gatos, os sinais são parecidos com os apresentados pelos cães: desorientação espacial ou temporal; alterações nas interações entre o pet e seus tutores ou outros pets; alterações no ciclo sono-vigília; alteração nos locais de evacuação, entre outros. “Tanto para cães como para gatos, um dos sinais clínicos da Síndrome da Disfunção Cognitiva é a incapacidade dos animais em reconhecer seus tutores”, informa.
Vaz comenta que, na maioria dos casos, o diagnóstico da síndrome é desafiador, feito com base nos sinais clínicos, exame clínico e histórico consistente com a condição. “Há testes comportamentais muito úteis sendo desenvolvidos para mensurar a habilidade cognitiva dos pets e determinar alguns déficits. Além disso, o exame de ressonância magnética está em avanço na Medicina Veterinária e seria uma ferramenta útil, porém, poucos tutores optam por realizá-la, pelo custo e preocupações com a anestesia e seus efeitos no animal geriátrico”, conta.
É possível evitar?
Existem formas para tentar diminuir a probabilidade de o animal desenvolver a síndrome com o avanço da idade, como comentado pelo profissional: “Desde pequeno, o tutor deve fornecer ao pet um ambiente enriquecido, com oportunidades de exploração, exercícios, novidades, brinquedos que o estimulem, além de promover uma dieta adequada, indicada por um médico-veterinário, evitando fornecer ao bichinho alimentos processados, ricos em açúcar e gordura”, recomenda.
Ainda, a dieta e suplementos dietéticos têm impacto no desenvolvimento e progressão do declínio cognitivo. “Alguns fatores alimentares de risco foram identificados em humanos, e acredita-se que podem ser estendidos aos animais. É reportado na literatura que carne vermelha, frango, açúcar refinado, alimentos processados e com alto teor de gordura podem contribuir para o declínio cognitivo”, acrescenta Vaz.
O docente ainda comenta que animais domésticos sedentários ou que permanecem muito tempo presos, pouco estimulados, entediados e com pobre enriquecimento ambiental durante a vida também podem se tornar mais propensos ao desenvolvimento da síndrome com a idade avançada. “Todos os animais precisam de exercício regular, interações sociais e estímulos com atividades e objetivos que promovam brincadeiras e exploração do ambiente, como escaladas e novas maneiras de obter alimentos, por exemplo”, esclarece.
Outros fatores de risco citados, além da idade avançada, incluem sexo e porte do animal, segundo o veterinário. Cadelas têm maior risco de desenvolverem a síndrome, assim como cães de pequeno porte.
A síndrome da disfunção cognitiva não tem cura, mas o veterinário explica que os avanços da ciência permitem melhor manejo do animal para tentar diminuir o impacto dos sinais clínicos no seu bem-estar e no bem-estar dos tutores.
“No ambiente, enriquecimentos cognitivos podem ser utilizados, como exercícios regulares, interações sociais e fornecimento de novidades aos pets. Na alimentação, podem ser adicionados suplementos antioxidantes, probióticos, triglicerídeos de cadeia média, vitaminas B, C, E, ômega 3, carotenoides, peixes, entre outros. Medicamentos podem ser utilizados para diminuir sinais clínicos de ansiedade e ciclos sono-vigilância anormais, como os ansiolíticos e a melatonina. O uso de Selegilina tem se mostrado eficaz na melhoria das funções cognitivas dos cães e retardo na progressão dos sinais clínicos, porém, os resultados apresentam variabilidade de acordo com o paciente”, finaliza.
Fonte: AI, adaptado pela equipe Cães&Gatos VET FOOD.
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